Descrição de chapéu talibã Ásia terrorismo

Talibã diz ter conquistado último bolsão de resistência no Afeganistão

Porta-voz de grupo no vale de Panjshir diz à Folha que ainda acredita em negociação

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São Paulo

O grupo fundamentalista islâmico Talibã afirmou ter conquistado a área que ainda não estava sob seu domínio no Afeganistão, o vale de Panjshir.

A informação foi dada à agência de notícias Reuters por três autoridades talibãs em Cabul. Na capital, foram registrados tiros e fogos de artifício em celebração pela suposta conquista, assim como em relatos no Facebook de grupos de apoio aos novos donos do Afeganistão.

Soldados da resistência contra o Talibã treinam na região de Malimah, no vale do Panjshir
Soldados da resistência contra o Talibã treinam na região de Malimah, no vale do Panjshir - Ahmad Sahel Arman - 2.set.21/AFP

Em um vídeo enviado à rede BBC, um dos líderes da chamada Frente Nacional de Resistência, o ex-vice-presidente Amrullah Saleh, disse que "sem dúvida estamos numa situação difícil, sob invasão do Talibã, mas nós mantivemos nosso território e resistimos".

Parece pouco provável. Em uma mensagem passada à Folha por um ex-funcionário do Ministério das Relações Exteriores afegão, um porta-voz da Frente admite que o grupo está debilitado e pede que as negociações com o Talibã sejam reiniciadas.

Após negociações fracassadas, o grupo reiniciou sua ofensiva na bem protegida região, 100 km a nordeste de Cabul e cercada de picos do Hindu Kush, na quinta (2). "Nós vamos nos defender de qualquer modo. Toda evidência aponta para guerreiros estrangeiros de grupos terroristas que se uniram ao Talibã neste ataque. Eles optaram por agredir, embora a porta da negociação esteja aberta", disse o comunicado.

O Talibã conquistou todo o Afeganistão, exceto Panjshir, em uma ação avassaladora que durou duas semanas e acabou com a tomada de ​Cabul no dia 15 de agosto.

Ninguém sabe quantos soldados, a maior parte integrantes de forças especiais do antigo Exército afegão, estão no vale —uma região tradicionalmente anti-Talibã, tanto que nunca se rendeu na primeira vez em que o grupo fundamentalista esteve no poder (1996-2001).

Seja como for, a Frente não parece ter força militar para enfrentar o Talibã, ainda mais em sua versão anabolizada com armas apreendidas do Exército e dos EUA.

A vitória em Panjshir, se consumada, coloca o Talibã na posição final de único poder no Afeganistão, facilitando sua interlocução com potências estrangeiras que já estão de olho em algum tipo de acomodação.

O preço cobrado no exterior até aqui é a moderação em questões de direitos humanos, em especial das mulheres, e outros pontos que foram atacados de forma violenta pelo Talibã no seu governo anterior —derrubado pelos EUA por ter abrigado a Al Qaeda, que executou os ataques do 11 de Setembro em 2001.

O Talibã sustenta que manterá uma linha moderada, algo que enfrenta teste de realidade: relatos de perseguição de adversários se misturam à permissão para protestos de mulheres em Cabul.

Vinte anos depois, os americanos se retiraram do Afeganistão e, diferentemente do que ocorreu na sua invasão, não deram apoio aos rebeldes do Panjshir. O líder militar de agora é o filho do comandante daquela época, ambos chamados Ahmad Massoud.

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