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Aliado de Maduro extraditado aos EUA diz que não vai colaborar com Justiça americana

Em pronunciamento oficial, ditador venezuelano criticou prisão de acusado de corrupção

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Caracas | AFP

Extraditado no sábado (16) aos Estados Unidos, onde responde a processo por corrupção, o empresário colombiano Alex Saab, considerado testa de ferro do ditador venezuelano Nicolás Maduro, afirmou em carta que não tem "nada a colaborar" com a Justiça americana.

"Enfrentarei [o processo] com total dignidade. Quero deixar claro que não tenho nada a colaborar com os Estados Unidos, não cometi nenhum delito", disse, de acordo com carta lida pela esposa do empresário, Camilla Fabri, em protesto em Caracas contrário à prisão, ao qual compareceram cerca de 300 pessoas.

O ditador Nicolás Maduro chegou a ir à TV estatal venezuelana neste domingo para criticar o processo. Para o chavista, trata-se de "uma das injustiças mais ignóbeis e vulgares cometidas no mundo nas últimas décadas", afirmou em pronunciamento.

Manifestantes com cartazes em apoio ao empresário Alex Saab durante protesto em Caracas
Manifestantes com cartazes em apoio ao empresário Alex Saab durante protesto em Caracas - Federico Parra/AFP

O empresário de 49 anos e seu sócio Álvaro Pulido, cujo paradeiro é desconhecido, são acusados nos Estados Unidos de dirigir uma rede que explorava um programa de distribuição de comida na Venezuela.

Eles são suspeitos de transferir cerca de US$ 350 milhões (R$ 1,9 bilhão) para contas que controlavam no território americano e em outros países e podem ser condenados a até 20 anos de prisão.

Acusado de lavagem de dinheiro em 2019 em Miami, Saab foi preso em junho do ano passado em Cabo Verde, durante a escala em um voo. Ele será levado para depor em um tribunal nesta segunda-feira (18), na Flórida, informou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Existe a expectativa de que, na prisão, o empresário possa "revelar informações sobre subornos, rotas por onde se movimentava dinheiro e sobrepreços" que envolvem o governo Maduro, disse o jornalista Roberto Deniz, que investigou o caso Saab e hoje é procurado na Venezuela por "incitação ao ódio". "[Saab] foi o intermediário de muitos dos negócios que o regime de Nicolás Maduro fez com países aliados", afirma.

Segundo ele, nunca a ditadura venezuelana fez tanto por alguém. O governo tentou libertar o empresário uma série de vezes, afirmando que o colombiano sofria maus tratos e tortura na prisão.

No discurso feito neste domingo, Maduro afirmou que o país “está se movimentando na ONU, em Nova York, em Genebra, nos órgãos de defesa dos direitos humanos" para resolver o "sequestro" do empresário. "Levaram Saab sem avisar os advogados, a família, ninguém. Um sequestro na linha dos Estados Unidos.”

A esposa do empresário disse que soube pela cunhada do processo de extradição de Cabo Verde para os EUA, uma ação feita "pelas costas dos advogados e pelas nossas costas", disse. "Um guarda disse simplesmente à irmã dele: 'Aceleraram a extradição'", afirmou.

No sábado, o regime de Maduro anunciou que interromperia o diálogo com a oposição do país, que estava previsto para ser retomado neste domingo na Cidade do México. Saab havia sido nomeado membro da equipe do governo venezuelano nas negociações com a oposição.

Após a extradição, forças de segurança da Venezuela levaram a uma penitenciária seis executivos ligados aos EUA que já estavam em prisão domiciliar —cinco cidadãos americanos naturalizados e um com residência permanente. Presos desde 2017, os empresários do setor petroleiro foram condenados por corrupção, em processos que o governo americano afirma serem recheados de irregularidades.

Filho de um empresário libanês radicado em Barranquilla, na Colômbia, Saab começou a trabalhar como vendedor de chaveiros promocionais antes de ingressar no setor têxtil, no qual chegou a ter cem armazéns que exportavam para mais de dez países, segundo biografias oficiais.

“Guiado por seu espírito de empresário cosmopolita, busca transferir sua capacidade empreendedora para além da fronteira” e se muda para a Venezuela “interessado no ramo da construção", relata uma série em seu canal no YouTube intitulada “Alex Saab, agente antibloqueio”.

O primeiro contrato que assinou na Venezuela foi em 2011, no palácio presidencial de Miraflores. À época, Maduro era chanceler do presidente Hugo Chávez, e um jovem Saab fechou uma “aliança estratégica” para “a constituição e instalação de kits para a construção de casas pré-fabricadas”. O então presidente colombiano, Juan Manuel Santos, participou do evento.

Foi com a chegada de Maduro à liderança do país que Saab se tornou "quase que imediatamente o empreiteiro consentido e, depois, seu ministro plenipotenciário" nos bastidores, destacou Deniz.

De acordo com Deniz, o jornalista que acompanha o caso, o empresário ganhou um contrato para a construção de ginásios no valor de US$ 100 milhões, pagos antecipadamente, e um de petróleo com uma empresa fantasma sem experiência, que acabou caindo após reclamações de outras empresas do setor.

Em 2016, Maduro criou os Comitês Locais de Abastecimento e Produção, um plano de distribuição de alimentos subsidiados, em um momento de desabastecimento de mais de dois terços dos produtos básicos. Saab então se tornou um dos fornecedores, conseguindo importantes acordos comerciais.

Em 2018, de acordo com a versão relatada em sua série no YouTube, ele assumiu "como funcionário público" a missão de adquirir na Rússia e no Irã "alimentos, remédios, peças de reposição para as refinarias e diferentes empresas". Saab se orgulha, por exemplo, da rota de combustível iraniano que criou "por instruções, orientação e visão do presidente Nicolás Maduro."

​A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega classificou Saab como o "principal testa de ferro da autocracia" de Maduro e sua família e afirmou que a extradição dele "é uma conquista para aqueles de nós que buscam justiça contra os responsáveis pela tragédia e o caos que os venezuelanos vivem".​

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