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Novo presidente do Chile não terá maioria no Congresso

Direita alcança metade do Senado e, entre os deputados, esquerda passa por renovação

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Santiago

O novo presidente do Chile, seja ele o pinochetista José Antonio Kast ou o esquerdista Gabriel Boric, que disputarão o segundo turno, não deve ter uma maioria consolidada no Congresso no início da legislatura, em março de 2022.

Com 100% dos votos apurados pelo Servel (Serviço Eleitoral), os resultados da eleição divulgados nesta segunda (22) mostram que a Câmara e o Senado terão uma mudança de forças, marcada pela mesma renovação vista na disputa presidencial.

Funcionários eleitorais contabilizam votos após eleições no Chile
Funcionários eleitorais contabilizam votos após eleições no Chile - Carlos Vera - 21.nov.21/Reuters

Pela consolidação dos dados, uma diferença de pouco mais de dois pontos percentuais separaram o primeiro e o segundo colocados no pleito: segundo os resultados oficiais, o ultradireitista Kast teve 27,9% dos votos, contra 25,8% do deputado Gabriel Boric. A surpresa da votação foi a terceira colocação para o economista de direita Franco Parisi (12,8%), que fez toda a campanha virtualmente, dos EUA.

Na eleição parlamentar, estavam em jogo a renovação de toda a Câmara e de pouco mais da metade do Senado. Entre os deputados, a centro-esquerda vinculada aos partidos que antes formavam a Concertação —que governou o Chile por 20 anos— encolheu, enquanto a direita e uma nova esquerda cresceram, ainda que fragmentadas em várias bancadas.

Dividida entre a Frente Ampla e os partidos comunista e socialista, a esquerda terá 74 vagas, de um total de 155. A direita ficou com 68. Também cresceram os independentes, que somarão sete parlamentares, e o Partido de la Gente, liderado por Parisi, com seis nomes eleitos.

No Senado, por sua vez, que apontou 27 novos integrantes (de um total de 43), a direita terá metade dos assentos.

Nem Kast nem Boric, portanto, terão maioria consolidada no Congresso. A possíveis acordos de apoio no segundo turno e à fragmentação partidária, somam-se o desconhecimento sobre os rumos que siglas como a de Parisi podem tomar na prática e as diferenças programáticas dentro da esquerda —enquanto a Concertação inclui a Democracia Cristã, mais conservadora moralmente, a Frente Ampla abarca forças mais progressistas e pró-aborto, por exemplo.

"No Parlamento, a direita deve se reorganizar, com o partido de Kast [Republicano] tendo mais força, enquanto, à esquerda, os filhos superam os pais. Ou seja, a Concertação encolhe e a principal força serão os partidos que compõem a Frente Ampla", diz à Folha o analista e doutor em filosofia política Cristóbal Bellolio. "Ou seja, é uma troca geracional na política chilena."

Outro destaque do pleito deste domingo (21) foi a participação do eleitorado, de 47,2%. O baixo comparecimento é algo tradicional no país desde 2012, quando o voto deixou de ser obrigatório, e, neste ano, deixa a disputa presidencial em aberto.

Os dois candidatos que passaram ao segundo turno já começaram a moderar os discursos, em busca do apoio dos eleitores que se abstiveram e dos mais ligados ao centro.

"Kast deve deixar a batalha cultural, da defesa das bandeiras típicas da extrema direita, para tratar de estabilidade econômica e de pacificação do país", diz Bellolio. "Já Boric começa a incorporar temas que não são os preferidos da esquerda a que pertence, como a segurança e a luta contra o narcotráfico."

O segundo turno está marcado para o dia 19 de dezembro. "Esse reenquadramento dos discursos começou nos pronunciamentos pós-votação e devem marcar as próximas semanas."

Nesta segunda, os mercados reagiram bem aos resultados das urnas, com a recuperação do peso chileno diante do dólar e uma alta na Bolsa de Valores de Santiago.

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