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Militares matam cerca de 30 civis em Mianmar, incluindo mulheres e crianças

Milícias locais alegam que vítimas eram deslocados internos do conflito social; regime acirra repressão contra opositores

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Reuters

Em meio à repressão crescente da junta de militares que governa Mianmar desde o golpe de Estado consumado em fevereiro, mais de 30 pessoas, entre as quais mulheres, crianças e idosos, foram mortas e carbonizadas no estado de Kayah, no leste do país, perto da fronteira com a Tailândia, nesta sexta (24).

A informação foi confirmada por um residente local à agência de notícias Reuters e também tem sido compartilhada por grupos de direitos humanos que resistem às tentativas de asfixiamento do regime militar. O Grupo Karenni disse ter encontrado os corpos na cidade de Hpruso e afirma que as vítimas eram deslocadas internas do conflito e foram mortas pelos militares que ocupam o poder.

Foto divulgada por milícia local mostra carros e caminhões nos quais viajaram as vítimas queimadas
Foto divulgada por milícia local mostra carros e caminhões nos quais viajaram as vítimas queimadas - 25.nov.2021/Força Nacional de Defesa de Karenni via AFP

Os militares confirmaram, à mídia estatal —que também controlam—, terem atirado e matado um número não especificado de pessoas que descrevem como terroristas das forças de oposição portando armas. As vítimas estavam em sete veículos e não pararam para os militares quando demandadas, disseram.

"Denunciamos veementemente a matança desumana e brutal que viola os direitos humanos", escreveu o Grupo Karenni em uma rede social. Fotos compartilhadas mostram os restos mortais carbonizados em caminhões incendiados no meio da mata.

A Força Nacional de Defesa de Karenni, milícia local do estado de Kayah e uma das principais que se opõem à junta que liderou o golpe, disse que os mortos não eram membros do grupo, mas civis que buscavam refúgio do conflito após deixarem suas casas. O golpe de Estado no país asiático acendeu uma crise de migração interna que, segundo dados das Nações Unidas divulgados em outubro, já soma mais de 223 mil deslocados internos.

Um comandante do grupo disse à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato, que os membros da milícia ficaram chocados ao ver que os cadáveres eram de tamanhos diferentes, incluindo crianças, mulheres e idosos.

Um morador, que também pediu para não ser identificado por motivos de segurança, disse ter visto o incêndio na noite de sexta, mas que não pôde ir ao local porque havia trocas de tiros na região. Na manhã deste sábado (25), quando pôde ir, viu os cadáveres queimados e também roupas de crianças e mulheres espalhadas.

Os membros da Tatmadaw, como são chamadas as Forças Armadas de Mianmar, têm intensificado a repressão às milícias populares que lutam contra o golpe, muitas das quais estão concentradas ao longo da fronteira com a Tailândia. Os militares realizaram pelo menos dois ataques aéreos na noite de quinta (23) e disparos de artilharia, segundo a União Nacional Karen (KNU, na sigla em inglês), outro grupo local.

Os novos embates contra a milícia estouraram na semana passada e agravaram a onda de cidadãos de Mianmar migrando para a Tailândia em busca de segurança. Mais de 4.200 pessoas cruzaram a fronteira desde o início dos embates, segundo o Ministério das Relações Exteriores tailandês. Grupos da sociedade civil, no entanto, dizem que o número de deslocados chega a 10 mil.

Mianmar vive uma crise social e humanitária desde que militares derrubaram o governo eleito, alegando fraude nas eleições, em 1º de fevereiro, inaugurando uma série de golpes de Estado ao redor do mundo em 2021. Observadores internacionais que acompanharam o pleito disseram que a votação havia sido justa.

Civis saíram às ruas e muitos pegaram em armas. Forças locais de resistência também se multiplicaram à medida que a violência empregada pelo Estado crescia. Segundo números atualizados da Associação de Assistência a Presos Políticos de Mianmar, 1.375 pessoas foram mortas pelos militares, e 8.254 foram presas. Pelo menos 39 pessoas foram condenadas à morte pelo regime, entre as quais duas crianças.

Os militares também baniram muitos dos opositores, rotulando-os de traidores ou terroristas. No início de dezembro, um tribunal do país sentenciou a ex-líder civil Aung San Suu Kyi, ganhadora do Nobel da Paz que atuava como conselheira de Estado antes do golpe, a dois anos de prisão, sob acusações de incitação à dissidência e violação de restrições impostas para conter a Covid.

A repressão, que se estendeu à imprensa, alçou o país ao posto de segunda nação que mais encarcerou jornalistas ao redor do mundo neste ano, com 26 profissionais presos por exercerem a profissão, atrás apenas da China (50), segundo levantamento do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

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