Menos de duas semanas após registrar média móvel de novos casos de Covid superior a 1 milhão pela primeira vez desde o início da pandemia, o mundo ultrapassou a marca de 2 milhões.
O surgimento da variante ômicron foi uma alavanca para o salto nos registros, enquanto na outra ponta o avanço da imunização conseguiu impedir que movimento semelhante se desse no número de mortes.
A média de novos casos diários nesta sexta (7) foi de 2,14 milhões, segundo a plataforma Our World in Data. Trata-se da cifra mais alta desde que o Sars-CoV-2 foi identificado, há pouco mais de dois anos.
Já o número absoluto de novas infecções nesta sexta no mundo foi de 2,88 milhões —marca, porém, sujeita a um possível represamento de dados ligado às festas de fim de ano em muitos países.
É para atenuar esses fatores que se usa a média móvel, recurso que busca dar visão mais precisa da evolução da doença. O cálculo é feito somando o resultado dos últimos sete dias e dividindo o número por sete. No dia seguinte, é acrescentada a informação mais recente e excluída a do dia mais antigo para o novo cálculo da média.
Os recordes de novas infecções continuam a ser registrados em diversos locais. Na França, com os 328.214 diagnósticos desta sexta, a média móvel subiu para 206.286; na Itália, o índice chegou a 142.005. São as maiores cifras dos dois países —que possuem, respectivamente, 11,5 milhões e 7 milhões de casos registrados desde o início da pandemia.
Ainda que o salto no número de diagnósticos preocupe autoridades nacionais e leve governos a retomarem restrições que haviam sido suspensas, os registros de morte em decorrência da Covid não apresentam o mesmo crescimento. De acordo com os especialistas, o efeito é assegurado, em grande parte, devido ao avanço da imunização contra a Covid.
A média móvel de mortes diárias no mundo alcançou 6.056 nesta sexta, ainda segundo a plataforma Our World in Data. Há um ano, o número chegou a ser superior a 18 mil e, em maio e abril do último ano, frente à disseminação da variante delta, girou em torno de 15 mil e 16 mil.
Estudos ainda estão sendo feitos para compreender as características da ômicron e seu potencial de agravar a crise sanitária. A OMS (Organização Mundial da Saúde), porém, já alerta que descrever a cepa como branda é um equívoco, citando o poder de letalidade do vírus —análises preliminares sugerem que ela tem probabilidade menor de causar casos graves da doença.
Sequenciada em novembro por cientistas da África do Sul, a ômicron é altamente contagiosa e tem se tornado a variante predominante em diversas nações, que assistem a uma nova onda da Covid e à consequente saturação dos sistemas de saúde locais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a cepa já é a responsável por mais de 95% dos novos casos, de acordo com dados divulgados nesta semana pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O país registrou 662 mil diagnósticos nesta quinta (6).
O cenário tem levado os governos a criarem incentivos à imunização —caso da Alemanha, onde somente aqueles com a dose de reforço serão dispensados de apresentar um teste negativo para frequentar bares e restaurantes. Autoridades também tiveram de recorrer às Forças Armadas para que enviassem equipes médicas a hospitais sobrecarregados, como nos EUA e no Reino Unido.
Também no Reino Unido, um dos primeiros países a observar as consequências da ômicron e retroceder na abertura, um movimento inusitado aconteceu. Com os centros médicos abarrotados de pacientes e falta de mão de obra, devido ao alto número de profissionais infectados e afastados, líderes sindicais apelaram às autoridades nesta sexta para que adiem a entrada em vigor da obrigatoriedade da vacina para trabalhadores de saúde.
Segundo determinação do governo, eles devem tomar a primeira dose até o dia 3 de fevereiro se quiserem manter seus trabalhos. Os sindicalistas argumentam que a medida levará a um êxodo ainda maior dos profissionais, agravando a crise de pessoal vivida no NHS, serviço público de saúde do país.
O etíope Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, voltou a falar nesta quinta (6) em um "tsunami" de novos casos globais impulsionados pela ômicron. Ele repetiu um apelo recorrente desde que o imunizante contra a Covid foi desenvolvido: o de que, sem equidade na distribuição de vacinas, será impossível controlar de fato a pandemia.
De acordo com os cálculos da organização com base na taxa atual de acesso ao imunizante, 109 países (dos 194 que integram a entidade) não cumprirão a meta de vacinar 70% de suas populações até o meio de 2022. Não é a primeira vez que isso acontece: mais de 50 não atingiram meta anterior de vacinar 10% dos habitantes até setembro do ano passado, por exemplo.
A repetição da desigualdade global no acesso aos imunizantes preocupa especialmente à medida que a identificação e a transmissão de novas variantes, como a ômicron, dão visibilidade ao argumento científico de que, sem parcela majoritária da população vacinada, a doença continuará a se propagar com altos níveis de contágio.
"Um pequeno número de países não acabará com a pandemia enquanto bilhões de pessoas permanecerem completamente desprotegidas", ressaltou Adhanom. Pelo menos 36 nações nem sequer alcançaram 10% de cobertura vacinal, ainda segundo a OMS.
Metade da população mundial completou o primeiro ciclo de imunização contra a Covid —tomou as duas doses ou a dose única do imunizante—, enquanto 9,17% estão apenas com a primeira dose.
Essas cifras, no entanto, apresentam variações consideráveis quando a amostra de comparação são os continentes. Líder em imunização, a América do Sul tem 64% da população com esquema vacinal completo, enquanto a África tem somente 9,6%, por exemplo. Os dados são do Our World in Data.
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