Bolsonaro diz que missão à Rússia 'não foi para tomar partido de ninguém'

Presidente recebeu críticas dos EUA por ter falado em 'solidariedade' aos russos em meio a conflito com Ucrânia

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) reconheceu nesta sexta-feira (18) que foi alvo de críticas por sua viagem à Rússia e disse que a missão "não foi para tomar partido de ninguém". A viagem do chefe do Executivo ocorreu em meio à escalada de tensões entre Rússia e Ucrânia. Ele esteve com Vladimir Putin na última quarta (16).

"Até falei que o mundo é nossa casa e que Deus está acima de todos. Falei uma mensagem de paz. Não foi para tomar partido de ninguém", disse o presidente, durante sua transmissão semanal nas redes sociais.

"Alguns levaram para um lado, 'não devia fazer isso, não devia fazer aquilo'. Teve bastantes críticas." Ele repetiu o que já havia dito nesta semana, de que uma eventual guerra não interessa a ninguém.

O presidente Jair Bolsonaro em cerimônia no túmulo do soldado desconhecido, em Moscou - Maxim Shemetov - 16.fev.22/AFP

O presidente não citou diretamente a reação negativa dos Estados Unidos à sua fala de que é "solidário à Rússia" —sem especificar a que aspecto se manifestava.

Na tarde desta sexta, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, fez críticas a essa fala de Bolsonaro. "Eu diria que a vasta maioria da comunidade global está unida em sua visão de que outro país tomando parte de sua terra, aterrorizando seu povo, é certamente algo não alinhado aos valores globais. E então, penso que o Brasil pode estar do outro lado em que a maioria da comunidade global está", afirmou.

A porta-voz ressaltou que não havia discutido o tema com o presidente americano, Joe Biden, mas suas declarações se somam a críticas feitas na quinta (17) pelo Departamento de Estado. "O momento em que o presidente do Brasil expressou solidariedade com a Rússia, justo quando as forças russas estão se preparando para lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ser pior", disse um porta-voz da pasta, em nota enviada a jornalistas.

"Isso mina a diplomacia internacional direcionada a evitar um desastre estratégico e humanitário, bem como os próprios apelos do Brasil por uma solução pacífica para a crise."

Em Brasília, diplomatas brasileiros admitem que o termo "solidariedade" usado por Bolsonaro foi ruim, mas viramm exagero na resposta americana. Reservadamente, dizem que o presidente escolheu mal as palavras, em uma fala de improviso que não deveria ser levada ao pé da letra.

Um interlocutor no Itamaraty afirmou que a expressão não corresponde aos fatos. É sabido, na comunidade internacional, que o país se alinha ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e tem postura de não tomar lados em conflitos como esse.

Na transmissão desta sexta-feira, Bolsonaro citou ainda reportagem da Folha que relatou o começo de sua programação em Moscou, na cerimônia de aposição de uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido.

O presidente também reafirmou a versão de que não tratou sobre o conflito com Putin. "Lutaram no nosso lado contra o nazismo. Oh, meu Deus do céu", disse, pedindo uma "estudadinha".

Ainda que seja protocolo para todo chefe de Estado, o túmulo é um dos pontos altos simbólicos da celebração da vitória da União Soviética, império comunista que durou de 1922 a 1991 e está no centro dos fetiches do bolsonarismo, na Segunda Guerra Mundial (1939-45, mas que começou para os soviéticos em 1941 e que é chamada no país de Grande Guerra Patriótica).

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