Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Amigos se unem para remover escombros de cidade atacada na Ucrânia

Barishivka, a 70 km de Kiev, foi alvo de tropas russas na madrugada desta sexta (11)

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Kiev

O céu de Barishivka, localizada a 70 km ao norte de Kiev, nunca esteve tão claro, nem nos dias mais longos e quentes de verão.

Por volta das 3h desta sexta (11), uma explosão produziu um raio de luz que pôde ser visto a dezenas de quilômetros de distância. "O dia virou noite! Tive mais medo da luz do que da explosão", disse Serguei, enquanto tentava se equilibrar calmamente sobre os escombros do que restou do seu ganha-pão, um lava-jato montado há 6 anos nos fundos do antigo cinema da cidade.

Lanchonete parcialmente destruída após ataque das tropas russas a Barishivka, cidade localizada a 70 km ao norte de Kiev - André Liohn

Barishivka está localizada às margens da rodovia E40, que liga Kiev à segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, e à fronteira com a Rússia.

Desde que o país iniciou os preparos para se defender de uma iminente ocupação russa, o Exército ucraniano tomou o antigo estádio municipal de Barishivka para usá-lo como base de algumas tropas e equipamento militar.

Construído ainda no período soviético, o estádio fica no centro da cidade, ao lado do antigo cinema e a poucas centenas de metros de prédios residenciais que se estendem por longos quarteirões.

Há suspeita de que o Exército russo, em sua campanha para apertar o cerco à Kiev, tenha lançado na madrugada desta sexta (11) um míssil de cruzeiro 9K720 Iskander contra Barishivka.

O Iskander é um míssil armado com diferentes ogivas, entre as quais uma de bombas de fragmentação e uma de alta fragmentação explosiva. Possui ainda um penetrador de terra para arrebentar bunkers e um dispositivo de pulso eletromagnético para missões antirradar.

No centro de um terreno devastado, coberto por pedaços de ferro, lascas de madeira, lajes e colunas de concreto retorcidas, incontáveis pedaços de tijolos, restos dos muros e das paredes das casas que existiam ali, uma árvore de mais de dez metros de altura teve seu grosso tronco perfurado em vários pontos e partido ao meio. Inclinada, prestes a cair, como se tivesse sido soprada por um furacão, sua casca rugosa estava escura como se tivesse sido queimada pelo calor de algo extremamente quente.

Dentro de uma das casas ainda em pé, um grupo de pessoas havia se juntado para ajudar Nina, idosa querida por todos da vizinhança. Ordenhadora de vacas, ela vivia sozinha na casa. "Estamos aqui para ajudar Nina, uma pessoa amável", disse sua amiga Helena.

No espaço que restou do quarto da amiga, Helena tirava o pó grosso dos lençóis, ainda dobrados dentro do guarda-roupas parcialmente destruído. Levantando ripas de madeira que tinham caído do teto, ela empilhava com zelo os travesseiros de Nina, além de toalhas, cobertores, pijamas e algumas peças de roupa sobre a pequena cama de solteiro na qual a amiga dormia.

No cômodo ao lado, no que havia restado da sala de visitas, seus amigos tentavam recuperar as porcelanas. Tudo o que não podia ser aproveitado —pedaços de vidro, páginas rasgadas de alguns livros, móveis danificados e até fotos de família dobradas dentro molduras quebradas— era lentamente amontoado e, então, levado para fora da casa.

A resistência de Helena e dos amigos parece algo comum entre os que vivem (ou viviam) naquela área. Na rua em frente, famílias e amigos tinham se unido para reconstruir o que podia ser reerguido.

Dois homens com uma serra elétrica consertavam a porta metálica de um abrigo antibombas; um grupo tentava desobstruir a porta de uma garagem, onde um carro em boas condições havia ficado preso; pessoas carregavam mantimentos em latas do que era uma lanchonete para dentro de uma van; um idoso, com um trator bastante velho, tirava os destroços do asfalto, levantando uma nuvem de poeira que se espalhava desordenadamente, com o vento forte e congelante.

Havia também uma mobilização dentro do estádio. Um homem tentava consertar o motor de um caminhão militar, parado ao lado de um tanque soterrado por restos de concreto, ferro, madeira e vidro.

Desta vez, pelo que se sabe por ora, nenhum civil morreu na cidade. A reportagem não conseguiu confirmar se houve mortes entre os militares estacionados no estádio.

Em Kiev, as sirenes –que alertam para o risco de ataques aéreos– continuam soando repetidamente. Até o momento, a cidade tem sido poupada de ataques como os que atingiram Barishivka, a menos de uma hora de lá. Não se deve pensar, entretanto, que Moscou não é capaz de usar contra a capital armas tão ou mais destruidoras que o míssil lançado sobre a cidade próxima.

Vladimir Putin tem deixado claro que pode atacar Kiev a qualquer momento. Neste momento, as tropas russas estão tentando se aproximar da capital ucraniana a partir de três frentes.

Há tropas avançando pelo leste, que devem logo dominar a cidade de Brovari. Existem, ainda, russos vindos do norte, que tentam vencer as defesas de Tchernihiv —onde o Exército russo teria, segundo a Ucrânia, matado 47 civis num ataque que atingiu uma área residencial. E as tropas vindas da região oeste, responsáveis, também de acordo com Kiev, pela morte de dezenas de civis na cidade de Irpin.

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