Carlos França defende posição solidária de Bolsonaro à Rússia e critica sanções

Para chanceler, presidente quis mostrar que Moscou pode confiar no Brasil, e retaliações econômicas são ilegais

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Brasília

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, defendeu o presidente Jair Bolsonaro (PL) por ter expressado solidariedade à Rússia dias antes do início da guerra na Ucrânia e criticou as sanções unilaterais impostas a Moscou após a deflagração do conflito.

As declarações foram dadas em sessão do Senado voltada a discutir a crise no Leste Europeu. Questionado sobre a viagem de Bolsonaro, França disse que a prática da diplomacia brasileira é "promover a paz". Acrescentou ainda que a visita havia sido muito planejada e que "estavam dadas as condições" para que ela fosse realizada, em particular após a visita anterior de ministros brasileiros a Moscou.

O ministro disse também ter conversado à época com seu homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, que teria transmitido uma noção "tranquilizadora do cenário", indicando que não havia risco de conflito iminente. Vladimir Putin deu a ordem de invadir a Ucrânia oito dias depois do encontro com Bolsonaro.

Sessão de debates temáticos para discutir as causas, a situação e os efeitos da Guerra entre Rússia e Ucrânia e suas consequências para a economia.Bancada:ministro de Estado das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França;ministra de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,Tereza Cristina.  Foto: Roque de Sá/Agência Senado
O chanceler Carlos França e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em sessão no Senado nesta quinta - Roque de Sá - 24.mar.22/Agência Senado

O chanceler ainda rebateu críticas feitas ao presidente na sequência da viagem, em particular as dos EUA. "Não julgamos adequado que qualquer país faça uma interpretação das declarações do nosso chefe de Estado", disse. "Entendo que a ideia de confiabilidade, de solidariedade, como o presidente falou, tem o sentido de solo, firme, confiável, [mostra] o Brasil como parceiro confiável da Rússia dentro dos princípios que respeitamos".

Para o ministro, as sanções econômicas aplicadas contra a Rússia são inapropriadas, já que, segundo ele, as consequências das medidas devem resguardar a médio prazo os países desenvolvidos e recair mais sobre nações em desenvolvimento do que sobre a própria Rússia.

"Essas medidas, além de ilegais perante o direito internacional, preservam concretamente os interesses urgentes de alguns países, como o fornecimento de petróleo e gás a nações europeias", afirmou.

França acrescentou que está tentando marcar uma reunião com integrantes do governo americano para discutir a possibilidade de reduzir as sanções que impactam na comercialização de fertilizantes —produtos essenciais para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

Sem mencionar medidas específicas, o ministro afirmou que as penalizações constituem uma perigosa ameaça ao sistema de comércio internacional, o que pode ter impacto na economia de todo o mundo. "A aplicação dessas sanções seletivas por parte de certos países praticamente inviabiliza, a curto prazo, a realização de pagamentos em operações de exportação e importação com a Rússia."

França também criticou ações que visam expulsar Moscou de órgãos internacionais, já que o Brasil, "em consonância com a a posição tradicional em favor do multilateralismo e do direito internacional, deve incluir todas as nações com base no princípio da igualdade soberana dos países", segundo ele.

O governo federal defende, de acordo com o chanceler, que o foro adequado para tratar de um acordo de paz seja a Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, a postura do Itamaraty estaria alinhada ao histórico do Brasil diante de conflitos internacionais, ao pedir cessar-fogo imediato, proteção de civis e de infraestrutura civil, acesso desimpedido a serviços humanitários e "a pronta solução política da questão, baseada nos Acordos de Minsk, aceitos em 2015 por ambas as partes hoje em conflito".

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), participou da sessão e lamentou os efeitos que a guerra deve ter sobre o Brasil. Em sua visão, o país "sofrerá com a falta de fertilizantes, provocando ruídos em um setor vital para a economia nacional: a agricultura".

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também esteve na audiência e demonstrou temor com os impactos do conflito na economia brasileira. "A nossa preocupação é enorme com os preços dos fertilizantes, de que a Rússia e a Belarus são nossos grandes parceiros exportadores. E hoje temos aí uma preocupação com o nitrogênio e produtos de potássio de que o Brasil tanto precisa para a sua produção."

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