México descobre que ossadas que julgava ser de crimes de 2012 eram do ano 900

Crânios encontrados em caverna são apontados como resultado de sacrifício e compunham altar para adoração a deuses

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Eduardo Medina
The New York Times

Em 2012, autoridades de Chiapas, estado do sul do México, entraram numa caverna escura e se depararam com uma visão dantesca: cerca de 150 crânios espalhados no chão, todos com dentes faltando e alguns ossos esmagados.

Pensando tratar-se da cena de um crime envolvendo migrantes mortos perto da fronteira com a Guatemala, onde a violência de gangues é comum, a polícia abriu uma investigação.

Era uma cena de crime, de fato. Mas não de um crime recente.

Crânios são vistos no chão em caverna no México
Foto do Instituto Mexicano de Antropologia e História mostra caveiras encontradas na cidade de Carrizal, no México; acredita-se que as ossadass sejam de pessoas sacrificadas entre 900 e 1.200 D.C. - INAH/New York Times

Na semana passada, dez anos após a descoberta, as autoridades anunciaram ter determinado que os crânios são de vítimas de assassinatos sacrificais cometidos entre 900 e 1.200 d.C.

"Já amealhamos bastante informação", disse um arqueólogo que analisou os ossos, Javier Montes de Paz, falando em coletiva de imprensa em 11 de abril. "Mas é importante indagar: o que esses crânios estavam fazendo naquela caverna?"

Pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História analisaram marcas nos ossos e determinaram que as mortes ocorreram séculos atrás. Essas marcas só apareceriam passado "muito, muito tempo", disse Montes de Paz.

Os pesquisadores descobriram que as vítimas tinham sido decapitadas, que a maioria dos ossos era de mulheres, e que todas apresentavam dentes faltando, embora não esteja claro se foram extraídos em vida ou após a morte das vítimas, disse o arqueólogo.

Os pesquisadores também encontraram restos esqueletais de três crianças pequenas.

A pilha de ossos pré-hispânicos na caverna de Comalapa provavelmente era um "tzompantli" —um altar, feito para a adoração a deuses, que teria se parecido com uma estante moderna para troféus esportivos, com os crânios colocados sobre varas de madeira alinhadas. De acordo com a revista Smithsonian Magazine, práticas semelhantes eram comuns entre os maias, astecas e outras civilizações mesoamericanas.

Segundo Montes de Paz, o material de madeira "se decompôs ao longo do tempo e pode ter feito os crânios caírem ao chão".

Pesquisadores também encontraram varas de madeira alinhadas na caverna –outro sinal de um "tzompantli", segundo declaração do Instituto Nacional de Antropologia e História.

Os pesquisadores ainda não concluíram seus estudos, mas, segundo Montes de Paz, o mais provável é que a caverna tenha sido usada por várias comunidades mesoamericanas. Suas duas entradas são tão íngremes que os cientistas tiveram que usar uma escada para entrar.

Não está claro como os crânios foram descobertos uma década atrás, nem por quem. As autoridades disseram que uma queixa os alertou da descoberta feita na cidade de Carrizal, no município de Frontera Comalapa.

Antropologistas que estudaram os crânios identificaram outros fragmentos de ossos na caverna, incluindo um fêmur e pedaços de braços. Mas não foram encontrados restos mortais intactos.

A invasão espanhola ocorreu cerca de 1500. Segundo a Smithsonian Magazine, quando os espanhóis chegaram, ficaram com medo dos rituais.

Mas os sacrifícios parecem ter sido comuns em Chiapas. O Instituto Nacional de Antropologia e História revelou que nos anos 1980 antropólogos exploraram a caverna Cueva de las Banquetas e encontraram 124 crânios sem dentes. Em 1993, exploradores mexicanos e franceses em Ocozocoautla foram a outra caverna, a Cueva Tapesco del Diablo, que continha cinco crânios.

O arqueólogo disse que sua equipe está ansiosa para explorar mais extensamente a caverna de Comalapa.

Ele recomendou que, se pessoas foram a locais como esses futuramente e se depararem com crânios, que não toquem em nada, pois isso pode afetar a integridade arqueológica do sítio. Segundo ele, as pessoas que encontraram os crânios em Chiapas em 2012 tocaram acidentalmente em alguns dos ossos. "Você afeta a história", ele explicou. "E muitas informações se perdem."

Mesmo assim, ele acredita que, depois de mais análises, dentro em breve será possível contar a história completa dos crânios.

Tradução de Clara Allain 

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