Descrição de chapéu terrorismo

Justiça condena a prisão perpétua principal acusado dos atentados de 2015 em Paris

Ataque na casa de shows Bataclan e nos arredores do estádio Stade de France deixou 130 mortos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paris | Reuters e AFP

A Justiça da França considerou culpados nesta quarta-feira (29) todos os 20 acusados pelo assassinato de 130 pessoas nos atentados terroristas de 2015 em Paris e arredores, os mais graves ataques na capital francesa desde a Segunda Guerra Mundial. Os atentados ocorreram em 13 de novembro de 2015 na casa de shows Bataclan, em seis bares e restaurantes e nas cercanias do estádio Stade de France.

Apenas um dos acusados de executar os ataques, no entanto, está vivo. O belga Salah Abdeslam, 32, foi julgado culpado por acusações de terrorismo e assassinato e condenado a prisão perpétua sem a possibilidade de progressão de pena, uma sentença que foi aplicada apenas quatro vezes na França.

Policiais patrulham casa de shows Bataclan após atentado terrorista em novembro de 2015
Policiais patrulham casa de shows Bataclan após atentado terrorista em novembro de 2015 - Christian Hartmann - 14.nov.15/Reuters

No começo do julgamento, Abdeslam chegou a se orgulhar de ser um soldado do Estado Islâmico (EI), grupo terrorista que assumiu a autoria dos ataques. Ele não assumiu a culpa pelo crime e disse que no último minuto escolheu não detonar o colete explosivo que carregava. Mas investigações do tribunal apontaram que, na verdade, o colete não explodiu porque estava com defeito, segundo a acusação.

Após quase dez meses de julgamento, Abdeslam, na segunda-feira (27), último dia de audiências, voltou a se defender. "Não sou um assassino e, se for condenado por assassinatos, vocês cometerão uma injustiça", disse ele, antes de pedir desculpas aos sobreviventes e parentes das vítimas, que lotaram uma sala no Palácio de Justiça de Paris para a leitura da decisão. Ele foi preso na Bélgica em 18 de março de 2016, dias antes de novos atentados, desta vez contra o aeroporto de Bruxelas, deixarem 32 mortos.

Outros 13 acusados, dez dos quais estão presos, foram ouvidos ao longo do julgamento. Parte deles assumiu a responsabilidade pelas mortes e pediu desculpas. O tribunal os considerou culpados por uma série de crimes, entre os quais o de planejar os ataques ou auxiliar os executores com armas e carros. Além deles, seis pessoas que supostamente já morreram foram condenadas à revelia.

As penas vão de dois anos de prisão até a prisão perpétua sem liberdade condicional para Abdeslam e dois ex-dirigentes do EI, considerados mortos na Síria e no Iraque. Desde que foi instaurada, em 1994, a prisão perpétua só havia sido usada para condenados por matar crianças, após estuprá-las e torturá-las.

Ainda é possível recorrer das sentenças, e o tribunal não obteve dos réus todas as respostas que queria, dado que alguns deles permaneceram em silêncio. Os promotores também não conseguiram determinar onde boa parte das armas usadas no atentado foi adquirida, tampouco se o EI havia planejado atacar os aeroportos de Paris e Amsterdã, como documentos encontrados pelos investigadores sugerem.

"Virarei uma enorme página, e a vida começará de novo. Haverá um depois", disse ao jornal Libération Aurélie Silvestre, que perdeu o companheiro no Bataclan e a quem o julgamento lhe permitiu "digerir o drama". Arthur Denouveaux, um sobrevivente do Bataclan, afirmou que o julgamento havia superado as expectativas das vítimas "porque os terroristas falaram". "Os terroristas responderam de certa forma aos nossos depoimentos, isso foi tão inesperado, nunca acontece em julgamentos de terroristas. Acho que podemos estar orgulhosos do que conquistamos", disse ele, que preside a associação de vítimas.

Os atentados aconteceram em um contexto de ataques em série de fundamentalistas islâmicos na Europa, enquanto uma coalizão internacional lutava contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Desde então, atentados com faca e armas de fogo em menor escala na França mantiveram a ameaça terrorista no centro das atenções, levando as autoridades a expandir a legislação antiextremismo.

As ações traumatizaram o país e continuam a moldar os debates sobre a identidade francesa, o lugar dos muçulmanos numa nação laica e o equilíbrio entre liberdade individual e segurança coletiva.

Foi um julgamento ímpar, não apenas por sua duração excepcional de dez meses, mas também pelo tempo que a corte dedicou a permitir que as vítimas testemunhassem em detalhes o que passaram enquanto as famílias dos mortos falavam de como era difícil seguir em frente. Os procedimentos contaram também com o depoimento do presidente da França à época dos ataques, François Hollande.

O julgamento foi um dos poucos na França a ser filmado, para fins de pesquisa histórica, e o primeiro que o público pôde acompanhar ao vivo pela rádio e pela internet. Este, no entanto, não foi o primeiro acerto de contas na França com o legado da época. Em dezembro de 2020, 14 homens foram condenados por ajudar nos ataques de janeiro de 2016 contra o semanário satírico Charlie Hebdo e um supermercado kosher, realizados por homens ligados ao EI e à Al Qaeda, com saldo de 17 vítimas.

A decisão sobre o caso do ataque com um caminhão, em julho de 2016, que matou 86 pessoas em Nice, também reivindicado pelo Estado Islâmico, deve começar em setembro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.