Sri Lanka marca eleição após protesto e invasão de residência forçarem renúncia de presidente

País tem cenário de instabilidade política após milhares ocuparem prédios do governo em ato contra caos na economia

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Colombo | Reuters

O Parlamento do Sri Lanka agendou para o próximo dia 20 a eleição de um novo presidente após o chefe do Legislativo anunciar a renúncia de Gotabaya Rajapaksa, desencadeada por um dia de caos e protestos furiosos no sábado (9) contra a crise econômica e o governo. Os atos levaram milhares de cingaleses a invadir prédios oficiais, incluindo a residência presidencial em Colombo.​

De acordo com o líder do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardena, os legisladores se reunirão na sexta-feira (15) e, cinco dias depois, elegerão uma nova liderança nacional em um pleito indireto. "Durante a reunião dos líderes partidários realizada hoje [segunda (11)], foi acordado que isso era essencial para garantir que um novo governo de todos os partidos estivesse em vigor de acordo com a Constituição", ressaltou comunicado do Legislativo.

Sri Lanka vive a pior crise econômica desde que se tornou independente da Inglaterra, em 1948. A expectativa agora é que o presidente Rajapaksa oficialize sua renúncia na quarta (13)​ —seus irmãos e o sobrinho deixaram recentemente cargos no governo. Ranil Wickremesinghe, primeiro-ministro cuja casa foi incendiada por manifestantes neste domingo (10), afirmou que também vai se demitir.

Protesto em frente ao palácio presidencial em Colombo, no Sri Lanka - AFP - 9.ju.22

Assim que o presidente e o premiê renunciarem formalmente, o líder do Parlamento será nomeado como chefe de governo interino antes de a Casa votar em um novo presidente para concluir o mandato de Rajapaksa, que terminaria em 2024.

O líder da oposição, Sajith Premadasa, cujo partido detém 54 dos 225 assentos do Legislativo, afirmou que a sigla está pronta para assumir o governo, estabilizar o país e reconstruir as finanças.

Os cingaleses culparam principalmente o presidente pelo colapso da economia, dependente do turismo e duramente atingida pela pandemia. Também o responsabilizam pela proibição do uso de fertilizantes químicos, posteriormente revertida, que prejudicou a produção agrícola.

O Sri Lanka mal tem dólares para importar combustível, que vem sendo severamente racionado, e nos últimos dias longas filas se formaram em frente às lojas que vendem gás de cozinha. A inflação atingiu 54,6% no mês passado, mas o Banco Central alertou que pode subir para 70% nos próximos meses.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma transição suave de governo e "soluções sustentáveis" para a crise. A instabilidade política, contudo, pode prejudicar um acordo que está sendo costurado com o Fundo Monetário Internacional, informou um funcionário do órgão à agência Reuters.

Líderes dos manifestantes afirmaram que as multidões ocuparão as residências do presidente e do primeiro-ministro em Colombo até que ambos deixem o cargo. No fim de semana, os ativistas pularam na piscina, descansaram em camas, correram nas esteiras e experimentaram os sofás da suntuosa residência de Rajapaksa, em arquitetura da época colonial.

A polícia não fez nenhuma tentativa de intervir e afirmou ter recebido 17,85 milhões de rupias (cerca de R$ 265 mil) em cédulas encontradas no imóvel por manifestantes no sábado. Um vídeo dos jovens contando o dinheiro viralizou nas redes sociais.

Rajapaksa e Wickremesinghe não estavam em suas casas quando elas foram invadidas e não são vistos em público desde sexta-feira (8). Autoridades disseram à agência AFP que o presidente havia sido levado inicialmente para instalações da Marinha e nesta segunda foi transferido a uma base aérea perto do aeroporto internacional —as informações não puderam ser confirmadas de maneira independente e alimentam a hipótese de uma fuga para o exterior.

Três suspeitos foram presos pelo incêndio no imóvel do premiê.

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