Descrição de chapéu China

Autores de livros infantis são condenados por violação da lei em Hong Kong

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Igor Patrick

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Cinco fonoaudiólogos de Hong Kong podem pegar até dois anos de cadeia após serem considerados culpados por violar a lei de sedição através de uma série de livros infantis sobre ovelhas e lobos.

Na história, o "presidente dos lobos" envia um membro da matilha para se juntar a ovelhas oprimidas e se disfarçar como uma delas para então governá-las. Em uma das histórias, as ovelhas fogem dos lobos até serem capturadas no mar e enviadas para a prisão. Para o juiz distrital Kwok Wai-kin, que assina a condenação, esta seria uma referência à lei de extradição, estopim para as manifestações anti-China em 2019.

Em 2019, protestantes em Hong Kong marcharam contra a lei de extradição e o domínio chinês - Tyrone Siu/Reuters
  • Kwok escreve na sentença de 67 páginas que, ao lerem os livros, crianças podem ser levadas a acreditar que o líder de Hong Kong é uma pessoa enviada pela China continental com o "objetivo escuso de machucá-los (...), com a intenção perversa de destruir suas casas e arruinar suas vidas felizes", despertando "desprezo" pelo chefe do executivo na cidade. Ele também argumenta que o texto provoca "desprezo à polícia, à promotoria e ao tribunal" distrital.
  • "Os autores dos livros claramente não reconhecem que a República Popular da China retomou legitimamente o exercício da soberania sobre a Região Administrativa Especial de Hong Kong e as crianças são levadas a odiar e excitar seu descontentamento contra as autoridades centrais", argumentou Kwok.

Apenas de contestações por parte da defesa dos condenados —que questiona não apenas a validade das acusações, como também todo o rito processual—, os cinco profissionais serão levados ao tribunal novamente já neste sábado (10), quando a sentença será anunciada. Se a pena de dois anos for confirmada, esta será a mais longa condenação baseada na lei colonial de sedição até hoje.

Por que importa: A condenação é apenas o mais recente capítulo na ampla reforma legislativa promovida pela China continental após protestos de 2019 que questionaram a soberania de Pequim sobre a região, anteriormente uma colônia britânica.

Além de colocar em vigor uma dura lei de segurança nacional —considerada desproporcionalmente ampla por muitos ativistas pró-democracia e organizações internacionais de proteção à liberdade de expressão—, Pequim vem promovendo desde 2020 uma grande reforma nos currículos desde a educação primária até a universidade com o objetivo de reforçar "o patriotismo" entre os cidadãos da cidade. A China tenta conter a construção de uma identidade nacional distinta em Hong Kong, suprimindo possíveis novos movimentos separatistas no futuro.

o que também importa

O Departamento de Defesa dos EUA anunciou que vai interromper a entrega dos caças F-35 depois de descobrir que uma das fabricantes, a Lockheed Martin Corp, estava fabricando parte de um componente na China. O F-35 é a aeronave militar mais avançada no mundo, utilizada não apenas pelas forças americanas, mas por aliados como Canadá, Holanda e Israel.

Segundo o Pentágono, a peça é um imã que integra o componente de energia da aeronave e, em teoria, não representa um problema de segurança. A fabricação, porém, viola leis federais para aquisições de equipamentos de receita.

O governo americano não revelou quantas aeronaves já em uso possuem a peça fabricada na China, mas demandou que a Lockheed encontre um novo fornecedor. Segundo o porta-voz do Departamento de Defesa, Russ Goemaere, "não há riscos de desempenho, qualidade, segurança ou proteção associados a este problema."

O líder chinês Xi Jinping vai se encontrar com o homólogo russo, Vladimir Putin na semana que vem no Uzbequistão, confirmou a embaixada russa em Pequim nesta quarta (7). Esta será a primeira reunião presencial de Xi fora das fronteiras da China continental desde o início da pandemia de Covid-19.

Rússia e China não divulgaram a agenda do encontro, mas espera-se que a invasão à Ucrânia esteja no centro da pauta. Putin comentou indiretamente o anúncio saudando a cooperação do seu país com outras nações asiáticas dizendo que o "Ocidente está fracassando e o futuro está na Ásia".

A cúpula entre os dois líderes acontece a poucas semanas do congresso que deve confirmar um terceiro mandato de cinco anos para Xi em outubro. Internamente, o encontro com Putin deve ser vendido pela propaganda do partido como um exemplo de parceria sólida sedimentada pelo líder chinês ao longo da década em que governou o país.

fique de olho

Empresas de tecnologia americanas que recebam financiamento federal estão proibidas de construir instalações avançadas na China pelo menos pelos próximos dez anos. A medida foi anunciada pelo governo Biden junto com um pacote de incentivo de US$ 50 bilhões para a promover a fabricação de semicondutores em terras americanas. Segundo a secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, a medida visa resguardar a "segurança nacional" americana.

Por que importa: Os Estados Unidos estão notoriamente atrasados na corrida por semicondutores avançados, um problema estratégico que pode comprometer permanentemente a supremacia tecnológica americana em relação à China.

Incentivar a produção desses chips localmente tem sido interpretado por ambos os partidos majoritários americanos como uma medida essencial para frear o aperfeiçoamento da tecnologia chinesa. Com a recente escassez do componente após a Covid, dominar a fabricação de chips tornou-se também essencial para resguardar a indústria.
Atualmente, ambos os países dependem de Taiwan, maior produtor mundial de chips, embora a China venha avançando a passos largos para desenvolver semicondutores modernos em solo próprio.

dica da semana

A morte da rainha Elizabeth II causou reações mistas nas redes sociais chinesas, com vários internautas relembrando as sanguinárias políticas da era colonial.

Para quem quiser entender parte do passado brutal do Reino Unido durante o "século das humilhações" chinês, a dica nesta semana é o excelente "For all the tea in China" de Sarah Rose, livro que narra como emissários da Coroa roubaram mudas de chá e levaram para a Índia, se apropriando das técnicas milenares chinesas para a produção da bebida.

para ir a fundo

No The China Project, Barry van Wyk detalha como a China está se preparando para a nova era da tecnologia na produção de comida. Leitura essencial para quem quer entender o que o agro brasileiro precisa para se manter competitivo. (paywall poroso, em inglês)

A rede Observa China aproveitou o aniversário de 200 anos da Independência brasileira para conversar com dois sinólogos sobre os rumos da diplomacia nacional e as perspectivas das relações com a China. Vale a leitura do artigo. (gratuito, em português)

O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em parceria com a Embaixada da China no Brasil e o Ministério do Comércio da China, realiza um grande evento para discutir o futuro da automação na próxima quarta-feira (14) às 09h. As inscrições estão abertas aqui. (gratuito, em português)

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