Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Putin concede cidadania a Snowden e provoca EUA em meio a escalada da guerra

Nome do americano que vazou segredos do governo aparece em lista divulgada pelo Kremlin

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São Paulo

O presidente Vladimir Putin concedeu nesta segunda-feira (26) a cidadania russa a Edward Snowden, 39, ex-analista de sistemas americano que revelou um sistema de vigilância em massa do governo de seu país.

O nome de Snowden surgiu sem qualquer tipo de comentário em um decreto listando 72 indivíduos estrangeiros que haviam ganhado a cidadania russa.

Edward Snowden fala em videoconferência durante evento para a imprensa em Nova York - Brendan McDermid - 14.set.16/Reuters

O ex-analista fugiu dos Estados Unidos em 2013, depois de expor o funcionamento do vasto sistema de coleta de dados criado pelo governo americano sob a justificativa de combater inimigos após o 11 de Setembro. O processo revelou, entre outras coisas, como era feito o monitoramento de comunicações de cidadãos americanos e estrangeiros, inclusive de líderes de países como Alemanha, França e Brasil.

As autoridades americanas o acusam de espionagem e tentam há anos extraditá-lo para que ele seja julgado criminalmente. Sua atuação como delator divide opiniões em seu país natal, com alguns o tratando como o herói que denunciou os excessos do governo em prol do interesse público e outros o considerando um traidor que pôs a segurança da nação em risco.

Quando fugiu dos EUA, Snowden não pretendia se mudar para a Rússia, mas buscar asilo no Equador –que, na época, também garantia proteção ao fundador do Wikileaks, Julian Assange. Mas, sob pressão dos americanos, o país sul-americano recusou o pedido do ex-analista, que ficou 40 dias no aeroporto de Moscou, onde fazia escala depois de sair de Hong Kong.

Desde então, Snowden mora na Rússia. No final de 2020, ele anunciou que havia entrado com um processo requisitando a cidadania do país. Na época, ele e a mulher, Lindsay Mills, anunciaram que esperavam um filho e argumentaram que a dupla cidadania os ajudaria a viver próximos dele em "uma era de pandemias e fronteiras fechadas".

Naquele mesmo ano, a Rússia concedeu a Snowden direitos de residência permanente, abrindo caminho para a cidadania.

Nesta segunda, horas após a publicação do Kremlin, Snowden comemorou a decisão. "Depois de dois anos de espera e quase dez anos de exílio, um pouco de estabilidade fará diferença para minha família. Eu oro por privacidade para eles —e para todos nós", escreveu em sua conta no Twitter. A publicação é acompanhada de uma foto do ex-analista com a esposa e seus dois filhos.

O timing de aprovação do pedido foi motivo de piada entre os russos, que especularam se o americano seria obrigado a se juntar às forças de Moscou na Guerra da Ucrânia. Na semana passada, Putin anunciou uma mobilização de reservistas para lutar no conflito, a primeira do tipo desde a Segunda Guerra Mundial.

Nesta segunda, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse desconhecer qualquer mudança no status da cidadania americana de Snowden. "Estou familiarizado com o fato de que ele de alguma forma denunciou sua cidadania americana, mas não sei se ele renunciou a ela", disse.

Apesar da circunstância política do anúncio dos russos, Snowden não deve se reunir com Putin tão cedo, segundo afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à agência de notícias estatal Tass.

O presidente russo, um ex-espião da KGB –agência de inteligência da União Soviética–, declarou em 2017 que não achava correta a ação do ex-analista de revelar segredos de Estado americanos, mas que não o considerava um traidor.

"Ele não traiu os interesses de seu país nem entregou informações nocivas para outros países. Tudo que ele fez foi público", disse Putin em uma série de entrevistas a Oliver Stone, documentarista americano e próximo ao Kremlin. "Mas eu acho que ele não deveria ter feito isso; se ele não gostava de alguma coisa em seu trabalho, deveria simplesmente ter se demitido."

Na ocasião, o russo chegou a se comparar com Snowden, alegando que, ao contrário do americano, não havia divulgado informações de seu país após sair da KGB. "Eu pedi demissão porque não concordava com as ações tomadas pelo governo", disse.

Com Reuters

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