Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia isenta banqueiros, jornalistas e pessoal de TI de convocação

Kremlin parece preocupado com a impopularidade da mobilização junto à opinião pública

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São Paulo

A Rússia começou a detalhar nesta sexta (23) as regras da sua mobilização parcial que visa a fornecer 300 mil reservistas para servir na Guerra da Ucrânia. Em meio à grande insatisfação registrada com a medida, pelas informações disponíveis, o Kremlin resolveu poupar algumas categorias particularmente influentes na classe média.

Trabalhadores do setor de tecnologia da informação, banqueiros e jornalistas serão inicialmente poupados, mas as empresas dessas áreas foram orientadas a fornecer listas com seus profissionais para que o Ministério da Defesa faça o escrutínio.

Jovem se despede da família em centro de alistamento russo em Moscou
Jovem se despede da família em centro de alistamento russo em Moscou - Agência de Notícias de Moscou/Reuters

Na redação de um grande órgão estatal russo, segundo um profissional que pediu anonimato, a sensação é de grande ansiedade —como se ninguém soubesse de nada, em suas palavras. Para ser convocado, teoricamente o cidadão precisa receber uma carta em mãos de um policial ou autoridade militar, embora isso não pareça ocorrer em todo o país.

As exceções de certa forma visam categorias que podem reverberar a impopularidade que se espera da medida, principalmente nos grandes centros urbanos, como Moscou e São Petersburgo. É possível especular que jornalistas também não sejam bem-vindos no front, dado que sempre podem divulgar informações que não interessem ao Kremlin.

A mobilização foi decretada na quarta (21) por Valdimir Putin, buscando resolver o principal problema de sua campanha no país vizinho, que invadiu em fevereiro. A insuficiência de tropa é uma questão central para o fracasso da ofensiva inicial, marcada por erros táticos também, e pela perda das áreas ocupadas em Kharkiv (nordeste do país) neste mês.

Desde então surgiram relatos do que seria um êxodo da Rússia na mídia ocidental. Há algumas filas na fronteira de países vizinhos, como Finlândia e Geórgia, e algumas passagens aéreas internacionais, já escassas dado o isolamento imposto a Moscou, multiplicaram de preço.

Até pelo tamanho da Rússia, maior nação do mundo, ainda não é possível cravar o diagnóstico de uma fuga em massa ou algo assim, não menos pela falta de condições financeiras da maioria da população.

Na Finlândia, que segundo agências de notícias estuda impedir a entrada da maioria dos que partem do vizinho, foram cerca de 6.000 russos entre quinta e sexta —o dobro do que se viu na semana anterior, segundo os guardas de fronteira.

De acordo com o que disse o almirante Vladimir Tsimlianski, encarregado de informar os detalhes da mobilização, a prioridade segue sendo convocar pessoas com alguma experiência de combate. Soldados e sargentos, até 35 anos; oficiais subalternos, até 50; e oficiais superiores, até 55 anos.

Estão isentos também da convocação pessoas com quatro ou mais dependentes com menos de 16 anos, quem cuida de familiares vulneráveis, quem é o equivalente a arrimo de família no Brasil, veteranos que deixaram de ser reservistas e russos que moram no exterior e não estão registrados em seções militares no país de origem.

A pasta nega que haverá cotas por entes federais, mas imagens na internet mostram realidades diferentes pelo país —semelhante à mortalidade registrada entre tropas já empregadas na Ucrânia, segundo dados oficiais.

Na siberiana Buriácia, local com mais mortos proporcionais até aqui, vídeos e relatos mostram jovens sendo levados por autoridades a postos de recrutamento. Em Donetsk, região ocupada na Ucrânia que passa por um referendo para ser anexada ao Kremlin, um soldado diz a um eleitor que "agora a brincadeira acabou, você é um soldado", associando o voto à adesão militar.

Na via inversa, o líder da Tchetchênia, Ramzan Kadirov, disse que deixaria sua república fora da mobilização porque "já ultrapassou seu plano de recrutamento antes do anúncio da mobilização".

É verdade, dado que talvez 20 mil tchetchenos tenham já participado de combates na Ucrânia, nos sete meses da guerra. Mas também sinaliza uma insatisfação: aliado próximo de Putin, Kadirov criticou duramente uma troca de 55 prisioneiros russos por mais de 250 ucranianos ocorrida na quinta (22).

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