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Ucrânia acusa Rússia de ataque a comboio de civis que deixou ao menos 30 mortos

Moscou nega ter civis como alvo e culpa as forças ucranianas pela investida em Zaporíjia

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Zaporíjia (Ucrânia) | AFP e Reuters

Ao menos 30 pessoas foram mortas no que a Ucrânia chamou de um "ataque cínico" da Rússia a um comboio de carros no limite da cidade de Zaporíjia, na região sul, nesta sexta (30). Moscou nega ter civis como alvo e devolveu as acusações a Kiev, culpando as forças ucranianas pelo bombardeio com mísseis.

Corpo coberto de vítima de ataque a comboio de civis em estrada perto de Zaporíjia, no sul da Ucrânia - Genia Savilov - 30.set.22/AFP

Outras 88 pessoas ficaram feridas, informou o chefe de polícia Igor Klimenko em uma rede social. Entre as vítimas, detalhou, estão duas crianças —uma menina de 11 anos e um menino de 14. Outra criança de 3 anos também teria sofrido ferimentos.

Os veículos estavam agrupados perto de um mercado de peças automobilísticas, preparando-se para ir do território controlado pela Ucrânia à área conquistada pela Rússia. As pessoas a bordo iam visitar parentes e entregar suprimentos. Um posto havia sido aberto na fronteira dias antes, permitindo o trânsito de civis entre as duas regiões.

O impacto dos mísseis fez com que as janelas se espatifassem e suas partes laterais fossem pulverizadas, além de abrir uma cratera no solo. Segundo relatos de testemunhas, após o ataque havia corpos dentro dos veículos e estirados no chão, alguns deles mutilados.

Os números de feridos variam —enquanto o gabinete do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, contabilizou ao menos 50, a prefeitura de Melitopol, ao sul do alvo do ataque, conta mais de 60.

Zelenski se pronunciou sobre o episódio em uma mensagem no Telegram. "Apenas terroristas completos poderiam fazer isso e não deveriam ter espaço no mundo civilizado", escreveu. "Vocês definitivamente responderão por toda vida ucraniana perdida." Ele chamou a Rússia de "Estado terrorista" e "escória sanguinária".

Líder de uma unidade de descarte de explosivos da polícia de Zaporíjia, o coronel Serguei Ujriumov afirmou que o mercado automobilístico foi atingido por três mísseis S300. Ele disse ainda que o Exército russo sabia que os comboios se organizavam naquele local e planejou deliberadamente o ataque, o que Moscou nega.

A madrugada foi marcada por outros ataques em áreas próximas a Zaporíjia, segundo o New York Times. Em Mikolaiv, cerca de 400 quilômetros a oeste, uma bomba matou três pessoas e feriu outras 19 ao cair sobre um bairro residencial. Em Dnipro, ao norte do local onde os comboios foram atingidos, o alvo foi uma garagem de ônibus. O Exército ucraniano ainda relatou que ao menos seis drones iranianos foram lançados em direção ao sul do país.

A ofensiva aconteceu horas antes de o presidente da Rússia, Vladimir Putin, formalizar a anexação de partes da região de Zaporíjia e de outras três províncias ucranianas ocupadas ao território de seu país.

Após referendos organizados de forma emergencial pelas autoridades de ocupação —e não reconhecidos como legítimos pelo direito internacional— serão incorporadas ainda Lugansk e Donetsk, as duas autoproclamadas repúblicas do Donbass, no leste, e Kherson, no sul ucraniano.

O Ocidente considera os referendos uma farsa, e as anexações, ilegais. As reações de líderes como Joe Biden, presidente dos EUA, António Guterres, secretário-geral da ONU, e Olaf Scholz, premiê da Alemanha, dão o tom da resposta ocidental à ação russa, mas, na prática, parecem ter pouco efeito sobre a decisão de Putin.

Zelenski, por sua vez, afirmou que continuará sua luta até reconquistar todo o território ucraniano. A anexação é parte de uma nova escalada da guerra, promovida por Putin após uma série de derrotas militares na Ucrânia e apostando em uma espécie de tudo ou nada.

A fase inclui ainda a mobilização parcial de 300 mil homens —a primeira do tipo desde a Segunda Guerra— e a ameaça de uso de armas nucleares por parte da Rússia.

A incorporação dos territórios agora, aliás, legitimaria a ameaça nuclear, já que significaria que a Rússia estaria apenas seguindo a própria doutrina militar. Afinal, ao se tornarem parte do território, ataques a essas áreas passam a ser contra a nação russa —e as regras do Kremlin preveem o uso da bomba se houver "risco existencial" ao país.

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