Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Ucrânia desliga maior usina nuclear da Europa em meio a ofensiva contra a Rússia

Decisão foi tomada por razões de segurança e aumenta pressão energética; país relata apagões e acusa Moscou

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Kiev | Reuters e AFP

Ponto estratégico e de tensão recente na Guerra da Ucrânia, a usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, foi desligada por razões de segurança. A estrutura tem provocado temores devido ao potencial de catástrofe radioativa em decorrência do conflito, que completou 200 dias neste domingo (11).

A estatal de energia nuclear ucraniana Energoatom informou que está sendo preparado o resfriamento do reator da usina, que deixou de gerar eletricidade. O complexo era responsável por cerca de 25% da energia do país antes da guerra.

O desligamento só foi possível depois do restabelecimento da eletricidade na região da usina, que havia sido cortada devido a combates —Zaporíjia vinha sendo alimentada por apenas um de seis reatores, que se mantinha operacional e fornecia energia a sistemas de segurança.

Veículo blindado russo estacionado próximo ao complexo nuclea de Zaporíjia, na Ucrânia
Veículo blindado russo estacionado próximo ao complexo nuclea de Zaporíjia, na Ucrânia - Alexander Ermochenko - 1º.set.22/Reuters

De acordo com a Energoatom, o desligamento foi necessário para que o reator permaneça em seu estado mais seguro. "No caso de novos danos nas linhas de transmissão que ligam a usina ao sistema elétrico —o risco permanece alto— as necessidades internas [da usina] terão de ser cobertas por geradores a diesel", afirmou a estatal em comunicado.

O ato faz crescer ainda mais a pressão energética sobre o país invadido, que se prepara para um inverno de escassez à medida que a guerra continua. Na tarde deste domingo, apagões foram relatados nas regiões de Sumi, Dnipropetrovsk e Kharkiv. Nesta última, a administração regional também relatou danos ao sistema de abastecimento de água, acusando as forças russas de atacar a infraestrutura local.

O prefeito Igor Terekhov disse ao jornal The New York Times que a ação era uma "vingança vil e cínica" pelos avanços de Kiev. O presidente Volodimir Zelenski seguiu o mesmo tom. "Vocês acham que nos assustam? Leiam nossos lábios: sem gás ou sem vocês? Sem vocês. Sem luz ou sem vocês? Sem vocês. Sem água ou sem vocês? Sem vocês."

Ele acusou o "apagão total" no leste do país como ato de terrorismo. "Nenhuma instalação militar [foi atingida]. O objetivo é privar o povo de luz e aquecimento", disse, em comunicado.

A usina de Zaporíjia foi tomada por forças russas ainda no começo do conflito. Nos últimos dias, ambos os lados vêm se acusando de travar perigosos combates em torno do complexo, o que aumenta o risco de acidentes com um reator ou depósitos de lixo atômico atingidos.

A missão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para avaliar a situação na usina disse no começo do mês que os combates na região violaram "a integridade física" do local. Desde então, a Energoatom vem reiterando apelos pela criação de uma zona desmilitarizada em torno das instalações.

O presidente russo, Vladimir Putin, também se disse preocupado com a situação. Neste domingo, ele alertou por telefone seu homólogo francês, Emmanuel Macron, sobre a possibilidade de "consequências catastróficas" devido ao que chamou de ataques regulares das forças ucranianas na região.

Putin afirmou que especialistas russos garantem a segurança da usina e voltou a pedir ao Ocidente que aumente a pressão sobre Kiev para que interrompa ações no local. Macron, por sua vez, teria dito que é a ocupação de Moscou a causa maior dos riscos.

O desligamento da usina coincide com a intensificação da contraofensiva ucraniana. Kiev afirmou neste domingo que já retomou em setembro mais de 3.000 quilômetros quadrados no nordeste do país. "Em torno de Kharkiv [segunda maior cidade da Ucrânia] começamos a avançar não apenas a sul e leste, mas também a norte", afirmou em comunicado o general Valeri Zalujni.

O número é aproximadamente 30% superior à área mencionada um dia antes por Zelenski. Neste sábado (10), as forças do país reivindicaram a retomada de territórios em Izium e Kupiansk, entreposto ferroviário que estava sob controle russo havia meses e pelo qual passavam suprimentos enviados de Moscou para o foco principal de sua ação, os combates no Donbass.

A velocidade da contraofensiva aparentemente pegou as forças russas de surpresa. O Exército russo anunciou uma redistribuição de suas forças de Kharkiv para concentrar esforços na região de Donetsk.

Diante da contraofensiva, milhares de pessoas teriam fugido da região de Kharkiv para a Rússia em 24 horas, afirmou neste domingo Viatcheslav Gladkov, governador da região russa de Belgorod, que faz fronteira com a Ucrânia. "Não foram a noite ou a manhã mais tranquilas. Milhares de pessoas cruzaram a fronteira", disse, em um vídeo compartilhado no Telegram.

A maioria foi para casas de parentes ou amigos próximos, segundo Gladkov, que afirmou que a situação estava sob controle neste domingo.

No início deste mês, o Exército ucraniano anunciou pela primeira vez uma contraofensiva no sul, antes de fazer um avanço surpresa nesta semana contra as linhas russas no nordeste do país.

De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), think tank de Washington que divulga relatórios diários sobre o conflito na Ucrânia, as forças ucranianas avançaram em alguns pontos e em cinco dias tomaram "mais território do que foi conquistado pelos russos em todas as suas operações desde abril".

"Armas, armas, armas, é isso que está em nossa agenda desde a primavera. Agradeço aos aliados que responderam ao nosso apelo", disse o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitro Kuleba.

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