Plantação de coca bate recorde na Colômbia e eleva desafio do governo Petro

Líder defende nova estratégia de combate ao narcotráfico no país, que é maior produtor mundial de cocaína

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Bogotá | Reuters

A Colômbia bateu o recorde de área plantada de folha de coca, matéria-prima para a produção de cocaína, no ano de 2021, segundo dados divulgados pela ONU nesta quinta-feira (20). Foram 204 mil hectares, ante 143 mil no ano anterior —aumento de 43%.

A cifra é a mais alta registrada pelas Nações Unidas desde que teve início o levantamento, em 2001. Cresceu, ainda, a fabricação da droga, que tem como principais destinos os EUA e a Europa: de 1.010 toneladas em 2020 para 1.400 no último ano.

Plantação de coca em área parcialmente desmatada no departamento colombiano de Guaviare - Raul Arboleda - 4.nov.21/AFP

O cenário reflete uma tendência de aumento que vem se consolidando ao menos desde 2014 no país, que é o maior produtor mundial de cocaína, afirma o relatório da ONU.

Nos departamentos de Nariño e Putumayo, na fronteira com o Equador, estão as regiões com mais cultivo da planta: quase 90 mil hectares. Em seguida está Catatumbo, na região da divisa com a Venezuela, com pouco mais de 42.500.

Segundo a análise da ONU, o aumento é fruto de fatores como a vulnerabilidade social, o crescimento da demanda global pela droga e o fortalecimento de grupos armados que lucram com esse mercado.

A alta histórica corresponde ao último ano do governo do direitista Iván Duque. Seu sucessor, Gustavo Petroprimeiro líder de esquerda eleito no país latino-americano— tem criticado o modelo de guerra às drogas adotado na região, descrevendo-o como um fracasso.

Durante a apresentação do relatório na capital Bogotá, o ministro da Justiça colombiano, Néstor Osuna, retomou o mote do governo. "Os números são uma demonstração visível do fracasso da guerra contra as drogas; são uma evidência técnica e ponto de partida para a construção de uma nova política."

Osuna disse que em breve o governo Petro deve apresentar uma nova estratégia contra o narcotráfico e adiantou que o plano não deve prever a legalização da cocaína —mas adendou que, algum dia, o comércio e o tráfico precisarão ser regulamentados.

Em setembro, Petro dedicou seu discurso no púlpito da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, para criticar o modelo de combate ao narcotráfico. Disse, entre outras coisas, que o modelo atual "apenas produziu um genocídio e condenou à prisão milhares de pessoas para ocultar a culpa do poder mundial".

O relatório da ONU demonstra que grande parte do cultivo de coca está concentrada em terras de comunidades majoritariamente negras ou em reservas florestais. Autoridades afirmam que a atividade é, em grande parte, causadora do desmatamento na Amazônia.

Em um encontro entre Petro e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no início deste mês, os dois países afirmaram concordar com o plano de buscar uma nova política de combate às drogas que vá além da repressão aos produtores e consumidores.

O líder esquerdista tem falado principalmente dos camponeses que plantam coca, descrevendo-os como vítimas da repressão estatal. Milhares de produtores da folha, na ponta da cadeia da atividade, formam parte das 17 mil pessoas presas e condenadas por tráfico, fabricação ou portes de entorpecentes.

Esse é apenas um dos desafios do governo. Pesquisa divulgada pelo instituto Invamer nesta quinta-feira mostra Petro com 40% de desaprovação —20 pontos percentuais a mais do que há dois meses. Foram ouvidos 1.200 colombianos, e o levantamento tem margem de erro de 3 pontos.

Para 64% dos entrevistados, a situação do país tem piorado nos últimos meses, em parte devido à alta da inflação e do desemprego, que chega a mais de 10% da população economicamente ativa.

Petro, nesta quarta (19), culpou Washington pela crise em sua política econômica: "Os EUA praticamente estão arruinando todas as economias do mundo". Segundo o esquerdista, os países enfrentam ameaças de recessão agravadas pela taxa de juros fixada pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

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