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China vive encruzilhada com Covid zero e 21% do PIB em lockdown

Edição da newsletter China, terra do meio explica como uma reabertura impactaria a economia e o sistema de saúde do país

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Igor Patrick
Washington

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Cidades que respondem por 21% do PIB chinês estão em lockdown para conter o avanço da Covid-19, estimou um relatório da consultoria Nomura divulgado nesta quinta (24). A expectativa é que o número suba para 30% nas próximas semanas.

A estatística mostra o quão difícil se tornou controlar as infecções pela doença no país mais populoso do mundo. As principais metrópoles chinesas —Pequim, Xangai, Guangzhou e Chongqing— vêm registrando recordes sucessivos em números de casos, embora relutem em trancar todos os habitantes, temendo repercussões econômicas e financeiras.

O relatório aponta "deterioração generalizada em indicadores de mobilidade e negócios" na China. Com endividamento recorde nos governos locais, falta dinheiro para continuar financiando testes em massa frequentes e a abertura de novas instalações de quarentena centralizada, o que dificulta o controle do vírus.

Profissionais de saúde levam testes de Covid em bicicletas nas ruas de Pequim, na China - Jade Gao - 24.nov.22/AFP


Economistas ouvidos pelo jornal honconguês South China Morning Post avaliam que o número alto de casos diários indica que a China atingiu o "ponto de não retorno" e dificilmente conseguirá zerar as infecções, a menos que adote um lockdown tão rigoroso quanto o de Xangai no início do ano.

Reabrir o país imediatamente, porém, não é uma opção —a Bloomberg estima que a medida levaria a uma demanda de 5,8 milhões de leitos de UTI, muito acima da capacidade do sistema de saúde chinês. Os dados oficiais mostram que a China tem 4 leitos de UTI por 100 mil habitantes, número bem abaixo dos 27 nos Estados Unidos e 20 no Brasil, por exemplo.

O estudo da Bloomberg também mostra que, se o volume de infecções pela ômicron na China seguir os padrões observados nos EUA ou na Europa, os seis primeiros meses de surto da variante na China levariam a 363 milhões de infecções e pelo menos 620 mil mortes.

Por que importa: como contei na Folha nesta semana, a liderança chinesa está ciente dos efeitos da Covid na economia e busca alternativas para reabrir o país de forma cautelosa.
Autoridades sanitárias vêm apostando todas as fichas em vacinas inaláveis, e a máquina de propaganda reverteu a narrativa: se antes a prioridade era mostrar vitória sobre o vírus, agora a estratégia é mostrar que a variante é muito menos agressiva que a cepa original de Wuhan.

Os dados mostram que a China chegou a uma encruzilhada.

  • Se não reabre, certamente verá sua economia encolher significativamente.
  • Se reabrir, arrisca ter de lidar com um caos no sistema de saúde, arranhando a estabilidade e a legitimidade do Partido Comunista
Grades são usadas para delimitar áreas residenciais em lockdown em Pequim - Jade Gao 24.nov.2022/AFP

o que também importa

A China vai iniciar um projeto inédito que pretende coletar energia solar no espaço e enviá-la para a Terra. Os planos foram anunciados pelo designer-chefe da estação espacial chinesa Tiangong, Yang Hong.

Segundo o cientista, a ideia é instalar uma usina de energia solar espacial com 1 quilômetro de largura, capaz de irradiar micro-ondas a uma distância de 36 mil quilômetros da Terra. Os feixes penetrariam as nuvens e seriam captados por antenas capazes de absorver e distribuir energia elétrica para qualquer lugar no território.

O projeto, porém, traz desafios. Há preocupações sobre possíveis consequências à saúde humana e ao ambiente, além de possíveis interferências em satélites de comunicação. A transmissão pode causar calor excessivo difícil de conter em ambiente espacial, e especialistas temem que a tecnologia possa ser reconvertida para fins militares.

Os chineses preveem que a iniciativa já consiga alimentar postos militares na década de 2030, enquanto a expectativa é gerar energia elétrica suficiente para alimentar estações comerciais em torno de 2050.

O governo taiwanês vai investigar um oficial de infantaria suspeito de receber pagamentos mensais da China para reunir informações sensíveis e se render em caso de guerra.

Segundo a denúncia, o coronel vinha recebendo cerca de NT $ 40 mil (cerca de R$ 7.000) mensalmente desde 2019, quando foi recrutado como espião. O Ministério da Defesa taiwanês reagiu ao caso dizendo que as acusações mostram "como a infiltração e o recrutamento do Partido Comunista Chinês, a coleta de informações e o roubo de segredos se tornaram uma séria ameaça".

O militar não teve a identidade revelada, e autoridades da Defesa disseram que vão iniciar um trabalho mais robusto para adestrar as tropas e educá-las contra possíveis esforços de espionagem da China continental.

fique de olho

China e Estados Unidos estariam trabalhando para restaurar canais não oficiais de contato. Segundo relatos da imprensa, um grande grupo de acadêmicos, empresários e oficiais do governo chinês se encontrou com ex-funcionários e empresários americanos em Nova York.

  • O lado chinês contava com vários nomes importantes, como o ex-ministro do comércio Chen Deming e o ex-embaixador chinês nos EUA Cui Tiankai;
  • Já entre os americanos estavam o ex-secretário de Estado Henry Kissinger e o ex-presidente e CEO da seguradora American International Group Maurice Greenberg. Ambos são conhecidos por terem boa interlocução no governo dos Estados Unidos e manterem laços estreitos com a China.

Segundo o Wall Street Journal, a reunião contou com o apoio informal da chancelaria chinesa e do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. O jornal afirma que a China esperava usar o encontro para retomar diálogos por meio da "diplomacia informal", promovida por think tanks e grupos industriais de ambos os lados.

Por que importa: foram justamente encontros entre civis que restabeleceram as relações diplomáticas entre os dois lados no passado. O próprio Kissinger foi fundamental no processo, ao reconhecer que o então líder chinês Mao Tse-tung vinha tentando sinalizar abertura aos EUA por meio do jornalista americano Edgar Snow, um notório simpatizante da causa comunista chinesa.

A expectativa é que esses encontros, interrompidos há quase três anos devido à pandemia, ajudem a reduzir a desconfiança mútua que tem erodido os laços sino-americanos.

O ex-secretário de Estado Henry Kissinger e o líder chinês, Xi Jinping, encontraram-se em Pequim em 2018
O ex-secretário de Estado Henry Kissinger e o líder chinês, Xi Jinping, encontraram-se em Pequim em 2018 - Thomas Peter - 8.nov.18/AFP

para ir a fundo

  • O Instituto Confúcio da Universidade Federal de Goiás vai inaugurar um centro de medicina chinesa. A cerimônia para lançar a novidade acontece no dia 8 de dezembro, às 9h, no auditório da Faculdade de Letras da UFG. (gratuito)
  • A Coordenadoria de Estudos da Ásia da UFPE realizou um evento online nesta semana para discutir a tradição do sistema legal chinês. A transmissão foi gravada e disponibilizada no canal do grupo no YouTube. (gratuito, em português)
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