Enquanto a nevasca que matou ao menos 60 pessoas nos EUA perde força, os americanos seguem sofrendo com as consequências do fenômeno climático. Em aeroportos, milhares acompanham cancelamentos e adiamentos de voos, em especial da Southwest Airlines, uma das maiores do país.
O problema começou ainda na semana passada, justamente devido à forte tempestade de inverno. Na ocasião, várias companhias tiveram que cancelar voos por motivos de segurança. Agora, porém, enquanto o setor aéreo vem voltando ao normal, a Southwest segue com grande parte de sua frota paralisada.
Só nesta quarta (28), a companhia cancelou mais de 2.500 voos, 62% dos programados para o dia, segundo o serviço de rastreamento FlightAware. Outros 2.300 marcados para quinta também foram cancelados. De acordo com a empresa, pode levar dias para que o serviço seja completamente retomado.
"Não estou brava com eles", disse ao New York Times a passageira Tearsa Aisani Parham, em uma fila no aeroporto internacional de Atlanta. "Estou brava com a maneira como eles fizeram isso." Na sexta (23), cerca de 1.300 voos da Southwest –34% dos voos programados para o dia– foram cancelados. Na ocasião, outras companhias aéreas também tiveram dificuldades e cancelaram 22,5% de seus voos.
Mas, à medida que outras empresas resolveram o imbróglio, os problemas pioraram na Southwest. A empresa cancelou 39% de seus voos no sábado, 46% no domingo e 74% na segunda. No total, quase 11 mil voos da companhia foram cancelados desde quinta-feira, de acordo com o FlightAware.
Por isso, o secretário de Transportes Pete Buttigieg disse que as interrupções no cronograma não eram mais um problema causado pelo clima e que o episódio mostra uma "falha no sistema da empresa".
"Já passamos do ponto em que eles poderiam dizer que é um problema causado pelo clima", afirmou Buttigieg em entrevista à ABC News. "Eles precisam garantir que esses passageiros retidos cheguem aonde precisam ir e que recebam uma compensação adequada, não apenas pelos voos em si, mas também por hospedagem, transporte e refeição", acrescentou. Um dia antes, o executivo-chefe da Southwest, Bob Jordan, pediu desculpas em um vídeo e confirmou que os problemas não devem ser resolvidos rapidamente. "Estamos otimistas de voltar aos trilhos antes da próxima semana", afirmou.
Segundo o New York Times, a origem do problema está no modelo de aviação da empresa: a Southwest é a única companhia do país a adotar o sistema "ponto-a-ponto", no qual os aviões tendem a voar de um destino a outro sem retornar a um ou dois hubs principais. Assim, a agilidade da frota é prejudicada caso algum fenômeno climático obrigue o cancelamento ou o atraso de voos.
Americanos procuram culpados pelas mortes
Moradores das cidades mais afetadas pela nevasca agora tentam achar os responsáveis pelos desastres dos últimos dias. Segundo o Washington Post, a população do estado de Nova York se questiona sobre a demora do governo local em proibir que as pessoas saíssem de casa em meio à tempestade –um porta-voz da cidade de Buffalo disse que mais da metade das mortes ocorreu do lado de fora das residências.
O condado de Erie, por exemplo, emitiu uma proibição de viagem pouco antes das 9h de sexta, dando aos motoristas apenas 41 minutos de alerta. Nessa hora, segundo o jornal, várias pessoas já estavam no trânsito em direção ao trabalho. Ao menos 28 pessoas morreram no condado.
Em outra frente, aponta a reportagem, autoridades locais teriam minimizado a força da nevasca e presumido que já estavam prontas para esse tipo de situação. Erro de cálculo, ainda mais para um estado com uma equipe de emergência 10% menor do que no mês passado –problema causado por baixos salários e esgotamento. Em áreas rurais, muitos socorristas atualmente são voluntários.
Além disso, a população de Buffalo reclama da falta de vagas em abrigos. Muitos residentes vivem em prédios precários, e a falta de energia os deixou sem comida, aquecimento e água corrente desde sexta.
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