Presidente do Irã diz que não haverá piedade para inimigos que inflamam manifestações

Protestos após morte de Mahsa Amini caminham para quarto mês; repressão matou mais de 500 pessoas, segundo ativistas

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Teerã | AFP

O presidente do Irã, o ultraconservador Ebrahim Raisi, disse nesta terça-feira (27) que "não haverá piedade" para aqueles que forem hostis à teocracia em manifestações que já duram mais de cem dias no país e configuram o maior desafio ao regime em anos.

Os protestos, chamados de distúrbios pelas autoridades iranianas, começaram em meados de setembro, após a morte de Masha Amini, 22. A jovem curda havia sido detida em Teerã pela chamada polícia moral, acusada de supostamente não vestir de forma correta o hijab —véu islâmico obrigatório para mulheres no país.

Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, discursa em Teerã, após uma procissão fúnebre carregando os restos mortais de 200 soldados iranianos recuperados de antigos campos de batalha da guerra Irã-Iraque (1980-1988)
Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, discursa em Teerã, após uma procissão fúnebre carregando os restos mortais de 200 soldados iranianos recuperados de antigos campos de batalha da guerra Irã-Iraque (1980-1988) - AFP

"Os hipócritas, os monarquistas, as correntes contrarrevolucionárias e todos os prejudicados pela revolução se juntaram às manifestações", disse Raisi a uma multidão reunida em frente à Universidade de Teerã para homenagear os 200 soldados mortos durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988).

"Os braços da nação estão abertos a todos aqueles que foram enganados. Os jovens são nossos filhos, mas não teremos piedade com elementos hostis."

As autoridades iranianas acusam os Estados Unidos e outros países ocidentais de estarem por trás das manifestações, insuflando-as como forma de desgastar o regime do aiatolá Ali Khamenei. No domingo (25), Teerã anunciou a prisão de sete pessoas ligadas ao Reino Unido acusadas de inflamar os protestos.

"Se eles pensam que vão atingir seus objetivos espalhando boatos e dividindo a sociedade, estão enganados", declarou Raisi. "Querem nos enganar, mas nós os conhecemos e também conhecemos nossa nação."

A guerra entre Irã e Iraque é um dos pilares da conturbada relação entre Teerã e Washington. Um ano após a Revolução Islâmica –movimento que tirou do poder um primeiro-ministro aliado dos americanos e instaurou um regime baseado em leis religiosas–, o Iraque invadiu o Irã, alegando interferência do regime na política do país.

Os EUA deram apoio financeiro, tecnológico e de treinamento militar a Bagdá até o fim da guerra. Cerca de 500 mil pessoas morreram nos conflitos, a maioria do lado de Teerã.

Na repressão do regime aos protestos deste ano, um general iraniano admitiu, ainda no final do mês passado, que ao menos 300 pessoas morreram, incluindo dezenas de agentes das forças de segurança. Outras milhares foram presas, sendo que 11 acabaram condenadas à morte pelo regime –ao menos 2 já foram executadas.

Organizações de defesa dos direitos humanos sediadas fora do Irã apresentam, entre uma série de violações, números ainda maiores. Pela conta da HRANA, seriam 507 manifestantes mortos pela polícia e por militares, incluindo 69 menores, além de 66 agentes das forças de segurança. Em relação às detenções, seriam mais de 18,5 mil —a maioria das quais já foi solta, na versão do regime.

Na semana passada, o Conselho de Direitos Humanos da ONU nomeou três mulheres –uma ativista argentina, uma advogada bengali e uma professora de direito paquistanesa– para investigar a repressão violenta do regime aos atos. Ainda é improvável, porém, que as nomeadas consigam visitar o país do Oriente Médio, já que a ida depende da autorização de autoridades iranianas.

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