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Presidente do Parlamento Europeu promete reformas após escândalo de corrupção com o Qatar

Suposto esquema envolvendo vice-presidente da Casa colocou credibilidade do órgão em xeque

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Bruxelas | Reuters e AFP

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse aos líderes da União Europeia nesta quinta-feira (15) que vai liderar uma série de reformas para endurecer os mecanismos de fiscalização e evitar mais escândalos de corrupção. Na semana passada, a Justiça belga anunciou a prisão de quatro pessoas suspeitas de receber propinas do Qatar em troca de garantir influência do país do Golfo no bloco.

Aos 27 chefes de governo da UE Metsola disse em uma cúpula em Bruxelas que o esquema mostra que "pessoas ligadas a governos autocráticos" estariam tentando subverter a democracia do continente.

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, participa de entrevista coletiva durante cúpula da União Europeia, em Bruxelas
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, participa de entrevista coletiva durante cúpula da União Europeia, em Bruxelas - John Thys - 15.dez.22/AFP

Apesar da promessa de reformas, a presidente disse que sempre haverá pessoas "para quem um saco de dinheiro sempre vale o risco". "É fundamental que essas pessoas entendam que serão pegas. Que haverá consequências. Que nossos serviços funcionam e que elas enfrentarão toda a extensão da lei."

Horas depois, Metsola disse em entrevista coletiva que o Parlamento vai investigar ONGs com as quais a Casa tem ligações e aumentar os níveis de controle de quem pode entrar em suas instalações.

Segundo a maltesa, o Parlamento já desmantelou a No Peace Without Justice, ONG italiana cujo secretário-geral, Niccolo Figa-Talamanca, é um dos acusados de corrupção e lavagem de dinheiro no caso apelidado de Qatargate. A organização, por sua vez, disse que Figa-Talamanca abandonou o cargo para proteger a entidade, mas que confia que a investigação mostrará que ele agiu corretamente.

Na terça (13), o Parlamento destituiu a eurodeputada grega Eva Kaili do cargo de vice-presidente por 625 votos a 1 –e duas abstenções. Ela foi presa na semana passada, acusada de receber propinas do Qatar. Um dos focos da investigação é uma empresa imobiliária recém-criada pela eurodeputada junto a um italiano no bairro de Kolonaki, uma área luxuosa em Atenas.

No fim de semana, o Parlamento Europeu já havia suspendido Kaili de suas funções na Casa, e seu partido, o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), disse que a expulsaria de suas fileiras.

Kaili nega as acusações. Seu advogado, Michalis Dimitrakopoulos, alega que a eurodeputada se sentia traída pelos colegas, "que fazem parecer que ela tinha uma agenda pessoal com o Qatar com base em suposições de que ela aceitou propinas".

Os argumentos da eurodeputada, porém, contrastam com os do seu companheiro, outro dos quatro detidos. De acordo com reportagens dos jornais Le Soir, da Bélgica, e La Repubblica, da Itália, Francesco Giorgi confessou envolvimento no esquema de corrupção e ainda incluiu autoridades marroquinas no escândalo. Giorgi é assessor de um eurodeputado italiano.

Segundo as publicações, ele afirmou aos investigadores que seu papel na organização era gerenciar o dinheiro vivo. Ele também apontou a participação de mais dois eurodeputados no esquema, incluindo o belga Marc Tarabella –cuja residência foi revistada em operações policiais no último sábado (10).

Uma das atribuições de Kaili como vice-presidente era representar a presidente do Parlamento. Em novembro, ao visitar o país-sede da Copa, ela parabenizou o ministro do Trabalho pelas reformas e disse que o Qatar é um líder no setor. As legislações trabalhistas do país, porém, são alvo de críticas e denúncias de violações por parte de organizações de direitos humanos.

O escândalo, em alguma medida, pode afetar a relação entre o bloco e o Qatar —que, com a Guerra da Ucrânia, tornou-se opção para o fornecimento de gás; no mês passado, Doha fechou um acordo com a Alemanha por ao menos 15 anos. Durante a cúpula desta quinta, aliás, o presidente da França, Emmanuel Macron, foi questionado sobre sua visita ao país do Oriente Médio na véspera para assistir ao jogo da seleção francesa pelas semifinais da Copa do Mundo. "Assumo completamente", declarou. "Há quatro anos estive com a seleção na Rússia e, agora, estou com eles no Qatar."

Mas ele reconheceu a gravidade das suspeitas e elogiou o que chamou de transparência das apurações. "Temos que conhecer os fatos, entender quem está envolvido e depois tomar as medidas apropriadas."

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