Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Putin chama guerra de guerra pela primeira vez e vira alvo de processo

Rússia se refere à invasão como 'operação militar especial'; presidente é acusado de 'espalhar notícias falsas'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Londres | Reuters

Um político de São Petersburgo pediu aos promotores que investiguem o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por usar a palavra "guerra" para descrever a Guerra na Ucrânia, acusando o chefe do Kremlin de violar sua própria lei.

Durante os dez meses do conflito, Putin descreveu a invasão como uma "operação militar especial". Ele assinou leis em março que preveem multas pesadas e penas de prisão por desacreditar ou espalhar "informações deliberadamente falsas" sobre as Forças Armadas, colocando as pessoas em risco de serem processadas se chamarem a guerra pelo nome.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante entrevista coletiva em Moscou - Valery Sharifulin/Sputnik - 22.dez.22/via AFP

Mas ele se afastou de sua linguagem habitual nesta quinta-feira (22), quando disse a repórteres: "Nosso objetivo não é girar o volante do conflito militar, mas, ao contrário, acabar com esta guerra".

Nikita Iuferev, um conselheiro da oposição na cidade onde Putin nasceu, disse que sabia que sua contestação legal não levaria a lugar nenhum, mas a apresentou para expor o que ele chama de "falsidade" do sistema.

"É importante para mim fazer isso para chamar a atenção para a contradição e a injustiça dessas leis que ele [Putin] adota e assina, mas que ele mesmo não observa", disse Iuferev à agência de notícias Reuters. "Acho que quanto mais falarmos sobre isso, mais as pessoas duvidarão de sua honestidade, de sua infalibilidade, e menos apoio ele terá."

Em sua contestação, apresentada em carta aberta, Iuferev pediu ao procurador-geral e ao ministro do Interior que "responsabilize Putin perante a lei por espalhar notícias falsas sobre ações do Exército russo". Observou ainda que críticos do presidente que chamaram a guerra de guerra publicamente sofreram duras punições.

O político da oposição Ilia Iachin foi condenado a oito anos e meio de prisão neste mês por espalhar "informações falsas" sobre o Exército. Em julho, o vereador Alexei Gorinov foi condenado a sete anos por criticar a invasão.

Iuferev disse que já havia chamado a atenção das autoridades para o uso da palavra "guerra" por outras figuras proeminentes, incluindo Serguei Kirienko, vice-chefe da administração presidencial, e o importante legislador Serguei Mironov.

Segundo o denunciante, a polícia disse que examinou a queixa contra Kirienko e que descobriu que ele não havia feito nada de errado. Os agentes teriam se recusado a investigar o caso de Mironov.

Depois de publicar a carta aberta sobre Putin, Iuferev disse ter recebido centenas de mensagens de ódio. Mas ele afirmou acreditar que a maioria dos russos entende o que realmente está acontecendo na Ucrânia.

"Guerra, na sociedade russa, é uma palavra assustadora. Todo mundo é criado por avós que viveram a Segunda Guerra Mundial, todo mundo se lembra do ditado ‘tudo menos guerra'", disse ele.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.