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Colômbia suspende cessar-fogo com ELN após guerrilha desmentir acordo

Ministério do Interior afirma que decisão se dá diante de recusa do grupo em interromper operações ofensivas

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Bogotá | AFP e Reuters

O governo da Colômbia suspendeu nesta quarta-feira (4) o cessar-fogo que havia declarado com o ELN (Exército de Libertação Nacional), como parte de um acordo envolvendo outros quatro grupos armados do país anunciado na virada do ano.

De acordo com o ministro do Interior, Alfonso Prada, a decisão se dá diante da recusa da guerrilha em interromper suas operações ofensivas —na terça-feira (3), o grupo afirmou não ter debatido nenhuma proposta bilateral de trégua com a gestão de Gustavo Petro e chamou o acordo de unilateral.

"Tendo em conta a posição publicamente assumida [pelo ELN], decidimos suspender os efeitos jurídicos do decreto", anunciou Prada em fala à imprensa.

O ministro do Interior da Colômbia, Alfonso Prada, fala à imprensa sobre o cessar-fogo entre as Forças Armadas e o ELN ao lado do alto comissário para a paz do país, Danilo Rueda, e o ministro da Defesa, Iván Velázquez, em Bogotá - Luisa Gonzalez/Reuters

Com validade de seis meses, de 1º de janeiro a 30 de junho deste ano, o cessar-fogo incluía ainda os grupos armados Segunda Marquetalia, Estado-Maior Central, Autodefesas Unidas da Colômbia e Autodefesas de Serra Nevada —com os quais, segundo o titular do Interior, o pacto continua em vigor.

Prada acrescentou que a questão envolvendo o ELN voltará a ser discutida numa segunda etapa das negociações de paz, que será realizada no México. A trégua bilateral com a guerrilha é uma prioridade da política de "paz total" de Petro, que busca acabar com o conflito armado que persiste mesmo com a dissolução, em 2017, das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Primeiro presidente de esquerda do país e ele próprio um ex-guerrilheiro, Petro prometeu acabar com o conflito civil na nação andina, que já dura quase seis décadas e deixou pelo menos 450 mil mortos entre 1985 e 2018.

Considerada a última guerrilha em atividade na Colômbia, o ELN nasceu na década de 1960 e é conhecido por ter, desde então, apego mais sistemático a ideias marxistas. Sua atuação se concentrou em sequestros, extorsões e participação no narcotráfico. O fim das Farc abriu novas rotas, facilitando a entrada do grupo em território venezuelano, onde hoje possui quartéis e acampamentos de treinamento.

A guerrilha iniciou as negociações com o governo em novembro. No início de dezembro, declarou uma trégua unilateral de nove dias durante o período de Natal e completou o primeiro ciclo de diálogos de paz na capital venezuelana, Caracas. Já o Segunda Marquetalia e o Estado-Maior Central mantinham "diálogos exploratórios" separadamente com representantes de Petro.

As AGC, por sua vez, lideradas no passado pelo capo Otoniel, extraditado aos EUA, são o maior grupo de narcotraficantes da Colômbia. Assim como as Autodefesas de Serra Nevada, são formadas por remanescentes dos paramilitares de extrema direita que se desmobilizaram no início dos anos 2000.

Todos esses grupos somam mais de 10 mil homens armados, envolvidos em disputas pelo controle do narcotráfico e de outros negócios ilícitos no maior produtor mundial de cocaína, de acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), um centro de pesquisa independente.

Apesar dos avanços nos diálogos com os diferentes grupos armados, o governo até agora não conseguiu conter a espiral de violência que envolve o país. O Indepaz registrou quase cem massacres em 2022.

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