Passageiro fez transmissão ao vivo de avião no Nepal momentos antes de queda

Registro em live no Facebook indica que explosão foi súbita; número de mortos encontrados sobe a 70

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São Paulo

Autoridades do Nepal confirmaram nesta segunda-feira (16) que as caixas-pretas do avião da Yeti Airlines que caiu na véspera foram recuperadas. Na retomada das operações de resgate também foram encontrados mais dois corpos —das 72 pessoas a bordo, 70 já foram encontradas, e não há esperança de que os dois desaparecidos sejam achados com vida.

Os instantes que antecederam a queda do avião neste domingo (15) foram transmitidos ao vivo no Facebook por um grupo de amigos indianos que fazia a viagem a turismo.

No vídeo, um dos indianos filma a paisagem pela janela enquanto brinca e faz piadas com os amigos. Os demais passageiros também parecem calmos, sem haver qualquer indício de alarme por parte da equipe a bordo nas preparações para a aterrissagem. De repente, no entanto, há um ruído alto, e a tela é invadida por labaredas.

ATENÇÃO: O VÍDEO A SEGUIR CONTÉM IMAGENS FORTES

De acordo com o jornal britânico The Guardian, a transmissão foi feita pelo empresário Sonu Jaiswal, 29, pai de três filhos. Seus companheiros de viagem eram Anil Rajbhar, 28, Vishal Sharma, 23, e Abhishek Singh Kushwaha, 23, todos moradores do distrito de Ghazipur, no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia.

Suas identidades foram confirmadas pela polícia local. A Folha entrou em contato com a Meta, empresa que administra o Facebook, para confirmar a veracidade do vídeo, mas não obteve resposta.

O quarteto estava no voo entre a capital, Katmandu, e Pokhara, segunda maior cidade do Nepal e uma das rotas turísticas mais populares do país. Outra pessoa a bordo já identificada era membro da tripulação, a copiloto Anju Khatiwada, 44. Seu marido, também piloto de aviões, morreu em outro acidente aéreo há quatro anos, também numa queda ocorrida minutos antes da aterrissagem.

O governo nepalês criou uma comissão para investigar as causas do acidente com o ATR 72 e deve apresentar um relatório em 45 dias.

Segundo as autoridades, as duas caixas-pretas —o CVR, que armazena os áudios da cabine do piloto, e o FDR, que registra dados sobre o voo e a situação da aeronave— foram encontradas. Uma autoridade do aeroporto de Katmandu afirmou que ambos os equipamentos estão em bom estado e serão enviados para análise.

Leis internacionais determinam que a agência de aviação do país em que a aeronave foi desenhada e construída seja implicada nas investigações automaticamente. Por isso, as agências de aviação da França e do Canadá foram envolvidas no caso —a ATR, empresa fabricante do avião, é francesa, e os motores do veículo foram produzidos pela canadense Pratt & Whitney.

Devido ao acidente, a Yeti Airlines cancelou todos os seus voos programados para esta segunda-feira. Em nota, a Autoridade Civil de Aviação do Nepal afirmou que inspecionou todas as 19 aeronaves ATR que operam no país e nenhuma apresentou problemas técnicos.

O acidente deste fim de semana é o mais mortal do Nepal desde 1992. Na ocasião, um Airbus A300 da Pakistan International Airlines caiu em uma encosta ao se aproximar de Katmandu, matando todas as 167 pessoas a bordo. Ao menos 309 pessoas morreram desde 2000 em quedas de avião ou helicóptero no Nepal. O país abriga 8 das 14 montanhas mais altas do mundo, incluindo o Everest, e o clima da região pode mudar repentinamente e criar condições perigosas para voos.

Devido à falta de treinamento da equipe e de manutenção, empresas aéreas do Nepal geralmente sofrem com problemas de segurança. As companhias locais são, por exemplo, proibidas de sobrevoar o espaço aéreo da União Europeia desde 2013. O país do Himalaia também possui algumas das pistas mais remotas e problemáticas do mundo, ladeadas por picos cobertos de neve que tornam a aproximação desafiadora até mesmo para pilotos experientes.

As companhias indicam que o Nepal não possui infraestrutura para divulgar previsões meteorológicas precisas, principalmente nas regiões mais remotas e de difícil relevo montanhoso, onde foram registrados acidentes fatais nos últimos anos.

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