Alemanha veta exportação de blindado brasileiro após Lula negar munição

Guarani tem componentes alemães e iria para as Filipinas em contrato negociado por Israel

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São Paulo

A Alemanha decidiu embargar a exportação de 28 blindados fabricados no Brasil para as Filipinas, movimento visto no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como retaliação pela negativa do presidente de vender munição de tanques para Berlim repassar à Ucrânia em sua luta contra a Rússia.

O caso foi revelado pela revista Veja. A venda havia sido fechada em 2021 entre a empresa israelense Elbit e o Exército filipino, incluindo tanques e outros materiais, como blindados de transporte de tropas.

Blindados Guarani do Exército Brasileiro durante exercício de tiro no Rio de Janeiro
Blindados Guarani do Exército Brasileiro durante exercício de tiro no Rio de Janeiro - Eduardo Naddar - 13.jul.16/Folhapress

Neste último item, a Elbit escolheu o modelo Guarani, desenvolvido pelo Exército brasileiro com a empresa italiana Iveco e fabricado em Sete Lagoas (MG). O Brasil detém uma parte da propriedade intelectual do blindado e recebe royalties a cada unidade exportada —ele já foi vendido para o Líbano, por exemplo.

A Alemanha alegou, segundo informações extraoficiais do Ministério da Defesa, que os componentes de origem germânica do blindado não podem ser vendidos a terceiros sem sua autorização. Assim, o Escritório Federal de Economia e Controle de Exportação determinou a suspensão do envio.

Há uma versão entre conhecedores do mercado que isenta a Alemanha da acusação de retaliação. Segundo ela, o governo de Israel sabia da restrição à exportação e continuou com o negócio de todo modo, contando que haveria uma solução política para o caso. A Folha não conseguiu validar essa versão.

O Itamaraty afirma não ter conhecimento da decisão alemã, e o Exército não comentou o caso.

Cinco Guarani já estavam prontos para envio. A fatia do contrato dedicado aos veículos é estimada em US$ 47 milhões (R$ 243 milhões). A reportagem tentou contato com a embaixada da Alemanha em Brasília e com a Iveco na tarde desta sexta (24), sem sucesso.

Segundo pessoas com conhecimento do caso no governo, ainda há espaço para negociar —ou também pode haver a substituição dos itens alemães nos armamentos por componentes de outra origem. Boa parte do recheio eletrônico e os sensores deste Guarani sob medida são, por exemplo, israelenses.

Em janeiro, a Folha revelou que Lula se recusou a repassar R$ 25 milhões em munições para tanques Leopard-1 que a Alemanha queria enviar a Kiev, alegando que não seria o caso de contrariar a Rússia.

A posição foi reafirmada pelo presidente ao premiê alemão, Olaf Scholz, durante visita a Brasília. O Brasil procura uma postura independente, mantendo relações com Moscou e condenando tanto a invasão que completou um ano nesta sexta (24) quanto o regime de sanções imposto pelo Ocidente aos russos.

Já era assim sob Jair Bolsonaro (PL), cujo governo foi sondado para enviar munição a blindados de defesa antiaérea Gepard que Berlim doou para Kiev. O Brasil importa cerca de 30% dos fertilizantes que consome da Rússia, e agora Lula tenta apadrinhar a criação de um grupo para discutir o fim do conflito.

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