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Xi Jinping deve viajar para Moscou, onde se reunirá com o líder russo, Vladimir Putin, para discutir a Guerra da Ucrânia, revelou o Wall Street Journal na quarta (23).
Segundo a publicação, o dirigente chinês deve reforçar o pedido para que o chefe do Kremlin não utilize armas nucleares e se engaje em negociações de paz.
O terreno vem sendo preparado por Wang Yi, principal diplomata chinês, que visitou o Ministério das Relações Exteriores russo na terça (21). Veículos como WSJ, Bloomberg e outra da mídia estatal chinesa divulgaram que os chineses querem oferecer um acordo que congelaria o avanço das tropas russas em troca do fim imediato da ajuda militar ocidental à Ucrânia. A versão é creditada a fontes não identificadas.
Os EUA reagiram. Por meio do secretário de Estado, Anthony Blinken, acusaram a China de "estar se preparando para dar armas e munições à Rússia". Na ocasião, ele alertou que tal medida constituiria "um problema sério" para as relações sino-americanas.
Por que importa: as acusações americanas, depois reforçadas pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, foram feitas sem a apresentação de evidências. Pequim parece ciente de que um movimento do tipo equivaleria a se envolver diretamente em uma guerra que, após um ano, tem colocado a diplomacia chinesa em uma situação complexa.
Ainda assim, um acordo para o congelamento do conflito também parece fora de questão no momento, sobretudo se envolver o fim da ajuda militar. Kiev abriu mão do seu arsenal nuclear no passado acreditando em promessas russas de respeito à sua soberania —concordar com algo do tipo agora seria como conceder tempo para que tropas russas se reorganizem e retomem a ofensiva contra o país com muito mais força.
Pare para ver
o que também importa
★ O Ministério da Agricultura e Pecuária anunciou que vai suspender a exportação de carne bovina à China após a detecção de um caso de "vaca louca" no Pará. O animal contaminado, um macho de 9 anos de idade, foi abatido, e amostras serão enviadas ao Canadá para análise. O país asiático é o maior comprador mundial de carne bovina brasileira: só em dezembro de 2022, por exemplo, o Brasil exportou mais de 99,7 mil toneladas do produto para os chineses.
★ Professores da Universidade de Fudan, em Xangai, lançaram na quinta (23) uma versão chinesa do ChatGPT. Sob liderança do pesquisador Qiu Xipeng, o sistema apelidado de MOSS é o primeiro modelo chinês de inteligência artificial para conversação. A ferramenta atraiu tanta atenção nas redes sociais que os servidores caíram em poucos minutos. O time da Fudan afirmou que o modelo está longe do ideal, e a intenção no momento é coletar dados para pesquisas acadêmicas que sustentem "uma discussão detalhada sobre o impacto da inteligência artificial" na sociedade.
★ O gigante chinês de tecnologia Huawei foi multado em US$ 407 milhões (cerca de R$2,09 bilhões) pela aduana argentina. Oficiais de fiscalização alegam que a empresa realizou uma série de importações para sua subsidiária argentina burlando o pagamento de impostos. Segundo um dos fiscais envolvidos na operação, a Huawei "tinha pleno conhecimento das taxas de licenciamento que era obrigada a pagar", e a fraude levou a um prejuízo estimado de US$ 28 milhões (R$144,2 milhões) até ser descoberta. A empresa ainda não se manifestou sobre o assunto.
★ A China pediu à ONU que investigue as explosões nos gasodutos Nord Stream, estrutura responsável por transportar gás da Rússia para a Europa. Ao Conselho de Segurança o embaixador Zhang Ju disse que a China suspeita que as explosões sejam "um ato deliberado de atores estatais" e que é preciso "descobrir a verdade e identificar os responsáveis". Em novembro, a Suécia confirmou ter encontrado sinais de sabotagem no gasoduto. A Rússia acusa os EUA pela explosão, que impactou significativamente os volumes de gás exportados aos europeus no ano passado.
fique de olho
Delegações da China e do Japão se reuniram na quarta (22) em Tóquio para as primeiras negociações formais de segurança em mais de quatro anos.
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Os chineses reclamam da escalada militar dos japoneses, enquanto Tóquio expressou preocupação com o "uso de aparato de espionagem", uma referência ao polêmico balão detectado pelos EUA, e o estreitamento de laços militares entre Pequim e Moscou.
O principal objetivo da reunião até o momento é estabelecer uma linha que permita comunicação direta de defesa entre os países. A ideia é operacionalizar o projeto até o fim do segundo trimestre de 2023.
Por que importa: dados os inúmeros crimes de guerra cometidos pelos japoneses na China durante a Segunda Guerra Mundial, a relação sempre foi tensa e marcada por forte nacionalismo de ambos os lados. Mais recentemente, Pequim tem demonstrado crescente irritação com declarações japonesas acerca de Taiwan e alertou para possível "conluio com forças estranhas à região".
As conversas desta semana não farão esses problemas desaparecerem, mas são um passo importante na comunicação entre os dois lados, evitando possíveis erros que levem a escaladas militares no Leste Asiático.
para ir a fundo
- O Instituto Confúcio da Unesp está com matrículas abertas para cursos de mandarim em vários níveis, do básico ao avançado. As aulas acontecem presencialmente e online. Inscrições e informações adicionais aqui. (pago).
- A Amazon colocou em pré-venda o livro "Into the Dragon’s Mouth" (na boca do dragão), que reconta as memórias do arquiteto Ben Wood, responsável por mudar a paisagem de Nova York e de Xangai ao assinar mais de 200 projetos nas duas cidades. A obra sai em março. (pago, em inglês)
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