Descrição de chapéu China

Presença militar dos EUA torna o mar do Sul da China um barril de pólvora

Edição da newsletter China, terra do meio explica risco de conflito na região após novo acordo americano com as Filipinas

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Igor Patrick
Washington

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De passagem nesta semana pelas Filipinas, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, anunciou nesta quinta (2) a conclusão com sucesso das negociações com Manila para que os americanos possam utilizar mais quatro bases militares do país.

Trata-se de uma expansão do Acordo de Cooperação em Defesa Aprimorada (EDCA, na sigla em inglês).

O Pentágono descreveu, diplomaticamente, o pacto como uma oportunidade para "permitir um apoio mais rápido em desastres humanitários e climáticos nas Filipinas e uma resposta a desafios compartilhados".

Lloyd Austin desfila na frente de soldados. Ele está acompanhado de um oficial.
Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, (esq.) em visita às Filipinas nesta quinta (2) Rolex dela Pena/Pool via REUTERS ORG XMIT: GGG01 - Rolex dela Pena via reuters

Na prática, o acordo permitirá aos americanos uma importante vantagem estratégica regional: dissuadir a expansão chinesa no mar do Sul da China.

  • O trecho marítimo é reivindicado por Pequim, mas está tecnicamente nas zonas exploráveis de outros vizinhos da região, como Vietnã, Brunei, Indonésia, Malásia e, claro, as Filipinas.

  • O Indo-Pacífico serve como um valioso corredor de cargas e transporta cerca de US$ 3 trilhões (R$ 15 trilhões) em mercadorias anualmente.

O Pentágono não disse onde estão localizadas as bases envolvidas no trato. A imprensa americana especula que seja em Luzon, ilha no norte do país e próxima a Taiwan.

Se considerada a presença militar dos EUA no Japão, na Coreia do Sul e na Austrália, os novos postos ajudarão a conter a expansão chinesa por lá.

Por que importa: Ao mesmo tempo em que traz certo alívio aos países que se sentem assediados por Pequim, a crescente presença militar americana no mar do Sul da China torna a região um barril de pólvora. Estranhamentos entre militares dos EUA e da China têm sido comuns.

Em janeiro de 2022, por exemplo, os chineses disseram ter perseguido uma embarcação americana que teria invadido uma área reivindicada por Pequim. Washington disse que suas embarcações estavam apenas garantindo passagem "em águas internacionais" próximas às ilhas Paracel.

Outro ponto significativo neste anúncio é a proximidade das novas bases de Taiwan, o que poderia ser uma vantagem estratégica no caso de os americanos decidirem intervir militarmente numa eventual tentativa de invasão da ilha pelos chineses.

o que também importa

Cientistas chineses anunciaram êxito na tentativa de criar três "super vacas" por meio de manipulação genética. Os animais são resultado de clonagens realizadas por pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia Agrícola e Florestal do Noroeste, sediada em Ningxia.

Segundo os pesquisadores, os bezerros nasceram no último dia 23 e, quando atingirem a idade adulta, serão capazes de produzir 18 toneladas de leite por ano, quase o dobro do que uma vaca comum.

Para chegar à combinação genética ideal, foram utilizados 120 embriões clonados da raça Holstein Friesian, original da Holanda. Se o processo continuar se mostrando viável, o projeto quer produzir um rebanho de mil super vacas em até três anos, ajudando a superar a dependência de vacas leiteiras pela China. Atualmente, 70% dos animais desse tipo precisam ser importados.

Mais de 23 mil mortes foram evitadas na China em 2021 graças às políticas de melhoria nos sistemas de aquecimento. O número foi revelado por um estudo das Universidades de Birmingham e Nankai.

Ainda é muito comum a queima de carvão para esquentar as casas no inverno chinês. O país, porém, vem investindo em tecnologias alternativas, introduzindo um amplo programa de aquecimento limpo que renovou a infraestrutura de residências em Pequim, Tianjin e outras 26 cidades vizinhas.

A política já começou a dar resultados, e os estudos indicam queda significativa de mortes prematuras —principalmente por câncer de pulmão— provocadas pela poluição da queima de carvão: de 169 mil em 2015 para 145,4 mil em 2021.

O cálculo foi feito com base nos níveis de 2015 para partículas PM2,5 —muito finas e responsáveis pelo aspecto turvo do ar poluído. Segundo o jornal South China Morning Post, a quantidade dessas partículas em suspensão no período analisado caiu 41% nas áreas em que o programa vigorou.

Fique de olho

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, deve visitar a China ainda neste ano para discutir o estado das relações entre os países, afirmou o South China Morning Post.

De acordo com fontes ouvidas pelo jornal, os trabalhos para o encontro do premiê com Xi Jinping devem começar na próxima semana, com uma reunião virtual entre o ministro do Comércio, Don Farrell, e o homólogo chinês, Wang Wentao.

Os dois devem discutir saídas diplomáticas aos embargos retaliatórios impostos por Pequim a produtos australianos nos últimos três anos. Ambos os países também enfrentam um imbróglio na exportação de silício chinês, alvo de medidas antidumping pela Austrália desde 2020.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, e o líder chinês Xi Jinping em Bali, Indonésia - Yan Yan 15.nov.2022/Xinhua

Por que importa: Durante o mandato do liberal Scott Morrison como premiê, a Austrália assumiu uma postura bastante assertiva contra a China, que decidiu dobrar a aposta. Nos últimos três anos, tornaram-se corriqueiras as sanções de Pequim a produtos australianos, quase sempre por retaliações políticas —Morrison exigiu uma investigação para apurar a responsabilidade do governo chinês na disseminação da Covid, por exemplo.

Primeiro trabalhista a assumir o cargo mais importante do país em quase dez anos, Albanese tem tentado reduzir a temperatura e restaurar alguma normalidade nas relações.

Para ir a fundo

  • A Associação Being Tao realiza na manhã de domingo (5) um café com várias atividades culturais chinesas como roda de saberes, oficinas de caligrafia e práticas de tai chi. O evento acontece na Asa Norte de Brasília. Detalhes aqui. (gratuito, em português)
  • Nos próximos dias 11 e 12, a sinóloga Melissa Cambuhy ministra o curso online "Planificação, Mercado e Desenvolvimento Nacional: O Caso da China". A carga horária é de quatro horas e as informações sobre como se inscrever estão aqui. (pago, em português).

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