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Terremoto na Turquia e na Síria completa sem-fim de calamidades na região

Tremores castigam, em especial, refugiados sírios que vivem entre os dois países

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São Paulo

O terremoto que atingiu a fronteira da Turquia com a Síria nesta segunda-feira (6), noite de domingo no Brasil, completa com sangue e destroços mais de uma década de um sem-fim de calamidades nesta região. Esses tremores castigam, em especial, os refugiados sírios que vivem entre os dois países.

O mundo já se acostumou a pensar na Síria como um cenário de destruição rotineira, um lugar onde prédios residenciais desmoronam e pessoas são forçadas a deixar suas casas.

Nesse contexto, agências humanitárias —que penam para dar conta de amparar a população síria— terão dificuldades para sensibilizar governos e doadores para auxiliar as vítimas, uma vez que já há tantas desamparadas. Seja como for, as primeiras campanhas para os afetados pelo terremoto já estão no ar.

Socorristas buscam sobreviventes em meio a destroços após terremoto na cidade de Jandaris, na Síria
Socorristas buscam sobreviventes em meio a destroços após terremoto na cidade de Jandaris, na Síria - Mahmoud Hassano/Reuters

A maior parte das catástrofes sírias é resultado da ação humana, à qual se somam agora efeitos da natureza, numa coincidência terrível. Desde que a população se levantou contra o ditador Bashar al-Assad, no início de 2011, seu regime tem reprimido as manifestações com violência. Por vezes, sitiando bairros rebeldes e deixando que morram de fome. Organizações terroristas, como o Estado Islâmico e braços da Al Qaeda, aproveitaram-se do caos para armar e importar militantes ao território.

Não se sabe ao certo quantas pessoas já morreram nessa guerra civil. Relatório divulgado pela ONU em junho passado fala em ao menos 306 mil civis, sem incluir mortes indiretas nem as de combatentes. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos estima que a cifra seja entre 500 mil e 610 mil pessoas.

Já o número de refugiados, também segundo a ONU, é de 5,4 milhões. A maior parte deles —64%, ou 3,5 milhões— está abrigada na Turquia. A fronteira, também atingida pelo terremoto, é um dos pontos de maior concentração, onde refugiados sírios esperam há uma década a possibilidade de voltar para casa.

São pessoas que habitam o que a cineasta francesa Anne Poiret chama de "refugistão". É um complexo de campos nos quais refugiados, entre os quais sírios, vivem desterrados. Não estão em sua terra natal nem foram integrados ao país que os recebe. Assim, não têm acesso a serviços públicos nem ao mercado de trabalho. As más condições sanitárias nos campos facilitam surtos de doenças, como a cólera.

Se a situação já parece dramática, e é difícil explicar a gravidade a quem nunca foi a um desses lugares, ela é acentuada por um inverno que vem devastando os campos. Muitos dos que já cruzaram de volta à Síria acabaram se instalando no norte do país, criando uma espécie de novo lar –agora desmoronado.

É nesse contexto que sírios no exterior têm demonstrado incredulidade ao comentar nas redes sociais as notícias. São relatos de quem não admite que, após tudo o que viveram, ainda precisam assistir, impotentes, a vídeos de suas cidades natais destruídas. De quem pasma em pensar que seus pais, que não puderam fugir do país, estão nas ruas, com medo de voltar para casa e serem vítimas de outro tremor.

Ficaram populares, nos primeiros anos da guerra civil, as fotos de bairros da cidade de Homs destruídos pelos bombardeios de Assad. Agora, aquelas imagens se repetem—mas, agora, pela ação do terremoto.

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