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Como Bolsonaro, Trump não declarou presentes que recebeu de outros países

Gestão do republicano deixou de documentar mais de cem presentes avaliados em mais de R$ 1,3 milhão, revela relatório

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Michael S. Schmidt
The New York Times

Vários presentes dados por governos estrangeiros ao ex-presidente Donald Trump não foram contabilizados nos registros do governo, segundo relatório divulgado nesta sexta (17) por democratas no Comitê de Supervisão e Prestação de Contas da Câmara, que detalhou como a Casa Branca na era Trump falhou em seguir a lei.

Os itens desaparecidos incluíam, por exemplo, dois tacos de golfe —de US$ 3.040 (R$ 16 mil) e US$ 460 (R$ 2.400)—dados a Trump por Shinzo Abe, ex-premiê do Japão, e uma pintura em tamanho ampliado de Trump dada pelo atual presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

O ex-presidente Donald Trump durante evento em Iowa, nos EUA
O ex-presidente Donald Trump durante evento em Iowa, nos EUA - Scott Olson - 13.mar.23/Getty Images via AFP

Uma caixa decorada com enfeites de prata que um ativista sindical do Egito deu ao genro de Trump, Jared Kushner, também está desaparecida. A caixa foi avaliada em US$ 450 (R$ 2.370).

A Casa Branca da era Trump deixou de documentar mais de cem presentes avaliados em mais de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão) –incluindo cerca de US$ 48 mil (R$ 253 mil) da Arábia Saudita– dados a Trump ou a sua mulher, Melania, ou a Kushner e sua mulher, Ivanka Trump. Esses presentes foram entregues ao governo e contabilizados em registros, mas nunca divulgados publicamente, como exige a lei.

Cada departamento e agência do governo é obrigado a enviar uma lista ao Departamento de Estado de presentes acima de US$ 415 (R$ 2.190) que seus funcionários receberam de governos estrangeiros. Eles podem ficar com os presentes se estiverem dispostos a reembolsar o governo pelo valor estimado. A medida visa a garantir que os governos estrangeiros não ganhem influência indevida sobre as autoridades.

Antes ou logo após deixar o cargo, líderes normalmente fornecem ao Departamento de Estado uma lista dos presentes que receberam em seu último ano. A Casa Branca de Trump falhou em fazer isso, alarmando os supervisores do governo e os democratas. Um porta-voz de Trump não respondeu a um pedido de comentário.

O relatório dos deputados democratas incluía quase duas dúzias de páginas de emails e documentos não divulgados da Casa Branca que levantavam uma série de perguntas ainda sem resposta.

Eles incluem o paradeiro de uma joia dada a Trump pelos sauditas e se o presidente infringiu a lei quando manteve um computador dado a ele pelo executivo-chefe da Apple, Tim Cook.

A investigação, que foi motivada por revelações sobre como a Casa Branca de Trump manipulou indevidamente presentes feitas por The New York Times e o Departamento de Estado, concluiu "que as falhas na divulgação de presentes foram muito mais amplas do que se sabia anteriormente e se estenderam por toda a administração Trump".

O deputado democrata Jamie Raskin disse que os investigadores democratas do comitê, agora controlado pela maioria republicana na Câmara, continuarão tentando rastrear o que aconteceu com os presentes e entender como Trump, sua família e a Casa Branca falharam em seguir a lei sobre como eles devem ser tratados.

"É muito do caráter de Trump violar todo o regime que governa as doações de Estados estrangeiros", disse Raskin. Ele acrescentou que "Trump é exatamente o tipo de pessoa que os idealizadores tinham em mente" quando incluíram as cláusulas na Constituição, que proíbe qualquer titular de cargo federal de aceitar presentes de um Estado estrangeiro sem o consentimento do Congresso, para impedir que a política dos EUA seja ditada por estrangeiros.

O relatório também levantou questões de um presente doméstico. O material citou uma troca de emails de 15 de janeiro de 2021, na qual o principal advogado de ética da Casa Branca de Trump, Scott Gast, expressou preocupação de que um computador Mac Pro dado por Cook, avaliado em US$ 5.999 (R$ 31,6 mil), havia sido um presente para o governo dos EUA, e não para Trump.

Presentes dados ao governo são considerados propriedade do governo e não podem ser levados por funcionários. Em resposta, uma assessora de Trump disse: "Bem, não conseguimos encontrá-lo".

Um ano depois, nos formulários de divulgação financeira de Trump, ele listou o computador entre os presentes que recebeu e guardou.

O episódio ecoou de certa forma uma disputa envolvendo o ex-presidente Bill Clinton e Hillary Clinton depois que eles deixaram a Casa Branca em 2001. Eles foram acusados de pegar um sofá, um tapete e cadeiras que haviam sido doados ao governo, não a eles. Os Clinton acabaram devolvendo os móveis.

Uma planilha compilada por assessores da Casa Branca nos últimos dias do governo Trump listou os presentes que Trump precisava decidir se queria manter. Entre os itens que ele já havia decidido aceitar e divulgou publicamente estava um colar com pingente de ouro que havia recebido durante uma viagem à Arábia Saudita em 2017.

O colar, avaliado em US$ 6.400 (R$ 33.780), estava "em um caminhão de mudança para Mar-a-Lago", segundo a planilha. Não há evidências de que Trump pagou pelo colar. Em resposta às perguntas do comitê, o Arquivo Nacional disse acreditar que estava de posse do colar, mas não havia passado por seu depósito para encontrá-lo.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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