Descrição de chapéu China América Latina

Honduras opta por relações com China em vez de Taiwan e arrisca elo com EUA

Anúncio se dá um mês antes de encontro de presidente de Taipé com líder da Câmara americana

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São Paulo

A presidente de Honduras, Xiomara Castro, afirmou nesta terça-feira (14) que pretende estabelecer "relações oficiais" de seu país com a China e instou o chanceler de seu governo a iniciar conversas com o gigante asiático em postagem no Twitter.

Na prática, isso significa que a nação da América Central deixará de reconhecer a autonomia de Taiwan, exigência da política de "uma só China" de Pequim, que considera a ilha uma província rebelde e parte inalienável de seu território.

A presidente de Honduras, Xiomara Castro, discursa durante 77ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, na sede da entidade em Nova York - Amr Alfiky - 20.set.22/Reuters

Taipé, é claro, reagiu negativamente ao anúncio e pediu que Tegucigalpa "examinasse com cuidado" suas ações para "não cair na armadilha chinesa" de "promessas falsas e atraentes".

A ruptura de laços diplomáticos entre as partes aprofunda ainda mais o isolamento da ilha, que passaria a só ser reconhecida por 13 países no globo. Já o porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, saudou a "pertinente declaração da parte hondurenha".

Elemento central dessa equação, os Estados Unidos, principal parceiro comercial de Honduras, ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o tema. Alguns analistas afirmam que a decisão tem potencial de abalar as relações do país com Washington, maior aliado estrangeiro da ilha e seu principal fornecedor de armas, apesar de não manter laços diplomáticos oficiais com Taipé.

Em entrevista à agência de notícias AFP, o analista político Raúl Pineda qualificou a decisão do governo de Xiomara de "muito infeliz" dadas as tensões atuais entre Washington e Pequim. A disputa entre as duas maiores potências econômicas do globo vem escalando desde o início de fevereiro, quando o Pentágono detectou um suposto balão espião chinês sobrevoando o seu território —o regime chinês afirma que o artefato tinha fins de pesquisa.

A preocupação com um eventual afastamento dos EUA também foi ecoada por políticos da oposição em Tegucigalpa. Foi o caso de Tomas Zambrano, deputado pelo Partido Nacional, que em entrevista a uma emissora local lembrou que muitas famílias hondurenhas dependem de remessas vindas da nação ao norte.

O chanceler hondurenho, Eduardo Reina, afirmou, no entanto, que o governo americano foi consultado sobre a decisão, assim como outros parceiros do país na Ásia. Ele ainda ressaltou que a decisão foi guiada por "pragmatismo, e não ideologia".

"A situação global é complicada, precisamos nos abrir. Precisamos de investimento, de cooperação", justificou o diplomata, acrescentando que deve se encontrar com representantes chineses nos próximos dias para formalizar as relações.

Dardo Justino Rodríguez, analista e consultor independente hondurenho, diz à Folha que pode haver algumas queixas e protestos vindos dos EUA, mas que não acredita que isso vá se tornar um entrave à relação de Tegucigalpa com Washington. "Comércio é uma coisa, diplomacia é outra", afirma ele.

Outros especialistas afirmam que o momento do anúncio foi bastante infeliz, dadas as tensões atuais entre Washington e Pequim. A disputa entre as duas maiores potências econômicas do globo vem escalando desde o início de fevereiro, quando o Pentágono detectou um suposto balão espião chinês sobrevoando o seu território —o regime chinês afirma que o artefato tinha fins de pesquisa.

A preocupação com um eventual afastamento dos EUA também foi ecoada por políticos da oposição em Tegucigalpa. Foi o caso de Tomas Zambrano, deputado pelo Partido Nacional, que, em entrevista a uma emissora local, lembrou que muitas famílias hondurenhas dependem de remessas vindas da nação ao norte.

O anúncio de Honduras se dá um mês antes de uma visita da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, às Américas —o itinerário inclui uma passagem pelos Estados Unidos, onde ela se reunirá com o presidente da Câmara, Kevin McCarthy.

A possibilidade de que o passo dado por Honduras tenha como objetivo pressionar a viagem foi aventada pelo chefe da Agência Nacional de Segurança da ilha em sessão de perguntas e respostas do Parlamento nesta quarta.

Xiomara, que é esposa do ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya, deposto por um golpe de Estado em 2009, já tinha declardo sua pretensão de estabelecer laços com a China desde a sua campanha presidencial no ano passado. Em janeiro deste ano, contudo, ela tinha expressado o desejo de manter os laços com Taiwan.

Eduardo Reina também havia divulgado tratativas com Pequim no início do mês passado, vinculadas à construção da usina hidrelétrica Patuca 2 —o país asiático financiou a Patuca 3, inaugurada dois anos antes. O chanceler ainda havia se reunido com o então número dois da chancelaria chinesa, Xie Feng, em janeiro, em Brasília —os dois compareceram à posse de Lula.

A América Latina tem sido um palco crucial das disputas entre China e Taiwan desde a sua separação em 1949, depois da vitória das forças comunistas na guerra civil chinesa. À época, nacionalistas derrotados pelas tropas de Mao Tse-tung fugiram para a ilha e ali forjaram um governo capitalista.

Alinhados aos EUA, os países da América Central mantiveram proximidade com Taiwan durante décadas. Nos últimos anos, porém, vários deles começaram a romper laços com a ilha em favor da China à medida que ela expandia sua presença econômica na América Latina e o Caribe.

Os negócios entre o país asiático e a região saltaram de US$ 12 bilhões para US$ 315 bilhões entre 2000 e 2020, segundo estimativas do Fórum Econômico Mundial.

O movimento começou com a Costa Rica, em 2007. A ela se seguiram Panamá, El Salvador e Nicarágua. A depender do resultado das eleições, pode ser que o Paraguai também se junte ao grupo no mês que vem. O candidato da oposição, Efrain Alegre, já afirmou que pretende estabelecer relações com a China caso vença, com o objetivo de aumentar a exportação de soja e carne bovina para o regime.

Com AFP e Reuters

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