Igualdade de gênero precisará de 300 anos para ser alcançada, diz secretário-geral da ONU

Declaração abriu reunião de comissão das Nações Unidas sobre situação da mulher, em Nova York

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RFI

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou na segunda (6) que serão necessários 300 anos para alcançar a igualdade de gênero. Para o chefe das Nações Unidas, é preciso fazer frente ao patriarcado.

"Avanços obtidos em décadas estão evaporando diante dos nossos olhos", disse Guterres na abertura de uma reunião da Comissão da ONU sobre a Situação da Mulher, em Nova York. "No ritmo atual, a ONU Mulher prevê que serão necessários 300 anos" para a igualdade entre homens e mulheres, advertiu.

Mulher sem véu em cima de carro em meio a protesto pelo direito das mulheres em Saqez, no Irã
Mulher sem véu em cima de carro em meio a protesto pelo direito das mulheres em Saqez, no Irã - 26.out.22/UGC/AFP

No anfiteatro da Assembleia-Geral, o secretário-geral das Nações Unidas considerou que "os direitos das mulheres sofreram abusos, foram ameaçados e violados em todo o mundo". O líder português ainda citou a situação no Afeganistão, onde mulheres e meninas têm sido "apagadas da vida pública".

Além disso, recordou que os direitos reprodutivos e sexuais da mulher em muitas partes estão "em retrocesso", sem contar os riscos de sequestros e ataques em alguns países, até mesmo pela polícia.

A pandemia de Covid-19 e os conflitos —da Ucrânia ao Sahel, na África— afetaram e seguem afetando "em primeiro lugar" as pessoas do sexo feminino, indicou. "O patriarcado contra-ataca, mas responderemos", afirmou Guterres, lembrando que a ONU "permanece ao lado de mulheres e meninas de todo o mundo".

O chefe das Nações Unidas também mencionou o bullying sofrido por mulheres na internet. "A desinformação misógina e as mentiras" nas redes sociais têm o objetivo de "silenciar as mulheres e obrigá-las a sair da vida pública", disse o secretário-geral.

"As histórias podem ser falsas, mas o dano é real", apontou, ao fazer um apelo pela mudança dos "marcos internacionais, que não estão adaptados às necessidades e às aspirações de mulheres e meninas". Há países que são "contra a inclusão da perspectiva de gênero em negociações multilaterais", afirmou.

Mais mulheres na área da tecnologia

A 67ª reunião da Comissão sobre a Situação da Mulher focou a brecha tecnológica entre os gêneros. Para Guterres, promover as contribuições do sexo feminino em ciência, tecnologia e inovação "não é um ato de caridade ou favor". Com maior participação das mulheres em serviços médicos online, bancos e recursos financeiros, além de plataformas digitais seguras e na tecnologia em geral, os benefícios "são para todos".

"Sem a perspicácia e a criatividade de metade do mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas metade de seu potencial", alertou. Segundo ele, das 3 bilhões de pessoas ainda não conectadas à internet, a maioria é formada por mulheres e meninas em países em desenvolvimento.

Guterres também homenageou a pesquisadora francesa Emmanuelle Charpentier e a americana Jennifer Doudna, que integram "a primeira equipe de mulheres a ganhar um prêmio Nobel de Ciência", em química, em 2020. "As equipes masculinas venceram 172 vezes", lembrou o secretário-geral da ONU.

Esse tipo de desigualdade também é registrado em países desenvolvidos. No evento, o presidente da Confederação Suíça, Alain Berset, admitiu que as mulheres seguem "ainda sub-representadas nas áreas científicas" de seu país, contabilizando "apenas 37% do total de diplomados nesses ramos".

Já Marlène Schiappa, secretária de Estado francesa de Economia Social e Solidária e Vida Associativa, afirmou na reunião que, "juntas, as mulheres podem emergir líderes feministas por meio do digital".

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