Negociar a paz na Ucrânia será possível apenas com o estabelecimento de uma "nova ordem mundial", afirmou nesta sexta-feira (7) o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, em visita à Turquia.
Detalhe: para o russo, a nova ordem mundial deve ser livre do domínio dos Estados Unidos e fundada com base nos interesses de seu país.
A Rússia justifica a guerra no país vizinho como uma resposta ao avanço da Otan, a aliança militar liderada pelos americanos, nas suas fronteiras. Antes da invasão, Kiev discutia com Washington uma eventual entrada na aliança, o que incomodou Moscou.
Agora, o Kremlin insiste em não ver possibilidade de negociação com o governo do país vizinho. Isso porque os russos reivindicam o que os ucranianos não estão dispostos a ceder: os territórios ocupados pela Rússia na guerra, além da Crimeia, anexada em 2014.
Na quinta, as pressões para que Moscou e Kiev voltem a negociar a paz ganharam mais um protagonista. Em Pequim, o líder da China, Xi Jinping, disse aos presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que sua maior prioridade, neste momento, é encorajar um cessar-fogo entre ambos. Mas a declaração é vista com desconfiança pelos países que integram a Otan.
Xi é próximo do presidente russo, Vladimir Putin. Os dois se encontraram no final de março em Moscou e reafirmaram a aliança entre os países. Vinte dias antes do início da invasão da Ucrânia, Rússia e China selaram um acordo de "amizade sem limites" em Pequim.
Ainda na quinta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também comentou as negociações de paz. A sugestão do brasileiro, porém, é diferente dos princípios defendidos por Lavrov. O petista sugeriu, por exemplo, que a Rússia devolva à Ucrânia os territórios ocupados durante a guerra.
"Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia, mas o que ele invadiu de novo, vai ter de repensar. O [presidente ucraniano, Volodimir] Zelenski não pode querer tudo. O mundo precisa de tranquilidade, e a gente precisa encontrar uma solução", declarou.
A Ucrânia respondeu Lula e, como já previsto, disse que não entregará a Crimeia à Rússia. "Não há razão legal, política nem moral que justifique abandonar um só centímetro de território ucraniano", escreveu nas redes sociais o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko. Ele disse, no entanto, apreciar "os esforços do presidente brasileiro para encontrar uma maneira de deter a agressão russa".
Lula busca posicionar o Brasil como mediador de um diálogo sobre a Ucrânia. Recentemente, por exemplo, ele propôs a criação de um grupo de países para intermediar as negociações. Na próxima terça (11), ele viajará para a China, onde apresentará o plano a Xi.
Celso Amorim, principal assessor de Lula para assuntos internacionais, reuniu-se com Putin no final de março em Moscou, e ambos dialogaram sobre a possibilidade de abrir uma negociação de paz com a Ucrânia. "Dizer que as portas estão abertas [para a negociação de paz] seria um exagero, porém afirmar que estão fechadas tampouco é verdade", disse Amorim, após o encontro.
Enquanto isso, diplomatas tentam fazer o que podem para minimizar os impactos da guerra no restante do mundo. Lavrov, aliás, está na Turquia para discutir a prorrogação do acordo que permitiu a exportação de grãos da Ucrânia e de fertilizantes da Rússia para o restante do mundo.
Os dois países são líderes nas exportações desses produtos. Até por isso, o acordo, negociado em julho com a mediação da Turquia e da ONU, é crucial para a segurança alimentar mundial.
O governo russo, porém, considera que a parte do acordo que lhe favorece não está sendo respeitada. "Se não acontecer nenhum avanço na retirada dos obstáculos às exportações de fertilizantes e cereais russos, então perguntaremos se este acordo é necessário", declarou Lavrov nesta sexta.
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