Em visita à China nesta quinta-feira (6), os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediram ajuda ao líder da China, Xi Jinping, para frear a invasão russa da Ucrânia e intermediar um acordo de paz entre as duas nações em guerra.
"Sei que posso contar com você para trazer a Rússia de volta à razão e todos de volta à mesa de negociações", disse Macron ao lado de Xi, do lado de fora do Grande Salão do Povo, sede do Parlamento chinês, em Pequim.
Xi, por sua vez, disse esperar que os dois lados possam realizar negociações de paz o mais rápido possível e afirmou que sua maior prioridade, neste momento, é encorajar um cessar-fogo entre ambos.
Música nos ouvidos de Macron. Segundo um diplomata francês ouvido pela agência de notícias Reuters, Xi estaria disposto, inclusive, a conversar com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, atendendo a uma antiga reivindicação do ucraniano. O diálogo entre os dois também foi encorajado por Von der Leyen nesta quinta, em conversa com jornalistas.
O desejo dos europeus de que Xi entre, de fato, nas negociações de paz passa pela proximidade do chinês com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Os dois se encontraram no final de março em Moscou e reafirmaram a aliança entre os dois países. Vinte dias antes do início da invasão da Ucrânia, Rússia e China selaram um acordo de "amizade sem limites" em Pequim.
Macron e Von der Leyen seguem uma fila de visitas a Xi iniciada pelo premiê alemão, Olaf Scholz, em novembro do ano passado, após a consolidação de poder absoluto do dirigente no Partido Comunista Chinês. Um mês depois, foi a vez do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e, na semana passada, do premiê espanhol, Pedro Sánchez. Na semana que vem será a vez de Luiz Inácio Lula da Silva.
No encontro desta quinta, Macron também pediu a Xi que pressione Putin a cumprir as regras internacionais de não proliferação nuclear. O presidente russo disse recentemente que posicionará armas nucleares táticas na Belarus, em resposta à expansão da Otan, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, na Europa.
O chinês respondeu dizendo que todos os países devem respeitar os compromissos de não usar armas nucleares e que "a guerra nuclear não deve ser estimulada".
Mas Xi, alinhado à tradicional discrição chinesa, também deixou recado aos europeus e exortou a comunidade internacional a "abster-se de qualquer ação que leve a uma maior deterioração da crise ou mesmo ao seu descontrole". Um sinal indireto à Europa, aliada aos EUA na entrega de armas à Ucrânia.
No início deste ano, a China propôs um plano de 12 pontos para acabar com a guerra. O documento pedia a ambos os lados que concordassem com uma desescalada gradual que levasse a um cessar-fogo abrangente. O Ocidente rejeitou o plano, devido à recusa da China em condenar a Rússia. Paralelamente, os EUA e a Otan acusaram a China de planejar enviar armas para a Rússia, o que Pequim negou.
Seja como for, após mais de um ano de conflito que já custou milhares de vidas, há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessados em negociar. Pelo menos não de um modo que envolva concessões, o que, por óbvio, invalida qualquer esforço nesse sentido. A expectativa, porém, é de que a presença de Xi nas discussões possa promover o inesperado.
Ainda nesta quinta, os europeus discutiram assuntos econômicos com os chineses. Bruxelas tenta diminuir a influência de Pequim em seus mercados –um sinal da própria Guerra da Ucrânia, que evidenciou o tamanho da dependência europeia do gás russo.
Poucos dias antes da visita a Pequim, Von der Leyen afirmou que a Europa "corria risco" diplomático e econômico com uma China endurecida. Ela voltou ao tema nesta quinta: "Tanto a Europa quanto a China se beneficiaram imensamente com esse relacionamento. No entanto, as relações UE-China se tornaram mais complexas nos últimos anos, e é importante discutirmos todos os aspectos de nossas relações", afirmou, antes de se encontrar com o premiê chinês, Li Qiang.
A França, por outro lado, parece menos reticente. Macron viajou à China com uma delegação empresarial de 50 pessoas, incluindo executivos da Airbus, do gigante de luxo LVMH e da produtora de energia nuclear EDF. Nesta quinta, a Airbus assinou acordos para abrir uma nova linha de montagem na China, dobrando sua capacidade no segundo maior mercado de aviação do mundo.
Um dia antes, Macron disse que a Europa deveria resistir a reduzir os laços comerciais e diplomáticos com a China e rejeitar o que alguns consideram uma "espiral inevitável" de tensão entre a China e o Ocidente.
Na mesma linha, em comentários relatados pela mídia estatal CCTV, Xi disse que China e França têm capacidade e responsabilidade de transcender "diferenças" e "restrições" à medida que o mundo passa por profundas mudanças históricas. Segundo ele, Pequim está disposta a trabalhar com Bruxelas para reiniciar acordos em todos os níveis.
Palavras, no mínimo, incômodas aos americanos, que buscam apoio dos europeus na guerra comercial entre Washington e Pequim. Em editorial, o jornal chinês Global Times foi direto ao assunto. Citando os EUA, o periódico ressaltou que "nem todo mundo quer que a visita de Macron à China ocorra sem problemas". Provocação já esperada.
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