Podcast discute expansão da Otan e entraves de Turquia e Hungria à adesão da Suécia

Aliança militar é bem mais que um detalhe no tablado em que Rússia e ocidentais exercem sua relação de forças

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São Paulo

A história é conhecida, mas ainda não terminou. Tão logo a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado, Suécia e Finlândia deixaram de lado suas históricas neutralidades e correram para se colocar debaixo do guarda-chuva militar da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos.

Depois de um ano, a Finlândia já está com os dois pés dentro da Otan. Mas a Suécia ainda não. Os países- membros devem concordar com a entrada dos novatos. Mas Hungria e Turquia criam caso para o ingresso dos suecos.

Cerimônia de adesão da Finlândia à Otan na sede da aliança em Bruxelas, na Bélgica - Zheng Huansong - 4.abr.23/Xinhua

O assunto foi discutido em episódio do podcast da Chatham House, centro independente de estudos de política internacional, com sede em Londres. Por enquanto, a Finlândia entrou sozinha na Otan e deixou a Suécia para mais tarde. E por culpa basicamente da Turquia.

Mas vejamos a importância estratégica desses dois países, extensos geograficamente, mas pequenos em termos demográficos. A Suécia tem apenas 10,4 milhões de habitantes. A Finlândia, menos ainda, apenas 5,5 milhões. E elas têm, cada uma, um Exército pequenininho, com pouco mais de 23 mil homens.

Por que então a adesão de uma e de outra é tão importante para a aliança? É porque os dois países nórdicos fechariam uma fronteira no Báltico e no Ártico e deixariam a Rússia geograficamente mais isolada. É justamente o que Moscou não quer. Vladimir Putin fica nervoso ao pensar que estará cercado por duas novas fronteiras da Otan, a sueca e a finlandesa.

Os suecos têm como estraga-festas o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Um dos especialistas convidados pelo podcast, Henri Vanhanen, pesquisador do Instituto Finlandês de Questões Internacionais, diz que Erdogan enfrenta a Suécia, mas no fundo está pensando nos Estados Unidos, porque não conseguiu ainda o acordo americano para a compra de caças F-16 para sua Força Aérea.

Já Galip Dalay, um dos diretores de estudos sobre o Oriente Médio da Chatham, evoca outras razões da Turquia sob o pretexto de sua segurança externa. Ancara quer a extradição de nacionalistas que participaram de uma suposta tentativa de golpe contra Erdogan. A Suécia responde que só expulsaria esses exilados por meio de decisão judicial, não por um ato de governo.

Outro ponto de discórdia são os nacionalistas curdos, que a Turquia qualifica indistintamente de terroristas, mas com os quais a Suécia tem relações corretas. Ela só não reconhece militarmente o PKK e o YPG, combatentes curdos sediados respectivamente em território turco e sírio.

A Hungria entra nessa história pela porta dos fundos. Um dos debatedores da Chatham House qualifica o país de "parceiro júnior dos turcos" —o que significa mais ou menos um protagonista sem luz própria, interessado em, tanto quanto os turcos, não criar maiores atritos com a Rússia.

No caso de Erdogan, por exemplo, ele não tomou partido da Ucrânia quando a guerra começou, ainda se relaciona financeiramente com Moscou –tem bons empréstimos– e depende de turistas russos para manter sua balança de movimentações externas.

Não há uma previsão unânime entre os aliados dos Estados Unidos na Europa sobre o tempo necessário para que a Suécia abandone seu atual limbo. Já votou em seu Parlamento pelo ingresso na Otan, teve o aval de seus futuros parceiros de aliança, mas ainda é objeto do veto da Turquia.

A aliança possui uma assembleia anual, e é evidente que a Rússia achará formidável que ela esteja internamente dividida em seu próximo encontro. Uma das possibilidades que circulam diz respeito à iniciativa do governo Biden de levantar de última hora o veto para que a Turquia compre os caças-bombardeiros americanos. Em troca, concessões viriam de Erdogan ou seu sucessor –haverá eleições presidenciais em maio, e o atual presidente, segundo as pesquisas, não tem certeza sobre sua reeleição.

A Otan é bem mais que um detalhe no tablado em que a Rússia e os ocidentais exercem sua relação de forças no território europeu.

Apenas para recapitular: os defensores do Kremlin se mostraram compreensivos com a invasão da Ucrânia pois acreditavam que os russos precisavam dar um basta ao processo de expansão da Otan, à qual já haviam ingressado, por exemplo, Polônia e os Estados Bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia), que integravam antigamente a finada União Soviética.

Como qualquer jogo, esse também tem dois lados. A Rússia e os ocidentais são movidos por temores, e os ocidentais temem as armas atômicas da Rússia.

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