A insatisfação com a reforma da Previdência da França acompanhou o presidente do país, Emmanuel Macron, em sua viagem oficial à Holanda nesta terça-feira (11).
O chefe do Eliseu discursava no Instituto Nexus, em Haia, quando foi interrompido por manifestantes aos gritos —mais cedo, ele já havia sido confrontado por opositores em frente ao palácio real.
Macron competiu por minutos com a plateia até ser ouvido. Na arquibancada, uma faixa exibia a frase "presidente da violência e hipocrisia", e uma multidão questionava "onde está a democracia francesa?".
O presidente francês respondeu à pergunta. "Quando se vota e se elege alguém, a contraparte é que é preciso respeitar as instituições em que essas pessoas atuam. No dia em que vocês considerarem que quando se discorda da lei pode-se fazer tudo o que quiser, a democracia estará em risco", afirmou.
Só então ele conseguiu iniciar sua fala, sobre a "autonomia estratégica" da Europa, tema de uma polêmica entrevista publicada no dia anterior nos veículos Les Echos, da França, e Politico, dos EUA, em que ele defende a independência do continente frente à disputa entre China e Estados Unidos.
Jornalistas que cobriam o evento do Instituto Nexus relataram a retirada dos manifestantes do espaço.
Não é só na Holanda que o líder francês deve enfrentar novos protestos. Sindicatos nacionais planejam para esta quinta (13) um novo dia de mobilizações nacionais contra a reforma previdenciária. Aprovada graças a um dispositivo visto como pouco democrático, a medida eleva a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos e aumenta os anos de contribuição para acesso à pensão integral de 42 para 43 anos.
Em Haia, Macron voltou a defender a mudança, lembrando que a idade mínima para a aposentadoria é mais alta em boa parte dos países europeus —incluindo na Holanda. O gasto da França com o sistema de pensões é um dos maiores do mundo rico, atrás apenas de Itália e Grécia, e consome cerca de 14% do PIB.
Segundo o governo, a reforma representa economia de € 18 bilhões (R$ 101 bilhões). O movimento é, porém, repudiado pelos franceses, que prezam a qualidade de seu sistema público de segurança social. Pesquisas continuam a indicar que a maior parte da população se opõe às mudanças e apoia os atos.
A última etapa que resta para a efetivação da medida acontece nesta sexta (14), quando o Conselho Constitucional determinará se a nova lei está de acordo com a Carta Magna do país. O órgão também dirá se a oposição pode tentar obter um mínimo de assinaturas para organizar um referendo contra a reforma.
Macron está na Holanda para uma visita oficial de dois dias. Na manhã desta terça, ele e a primeira-dama francesa, Brigitte, foram recebidos com hinos nacionais e honras militares pelo rei, Willem-Alexander, e sua esposa, Maxima. O casal real ainda oferecerá um jantar de Estado aos franceses à noite.
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