Ex-premiê do Paquistão tem prisão temporária decretada sob acusação de corrupção

Protestos a favor de Imran Khan deixaram ao menos dois mortos e centenas de feridos em todo o país

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São Paulo

O ex-premiê do Paquistão Imran Khan foi indiciado nesta quarta-feira (10) sob a acusação de ter vendido ilegalmente presentes do Estado durante seu mandato, de 2018 a 2022, informou a emissora local Geo News. Ele foi preso nesta terça (9), em operação que desencadeou protestos violentos em todo o país.

Autoridades afirmam que o indiciamento baseou-se em decisão da Comissão Eleitoral, em outubro, que considerou Khan culpado por corrupção e o proibiu de ocupar cargos públicos. Ele nega as acusações.

Manifestantes contra prisão do ex-premiê, Imran Khan, em Peshawar
Manifestantes contra prisão do ex-premiê, Imran Khan, em Peshawar - Abdul Majeed/AFP

O ex-premiê foi levado a uma corte de Islamabad. Em audiência a portas fechadas, os promotores primeiro pediram 14 dias de prisão preventiva, mas depois diminuíram o período para oito dias, prazo que poderá ser prorrogado. A prisão de Khan aconteceu após meses de crise política no Paquistão e após ele acusar os militares —que têm grande poder e influência política no país— de envolvimento em um complô para assassiná-lo. A operação levou centenas de apoiadores do político a bloquear ruas e rodovias pelo país.

Ao menos duas pessoas morreram em confronto com a polícia, e centenas ficaram feridas, incluindo 157 agentes de segurança, segundo balanço mais recente. Já o número de detidos passa de 900.

Os policiais usaram gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar os apoiadores de Khan que protestaram nas cidades de Karachi e Lahore. Na capital Islamabad e na vizinha Rawalpindi, os manifestantes bloquearam diversas estradas. Em Peshawar, a multidão destruiu o monumento Chaghi, uma escultura com forma de montanha que celebrava o local do primeiro teste nuclear do Paquistão.

Uma nova operação policial foi deflagrada nesta quarta, e o ex-ministro das Relações Exteriores Shah Mehmood Qureshi, partidário de Khan, também foi preso. Ainda não estão claras quais são as acusações contra ele, e autoridades manifestaram o temor de que os protestos ganhem força.

Numa tentativa de arrefecer a crise, o ministro do Interior, Rana Sanaullah, afirmou que a prisão de Khan "aconteceu de acordo com a lei". Segundo ele, a detenção foi determinada pela principal agência anticorrupção do país, a National Accountability Bureau (NAB), uma organização independente.

Líderes da sigla de Khan, o Movimento Paquistanês pela Justiça, convocaram simpatizantes para novos atos, enquanto policiais enfatizam que uma portaria em vigor proíbe aglomerações com mais de quatro pessoas. Autoridades ordenaram ainda o fechamento de escolas e restringiram o acesso às redes sociais.

Apesar das ameaças, Shah Mehmood Qureshi, vice-presidente da legenda, pediu que os protestos continuem pacificamente e condenou a repressão a manifestantes. O Movimento Paquistanês pela Justiça anunciou ainda que pretende contestar judicialmente a detenção e informou que seus líderes devem comparecer à Suprema Corte. O caso é um dos mais de cem processos registrados contra o ex-premiê ligados à corrupção desde sua destituição, em abril de 2022. Condenações na maioria deles podem impedi-lo de ocupar cargos públicos —as eleições gerais no país estão marcadas para novembro.

Disputas políticas são comuns na nação do Sul asiático, comandada por militares em boa parte de sua história e onde nenhum premiê completou um mandato inteiro. Antes de ser preso, Khan pressionava o frágil governo de coalizão a realizar eleições antecipadas. A prisão também ocorre num momento em que o país sofre com sua pior crise econômica em décadas, com inflação recorde e crescimento baixo.

Em novembro, o ex-premiê foi baleado durante protesto em que exigia eleições antecipadas. O ato fazia parte de sua "longa marcha" que partiu de Lahore em direção a Islamabad —à medida que o comboio passava por cidades, ele subia em um palanque improvisado num caminhão para discursar a multidões.

O atual primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, acusado por Khan de envolvimento no ataque, afirmou que as declarações sem provas "não poderiam ser permitidas nem toleradas"

Com Reuters e AFP

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