Polícia da China registra 1º crime ligado a uso de ChatGPT

Suspeito teria usado inteligência artificial para criar fake news e pode cumprir de 5 a 10 anos de prisão

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São Paulo

A China fez neste domingo (7) aquela que, acredita-se, é a primeira prisão ligada ao uso de inteligência artificial criadora de conteúdo no país, reportou o South China Morning Post nesta segunda (8).

A polícia informou que o suspeito tem sobrenome Hong e foi detido em Gansu, no nordeste do território.

Segundo o órgão, ele confessou ter usado o ChatGPT, da OpenAI, para criar fake news a partir de elementos de notícias que viralizaram localmente nos últimos anos —embora o aplicativo não esteja disponível na China, é possível acessá-lo via VPN, ferramenta que mascara a localização do usuário.

Logo da inteligência artificial criadora de conteúdo ChatGPT, da empresa OpenAI - Dado Ruvic - 31.mar.23/Reuters

A primeira notícia falsa a chamar a atenção das autoridades datava de 25 de abril e afirmava que nove pessoas tinham morrido em um acidente de trem. Variações do texto tinham sido publicadas em ao menos 20 contas diferentes do Baijiahao —espécie de plataforma de leitura de blogs administrada pela Baidu, a equivalente local do Google— e recebido mais de 15 mil acessos àquela altura.

A polícia de Gansu afirmou que Hong será acusado do crime de perturbação pública, que desde 2013 inclui casos de pessoas que publicaram ou disseminaram notícias falsas na internet. A pena prevista é de cinco anos de detenção, embora o período possa ser estendido a dez anos em casos mais graves.

Impor limites para o comportamento das inteligências artificiais é uma dificuldade enfrentada pelo setor como um todo. Mas na China, onde o controle da internet é parte da política de censura do Partido Comunista, o rigor ainda é mais estrito, e o regime veta também a circulação de notícias e informações que desagradem ao governo ou que, na visão deles, possam gerar problemas para a sociedade.

Os termos de uso do GLM-130B, modelo especializado em inglês e chinês da Universidade Tsinghua em 2022, por exemplo, incluem restrições para aplicações que minem o regime do país. "Você não usará este software para qualquer ação que possa minar a segurança ou a unidade nacionais da China, prejudicar o interesse público da sociedade ou infringir direitos e interesses de seres humanos", diz trecho da licença.

O país ainda responsabiliza criadores dos algoritmos por eventuais conteúdos inapropriados gerados.

Além de Hong ser o primeiro suspeito detido por mal uso de um robô de inteligência artificial, o South China Morning Post afirma que seu caso também é o primeiro do tipo desde o lançamento de uma ampla legislação de regulação de inteligência artificial, em janeiro.

Instituída pela Administração do Ciberespaço da China em conjunto com os ministérios da Indústria e Tecnologia de Informação e da Segurança Pública, ela dita que, textos, vídeos e imagens sintetizados por inteligência artificial precisam estar "claramente identificados", de modo a impedir que a população acredite em sua veracidade. Antes, a questão estava a cargo de diversas autoridades diferentes.

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