Prisão de ex-premiê Imran Khan no Paquistão desperta protestos em todo o país

Afastado do poder em abril de 2022, ele foi detido em caso de corrupção e liderava campanha por eleições antecipadas

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Islamabad | Reuters

O Exército do Paquistão prendeu o ex-premiê Imran Khan em Islamabad nesta terça-feira (9) sob acusações de corrupção. O episódio ocorre depois de uma série de tentativas frustradas de prender o líder —e foi sucedido por atos que terminaram com a morte de ao menos um dos manifestantes.

Khan, eleito em 2018 e afastado em 2022, foi preso ao comparecer a um tribunal na capital. Assim que ele atravessou o portão, dezenas de paramilitares o arrastaram pelo braço até uma van preta, e a passagem foi bloqueada por veículos blindados.

Agentes de segurança escoltam carro que leva o ex-premiê do Paquistão Imran Khan até tribunal de Islamabad, onde ele depois foi preso
Agentes de segurança escoltam carro que leva o ex-premiê do Paquistão Imran Khan até tribunal de Islamabad, onde ele depois foi preso - Aamir Qureshi/AFP

Fawad Chaudhry, chefe do partido de Khan, o PTI, descreveu a ação como um sequestro. "Khan foi levado por pessoas desconhecidas para um local desconhecido", escreveu no Twitter. Já o advogado do político, Gohar Ali Khan, afirmou também nas redes sociais que testemunhou seu cliente ser agredido pelos paramilitares, com socos na cabeça e chutes. O governo nega as acusações.

A prisão levou centenas de apoiadores do ex-premiê, também um ex-campeão de críquete, a bloquear ruas e rodovias pelo país exigindo a sua libertação. Vídeos nas redes sociais mostraram uma multidão furiosa invadindo edifícios pertencentes ao Exército em Lahore, cidade onde Khan vive, e protestos eclodiram em Karachi e Peshawar, entre outros.

Enfrentamentos entre a polícia e os manifestantes mataram uma pessoa e feriram outras 12, metade delas agentes da cidade de Quetta, capital da província de Baluchistão, no sul do país. Autoridades em três das quatro províncias do território vetaram reuniões para evitar novos enfrentamentos.

A agência nacional de telecomunicações afirmou ainda que serviços de dados móveis foram suspensos por ordem do Ministério do Interior, e o Netblocks, que monitora redes na internet, relatou que o acesso a plataformas como Twitter, Facebook e YouTube foi restrito.

A prisão se dá um dia depois que as Forças Armadas, consideradas uma espécie de "mão invisível" na política local, divulgaram uma condenação pública ao ex-premiê pelas repetidas acusações que ele fez contra militares. Khan alega que membros do Exército, com o qual antagoniza desde a sua campanha ao cargo de primeiro-ministro, estão por trás de seu afastamento do poder no ano passado e até mesmo de uma tentativa de assassinato.

Em novembro, o ex-premiê foi baleado durante um protesto em que exigia eleições antecipadas. O ato fazia parte de sua "longa marcha" que partiu de Lahore em direção a Islamabad —à medida que o comboio passava por cidades e vilarejos, ele subia em um palanque improvisado em cima de um caminhão para discursar para multidões.

Khan repetiu as alegações na terça-feira, acusando ainda o major-general Faisal Naseer, diretor do serviço de inteligência nacional, o ISI, de ser o mandante do assassinato de um jornalista paquistanês crítico ao governo em outubro, no Quênia. O Exército não respondeu aos pedidos de comentário da Reuters, mas havia negado as alegações do ex-premiê anteriormente.

Segundo o ministro do interior, Rana Sanaullah, a detenção foi ordenada pela agência anticorrupção nacional. O ex-premiê e a esposa são acusados de terem recebido terras no valor de US$ 24,7 milhões (cerca de R$ 123 milhões na conversão atual) de um empreendedor imobiliário acusado de lavagem de dinheiro no Reino Unido.

Khan negou qualquer irregularidade. Segundo a Geo TV, ele será encaminhado a um tribunal especializado nesta quarta (10).

O caso é um de mais de cem processos registrados contra o ex-premiê relacionados à corrupção desde a sua destituição, em abril de 2022. Condenações na maioria deles poderiam impedi-lo de ocupar cargos públicos —as eleições gerais no país estão marcadas para novembro.

A prisão ocorre um momento em que o Paquistão sofre com a sua pior crise econômica em décadas, com inflação recorde e crescimento baixo. Ao mesmo tempo, disputas políticas são comuns na nação do Sul asiático, comandada por militares por boa parte de sua história e onde nenhum primeiro-ministro se manteve no cargo por um mandato inteiro.

O episódio repercutiu internacionalmente. A Casa Branca pediu respeito ao Estado de Direito, desejo também expressado pelo chanceler do Reino Unido, James Cleverly, em viagem oficial a Washington. "Queremos ver uma democracia pacífica no país", disse o britânico.

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