Passageiros do submarino morreram em 'catastrófica implosão', diz Guarda Costeira dos EUA

Equipes de busca encontraram destroços da embarcação nesta quinta; cinco pessoas estavam a bordo

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São Paulo

A expedição às profundezas do oceano Atlântico que começou como uma tentativa de ver os destroços do Titanic terminou nesta quinta-feira (22) com um desfecho quase tão trágico quando o do navio naufragado mais famoso do mundo.

A Guarda Costeira dos EUA informou ter encontrado destroços no oceano e mais tarde confirmou que eles são do submersível Titan. O estado dos materiais é compatível com uma perda de pressão do veículo, o que teria provocado uma implosão e levado à morte os cinco passageiros que estavam a bordo.

"Foi uma catastrófica implosão", disse John Mauger, porta-voz da Guarda Costeira. Foram achadas cinco peças principais do submersível —a primeira delas foi a parte traseira do veículo, localizada por um robô.

O submersível Titan é lançado de plataforma
O submersível Titan é lançado de plataforma - OceanGate Expeditions via AFP

Os ruídos detectados na noite da terça-feira (20) e nesta quarta (21), que deram esperança de encontrar sobreviventes por se assemelharem a batidas que especialistas usariam justamente em situações como essa, não parecem ter conexão com o caso, de acordo com análises da equipe de resgate.

O submersível perdeu contato com a superfície no domingo (18), 1h45 após o início do mergulho para ver os destroços do Titanic. Ainda é cedo para falar quando exatamente ocorreu o incidente, segundo o porta-voz, mas as equipes de resgate não detectaram implosões nas 72 horas em que estiveram no mar.

O contra-almirante John Mauger, da Guarda Costeira americana, informa que destroços encontrados eram do submarino desaparecido - Brian Snyder - 22.jun.23/Reuters

Mais cedo, a empresa OceanGate Expeditions, responsável pelo Titan, havia divulgado nota na qual dizia acreditar que as cinco pessoas a bordo morreram. "Esses homens eram verdadeiros exploradores que compartilhavam um espírito de aventura e uma profunda paixão por explorar e proteger os oceanos do mundo", diz trecho do comunicado.

"Nossos corações estão com essas cinco almas e todos os membros de suas famílias durante esse período trágico. Lamentamos a perda de vidas e a alegria que eles trouxeram para todos que conheciam."

Quem eram as 5 pessoas a bordo

  • Stockton Rush, 61

    CEO da OceanGate, Rush era piloto de jato antes de fundar a empresa de submarinos tripulados em 2009

  • Paul-Henri Nargeolet, 77

    O ex-comandante da Marinha francesa era um dos maiores especialistas no naufrágio do Titanic

  • Hamish Harding, 58

    Fundador do Action Group e presidente da Action Aviation, o bilionário britânico já havia viajado em um voo suborbital

  • Shahzada Dawood, 48

    Pertencente a uma das famílias mais ricas do Paquistão, o empresário morava em Londres e tinha investimentos em setores como energia, agricultura e telecomunicações

  • Suleman Dawood, 19

    Filho de Shahzada, o estudante Suleman dividia com seu pai o interesse por viagens e aventuras

Estavam no Titan o empresário americano Stockton Rush, 61, dono da OceanGate e piloto do veículo, o bilionário britânico Hamish Harding, 58, presidente-executivo da empresa Action Aviation, o empresário paquistanês Shahzada Dawood, 48, vice-presidente do conglomerado Engro, e seu filho Suleman Dawood, 19, e o francês Paul-Henri Nargeolet, 77, mergulhador especialista no Titanic.

Desde o começo da semana, equipes de resgate de diversos países enviaram veículos, equipamentos e pessoal para tentar encontrar o submersível, em uma megaoperação que obteve repercussão equivalente em todos os principais veículos de imprensa do mundo.

A embarcação tinha capacidade de funcionar de forma autônoma, fornecendo oxigênio a seus ocupantes, por 96 horas —prazo que teria se encerrado na manhã desta quinta-feira.

O submersível Titan era dirigido por um controle semelhante ao de videogames, e seu interior era apertado e simples. Rush, da OceanGate, disse à emissora americana CBS que o veículo não exigia muita habilidade para condução. "É como se fosse um elevador." O submersível tinha apenas um botão, que muda de vermelho para verde quando é acionado, e vice-versa. Ao canal canadense CBC Rush mostrou que uma estrutura de metal servia de banheiro ao lado da janela. "É o melhor lugar da casa. Colocamos uma tela de privacidade e aumentamos a música. É muito popular."

Segundo informações do jornal The New York Times, dois veículos controlados remotamente participavam das buscas no entorno dos destroços do Titanic. No final da tarde desta quinta, esperava-se que mais um, com capacidade de chegar a 6.000 metros abaixo da superfície, seria integrado à operação.

O veículo da Magellan, empresa de mapeamento do fundo do mar, estaria sendo transportado do Reino Unido até St. John, na província canadense de Newfoundland de onde zarpou o Polar Prince, navio que serviu de base para o Titan e rebocava o submersível até a área onde ele operaria sozinho.

Os robôs continuarão coletando evidências no fundo do oceano, disse Mauger. A recuperação dos corpos ou dos restos mortais, no entanto, é pouco provável, dada a natureza do acidente e as condições extremas do local.

No momento em que a notícia dos destroços foi compartilhada, Guillermo Söhnlein, que cofundou a OceanGate com Rush —mas deixou a empresa há cerca de dez anos—, estava concedendo uma entrevista à rede britânica BBC. Na conversa, ele compartilhou uma projeção pessimista.

Para Söhnlein, o mais provável é que tenha havido uma implosão a partir do momento em que o Titan apresentou uma falha técnica. "Independentemente do submersível, quando você está operando em profundidade a pressão é tão grande que qualquer veículo, se houver falha, explodirá instantaneamente."

A OceanGate já havia sido alertada por especialistas independentes sobre possíveis falhas em seus modelos, mas rebatia as críticas alegando que estava inovando na área. "Depois de descobrirmos o que houve de fato, temos de tirar lições e levá-las adiante", disse Söhnlein.

A empresa americana cobrou US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) por uma vaga no passeio de oito dias para ver os restos do Titanic, que afundou em sua viagem inaugural após bater num iceberg em 1912. Os destroços do transatlântico, cuja tragédia matou mais de 1.500 pessoas, estão 1.450 km a leste de Cape Cod, no estado americano de Massachusetts, e 640 km ao sul de St. John, no Canadá.

Em um tipo de mórbida coincidência, o CEO da OceanGate, agora considerado morto, era casado com Wendy Rush, descendente de um casal que morreu no naufrágio do Titanic. Segundo o New York Times, Wendy é tataraneta do magnata do setor de varejo Isidor Straus e de sua mulher, Ida. Eles viajaram na primeira classe do Titanic e, ainda que seus personagens não tenham sido nomeados, tiveram suas mortes retratadas no filme "Titanic", de 1997. A obra do cineasta James Cameron foi um enorme sucesso e é considerada uma das produções mais premiadas da história, ao ganhar 11 Oscar.

Sobreviventes do desastre relataram que Isidor Straus recusou um lugar em um dos botes salva-vidas num momento em que mulheres e crianças ainda esperavam para deixar o transatlântico. Ida, sua esposa por quatro décadas, teria dito que não deixaria o marido, e os dois foram vistos de braços dados no convés do Titanic enquanto o navio afundava. O corpo de Isidor Straus foi encontrado no mar cerca de duas semanas após o naufrágio. Já os restos mortais de Ida Straus nunca foram recuperados.

Com Reuters e AFP

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