Descrição de chapéu Rússia

Ex-agente do FBI que atuou como espião russo por mais de 15 anos morre nos EUA

Robert Hanssen foi encontrado morto em sua cela em prisão federal de segurança máxima no Colorado

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Washington | Reuters

O ex-agente do FBI Robert Hanssen foi encontrado morto em sua cela numa prisão federal no estado do Colorado, nos EUA, na manhã desta segunda-feira (5). Apontado como um dos principais espiões da história americana, ele trabalhou por mais de 15 anos para os russos durante e após a Guerra Fria.

Segundo informações do jornal The New York Times, Robert Hanssen foi encontrado inconsciente na prisão de segurança máxima ADX Florence, penitenciária considerada a mais segura do país, pouco antes das 7h no horário local. A causa da morte não foi divulgada.

Robert Hanssen, ex-agente do FBI considerado traidor pelo governo - Reuters

Autoridades locais afirmaram que ele recebeu centenas de milhões de dólares para entregar segredos dos EUA enquanto trabalhava para a polícia federal americana. De acordo com a rede BBC, Hanssen recebeu mais de US$ 1,4 milhão (R$ 6,9 milhões) em dinheiro e diamantes.

Hanssen entrou no FBI em 1976 como agente especial e ocupou vários cargos de contraespionagem que lhe garantiram acesso a informações sigilosas. Em 1985, passou a espionar para a então União Soviética e, depois, para a Rússia. Usava o pseudônimo Ramon Garcia para se corresponder com os russos.

De acordo com o site do FBI, ele usava informações criptografadas e outros métodos clandestinos para fornecer informações à então KGB, organização de serviços secretos da União Soviética, e, posteriormente, para a SVR, o Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia.

Treinado como agente de contraespionagem, passou despercebido por anos. Na década de 1990, após a prisão do também espião Aldrich Ames, um ex-funcionário da CIA, serviços de inteligência americanos perceberam que alguma fonte interna seguia vazando informações confidenciais para Moscou.

Em 2000, os investigadores conseguiram documentação russa original de um espião americano que parecia ter ligação com Hanssen. A investigação que se sucedeu confirmou a suspeita. Nas semanas que antecederam sua prisão, cerca de 300 pessoas estavam trabalhando na investigação.

O agente estava prestes a se aposentar, e o FBI agiu para pegá-lo em flagrante numa ação em fevereiro de 2001. Ele foi detido em um parque, após entregar documentos secretos para comparsas russos. Na época, morava numa modesta casa de quatro quartos no subúrbio da Virgínia com a mulher e seis filhos.

"O que queríamos fazer era obter provas suficientes para condená-lo, e o objetivo final era pegá-lo em flagrante", disse Debra Evans Smith, ex-vice-diretora assistente da divisão de contraespionagem.

Condenado a prisão perpétua sem liberdade condicional, Hanssen estava sob custódia na ADX desde 17 de julho de 2002, após se declarar culpado de 15 acusações de espionagem.

Construída em 1994 no coração de um deserto montanhoso, a prisão é rodeada por torres de vigilância e homens fortemente armados, o que torna praticamente impossível a fuga —não há registro de que alguém tenha escapado da unidade de Florence desde sua inauguração, em 1994.

Os detentos mais perigosos ficam confinados mais de 22 horas por dia em uma cela de cimento e aço de 2,1 metros por 3,6 metros, da qual só podem sair com pés e mãos algemados.

Cada cela austera é dotada de uma cama, uma laje de concreto coberta por um colchonete fino, toalete, pia e bebedouro. Alguns poucos presos têm uma fenda na porta em que pode se ver uma fatia do corredor.

Por tudo isso, o local é conhecido como a "Alcatraz das Montanhas Rochosas". É onde está, por exemplo, o narcotraficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, condenado a prisão perpétua em 2019.

A prisão ADX Florence, ou 'Supermax', no Colorado
A prisão ADX Florence, ou 'Supermax', no Colorado - Jason Connolly - 14.fev.19/AFP

Os exemplos de espionagem russa pelo mundo envolvendo cidadãos do país ou mesmo de outras nações são extensos e também têm casos registrados mais recentemente.

A Polícia Federal brasileira, por exemplo, ligou alerta no ano passado para casos de supostos espiões de Moscou atuando pelo mundo com identidade brasileira. Três casos levantaram a suspeita do uso do país de forma sistemática para formar agentes ilegais pelo governo russo.

Serguei Tcherkasov, detido na Holanda e enviado para o Brasil em maio do ano passado, Mikhail Mikushin, detido na Noruega em outubro, e um suposto espião apontado por autoridades gregas pelo sobrenome Tchmirev se valiam de identidade brasileira para atuar para os serviços de inteligência russos.

Para os investigadores, a facilidade de conseguir uma certidão de nascimento no Brasil e, posteriormente, outros documentos até chegar ao passaporte é um atrativo para as agências de espionagem.

Além disso, a boa receptividade do passaporte brasileiro no mundo é apontada como fator importante para o aumento no número de casos de espiões cujas identidades foram "esquentadas" no Brasil.

Em abril, os EUA pediram a extradição de Tcherkasov, apontado pelo FBI como um agente de inteligência a serviço do governo russo que se passava por brasileiro. Tcherkasov nega ser um espião.

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