Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Homem acusado de ser espião russo se passava por brasileiro na Noruega

Suspeito se apresentava como pesquisador no norte do país; Holanda já deportou homem sob alegação semelhante

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Oslo | Reuters

A polícia da Noruega prendeu nesta segunda-feira (24) um homem que se passava por brasileiro mas é acusado de ser um espião a serviço da Rússia. A informação foi dada pela emissora pública NRK nesta terça (25), citando o PST, serviço de segurança do país nórdico.

O sujeito, que não teve a identidade revelada —só a idade aproximada, entre 30 e 40 anos—, se identificava como cientista na Universidade de Tromsö, no norte do país, mas a polícia acredita que ele na verdade é um cidadão russo.

A vice-chefe do PST, Hevig Moe, disse à NRK que o homem, como espião, representa uma "ameaça aos interesses nacionais fundamentais" e que, portanto, deve ser expulso da Noruega. Sua prisão teve a colaboração de outros países, não detalhados por Oslo. O órgão também não esclareceu se houve um gatilho específico para a detenção.

Helicóptero em patrulha na costa de Tromsö, na Noruega - Saul Loeb - 2.jun.12/Reuters

Em um tuíte, a corporação afirmou que abriu uma investigação sobre o caso, antecipando que o suposto cientista brasileiro é suspeito de violar ao menos dois artigos do Código Penal, envolvendo ações de inteligência que podem prejudicar o interesse nacional e a segurança de outros Estados.

A ministra da Justiça, Emilie Enger Mehl, afirmou à rede pública norueguesa que a pasta, após ser notificada do caso no último dia 20, estuda revogar a autorização de residência do acusado. Ainda segundo a NRK, ele teria chegado ao país nórdico em dezembro de 2021 para um período de pesquisas. Antes disso, teria passado pelo Canadá.

O reitor da Universidade de Tromsö confirmou que foi informado da detenção do pesquisador já nesta segunda.

O PST acredita que ele tenha procurado se estabelecer no país sob uma identidade falsa enquanto trabalhava secretamente para a inteligência russa e seria um "agente ilegal" —responsável por recrutar espiões e preparar o terreno para que eles façam o trabalho tradicional de inteligência.

O órgão teme que o homem tenha reunido uma rede de contatos e informações sobre a região norte do país e que isso seja "usado de forma errada" pelo Kremlin. Suas supostas pesquisas envolviam agências do governo local e o tema de "ameaças híbridas".

Gunhild Hoogensen Gjoerv, chefe do grupo em que o homem atuava, disse que ele tinha como referência o trabalho com um professor que ela conhecia muito bem. "Era um sujeito amável, bom no trabalho. Não havia por que suspeitar de nada", disse à Reuters.

A porção setentrional norueguesa fica próxima do Ártico e da fronteira com a Rússia. A Noruega, que integra a Otan, aliança militar liderada pelos EUA que está no cerne da Guerra da Ucrânia, aumentou a segurança nessa porção de seu território depois do início do conflito, em fevereiro.

Seus vizinhos nórdicos, Finlândia e Suécia, também se movimentaram em decorrência da guerra, abandonando a neutralidade e solicitando a adesão à Otan —ainda não confirmada.

A embaixada russa não comentou o caso à rede NRK. O advogado do homem, Thomas Hansen, disse apenas que ele nega as acusações e discorda da base legal usada para sua detenção. Procurado, o Itamaraty não respondeu à Folha.

O caso norueguês lembra outro de junho, quando a Polícia Federal informou que o russo Serguei Vladimirovitch Tcherkasov, 36, estava sob custódia das autoridades brasileiras e seria processado por uso de falsos documentos após ser deportado pela Holanda, que também o acusava de espionagem.

O Serviço de Inteligência de Amsterdã anunciou na época ter impedido Tcherkasov, que se passava por cidadão brasileiro, de se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, responsável por investigar, entre outras acusações, possíveis crimes de guerra cometidos na Guerra da Ucrânia.

Tcherkasov trabalharia para o GRU, unidade de inteligência militar da Defesa russa, e teria se passado por Viktor Muller Ferreira para entrar em território holandês. O episódio ocorreu em abril, mas só foi divulgado em junho.

Segundo a PF, Tcherkasov entrara no Brasil em 2010 e assumira a falsa identidade de brasileiro, com a qual viveu por anos na Irlanda e nos EUA.

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