Naufrágio próximo à Grécia deixa ao menos 79 migrantes mortos

Segundo testemunhas, vítimas são de Egito, Síria e Paquistão; embarcação teria partido da Líbia

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Atenas | AFP e Reuters

Ao menos 79 pessoas morreram nesta quarta (14) no naufrágio de uma embarcação com migrantes perto da península de Peloponeso, na Grécia, no incidente mais mortal do tipo registrado pelo país desde 2016.

Outras 104 pessoas foram resgatadas e levadas para a cidade de Kalamata, no sul da nação europeia, onde elas recebem atendimento médico —pelo menos quatro estão em estado grave. Não se sabe ao certo quantos migrantes estavam na embarcação, e o número de mortes ainda pode aumentar.

Migrante é levado para hospital em Kalamata após naufrágio próximo à Grécia
Migrante é levado para hospital em Kalamata após naufrágio próximo à Grécia - Eurokinissi via Reuters

Segundo a Guarda Costeira da Grécia, a embarcação navegava em direção à Itália e foi avistada em águas internacionais na noite de terça (13) por uma aeronave da Frontex, a agência de fronteiras da União Europeia. Na ocasião, o barco estava a 80 quilômetros da cidade grega de Pylos, e as pessoas a bordo teriam recusado assistência. Algumas horas depois, a embarcação afundou.

Nikolaos Alexiou, porta-voz da Guarda Costeira, disse que o naufrágio aconteceu em uma das áreas de maior profundidade do mar Mediterrâneo. Segundo ele, o barco era usado para pesca e estava superlotado. "A embarcação tinha entre 25 e 30 metros de comprimento. O convés estava lotado. Damos como certo que [o barco] também estava cheio por dentro", disse à emissora estatal grega ERT.

O Alarm Phone, grupo que recebe chamadas de navios de imigrantes em perigo, disse que alguns relatos mencionaram até 750 pessoas a bordo, número que não foi confirmado pelas autoridades gregas.

As operações de resgate contam com o apoio de uma fragata, de um avião e de um helicóptero das Forças Armadas gregas, além de seis embarcações que já estavam na região. Autoridades dizem que as buscas são dificultadas por ventos fortes e o mar revolto. Testemunhas afirmaram que a maioria das pessoas a bordo era do Egito, da Síria e do Paquistão. Segundo a ERT, a embarcação partiu da cidade de Tobruque, na Líbia, e várias vítimas tinham em torno de 20 anos de idade.

Trata-se do pior naufrágio com migrantes registrado pela Grécia desde junho de 2016, quando 320 pessoas morreram ou foram consideradas desaparecidas após um barco afundar na costa da ilha de Creta.

A Grécia é uma das principais rotas de entrada na União Europeia para refugiados e migrantes do Oriente Médio, da Ásia e da África. Muitos dos migrantes se arriscam em trajetos próximos às ilhas Cíclades e à região de Peloponeso para evitar as patrulhas no mar Egeu, mais ao norte.

Cerca de 72 mil migrantes chegaram pelo mar neste ano a Itália, Espanha, Grécia, Malta e Chipre, segundo dados da ONU. De acordo com a organização, a maior parte desembarcou em território italiano. Muitos depois tentam entrar em países mais ricos do continente usando redes de contrabandistas. Nas águas do Mediterrâneo central, mais de 20 mil migrantes morreram ou desapareceram desde 2014, segundo o Projeto de Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações, um braço da ONU.

A Grécia é acusada com frequência de rejeitar a presença de barcos com migrantes. No mês passado, vídeos que vieram à tona mostraram autoridades gregas deixando 12 migrantes africanos, entre os quais crianças, em um bote salva-vidas em alto mar, configurando uma deportação extrajudicial que viola leis internacionais e regras da União Europeia, bloco ao qual o país pertence.

A Grécia se prepara para eleições nacionais, previstas para 25 de junho. O atual premiê, Kyriakos Mitsotakis, vem defendendo políticas de migração "duras, mas justas" durante a campanha. Em respeito às vítimas, o político decidiu cancelar um comício que estava previsto nesta quarta na cidade de Patras.

O gabinete do premiê interino, Ioannis Sarmas, declarou três dias de luto oficial e acrescentou que os pensamentos do país estão "com todas as vítimas dos impiedosos atravessadores que se aproveitam das desgraças humana.

Já a presidente da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, visitou Kalamata e reuniu-se com os responsáveis pelos resgates e pelos alojamentos disponibilizados aos sobreviventes, enquanto o Ministério da Migração grego culpou as redes internacionais de contrabando por colocar em risco a vida dos migrantes.

Filippo Grandi, chefe do Acnur, agência da ONU para refugiados, instou os governos a trabalharem juntos na criação de caminhos para pessoas que fogem da pobreza e da guerra. Na mesma linha, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que está "profundamente triste" com a tragédia e pediu soluções para a crise dos migrantes na Europa. "Temos de continuar a trabalhar em conjunto, com os Estados-membros [da União Europeia] e com países terceiros, para evitar esse tipo de tragédia", afirmou.

Segundo a Frontex, o número de entradas irregulares em países-membros da UE em 2022 aumentou 64% em relação ao ano anterior e chegou ao nível mais alto desde 2016, quando a cifra foi pouco superior a 500 mil. De acordo com o órgão, no ano passado foram registradas 330 mil entradas em condições ilegais. Cerca de 10% dessas migrações foram realizadas por mulheres, e 9%, por menores.

Também nesta quarta, um veleiro com 80 migrantes a bordo foi rebocado pela Guarda Costeira grega até o porto de Kaloi Limenes, no sul de Creta. Segundo autoridades, a embarcação "navegava com dificuldades".

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