Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia enfatiza confiança em êxito na Ucrânia um dia após motim mercenário

Pequim manifesta apoio a Moscou após maior crise militar em território russo desde década de 1990

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São Paulo

Na primeira entrevista transmitida na televisão após o fim do motim mercenário em solo russo, o presidente Vladimir Putin reiterou confiança na vitória de seu país na Guerra da Ucrânia.

Exibida neste domingo (25), a declaração foi gravada antes da maior turbulência militar na Rússia desde a década de 1990, iniciada na última sexta-feira (23) e encerrada neste sábado (24).

O endurecimento do discurso em relação a Kiev e mesmo das ações militares no país vizinho é visto como uma das consequências possíveis após o motim desafiar a imagem do líder do Kremlin. Também por isso, o timing da exibição da entrevista não parece ser à toa.

O líder mercenário Ievguêni Prigojin deixar quartel-general do Comando Militar Sul, em Rostov-do-Don, na Rússia, após anunciar recuo em motim que havia mobilizado mais cedo
O líder mercenário Ievguêni Prigojin deixar quartel-general do Comando Militar Sul, em Rostov-do-Don, na Rússia, após anunciar recuo em motim que havia mobilizado mais cedo - Alexander Ermotchenko - 24.jun.23/Reuters

"Nos sentimos confiantes e, claro, estamos em posição de implementar todos os planos e tarefas que temos pela frente", diz Putin no vídeo. "Isto também se aplica à Defesa do país, à operação militar especial [como se refere à guerra] e à economia."

Os comentários foram transmitidos pelo canal estatal Rossia sem quaisquer referências à crise com mercenários, que entraram em confronto com forças federais e ocuparam prédios administrativos no sul da Rússia. O motim foi encerrado após negociações entre o governo russo e Ievguêni Prigojin, líder do Grupo Wagner, intermediadas pelo ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko.

O jornalista Pavel Zarubin, que conduziu a entrevista, limitou-se a dizer que a gravação foi feita após uma reunião com lideranças militares, numa aparente referência a um evento ocorrido na última quarta-feira (21). Em comunicado neste domingo, a Defesa russa também não mencionou as ações do grupo mercenário.

Putin disse na entrevista que dedica a maior parte do tempo ao conflito no Leste Europeu. "Todo dia começa e termina com isso."

A crise entre os mercenários e o Kremlin escalou após Prigojin acusar o ministro da Defesa russo de enganar a população sobre a guerra no país vizinho. Pouco depois, acusou as forças russas de atacarem um acampamento do Wagner, o que iniciou o motim.

Como parte do acordo que encerrou a ação, Moscou se comprometeu a arquivar os processos criminais contra o líder mercenário, que agora terá a Belarus como nova residência, segundo disse o Kremlin.

Tropas mercenárias do Grupo Wagner deixaram Rostov-do-Don, cidade que haviam ocupado no início do motim, na noite de sábado, tarde em Brasília, e voltaram para suas bases na região. Vídeos mostram alguns moradores locais aplaudindo os mercenários durante seu recuo.

Neste domingo, Moscou aparentava tranquilidade, mas alguns pontos da capital continuavam fechados, incluindo a icônica Praça Vermelha. O feriado decretado na cidade para segunda-feira (26) está mantido. A "operação antiterrorista" estabelecida após o motim que dá mais poder às forças de segurança também permanece em vigor. Patrulhamentos policias continuavam sendo realizados ao longo da principal rodovia que liga a capital ao sul do país, segundo a agência AFP.

O motim levantou questões sobre eventuais fragilidades no governo Putin, após 16 meses da Guerra da Ucrânia, e esse fator foi absorvido por adversários. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse acreditar que a crise militar na Rússia pode não ter acabado.

O chefe da diplomacia dos EUA lembrou que as tensões entre os mercenários e o governo vinham aumentando havia meses. Também afirmou que a turbulência deve afetar as capacidades de Moscou no país vizinho. "Os russos estão distraídos e divididos, e isso pode tornar mais difícil o processo de agressão contra a Ucrânia", disse à rede ABC.

Já o regime da China, aliado de Putin, manifestou apoio a Moscou. "Este é um assunto interno da Rússia. Como vizinho amigável e parceiro estratégico abrangente de coordenação para a nova era, a China apoia Moscou na manutenção da estabilidade nacional e na conquista do desenvolvimento e da prosperidade", diz comunicado.

Ainda no calor dos acontecimentos, o vice-chanceler russo, Andrei Rudenko, esteve em Pequim com seu homólogo chinês, Ma Zhaoxu. No resumo do encontro divulgado pelo regime, há uma sinalização de que os países, que estreitaram laços econômicos em meio à guerra, precisam se comunicar de maneira ainda mais eficaz.

"Sob circunstâncias internacionais complexas e sombrias", disse Ma, os dois países devem "se comunicar em tempo hábil, garantindo o avanço estável e de longo prazo do relacionamento e salvaguardando os interesses comuns compartilhados por ambos os lados".

As forças especiais da Tchetchênia, que foram enviadas para a região de Rostov-do-Don, estavam se deslocando de volta à Ucrânia neste domingo, segundo o comandante Apti Alaudinov.

Com AFP e Reuters 

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