O governo da Suécia anunciou nesta segunda-feira (12) que vai atender a um pedido da Turquia e extraditar um cidadão turco apoiador do grupo armado curdo PKK —um aceno ao país do Oriente Médio em meio à campanha sueca para entrar na Otan, a aliança militar do Ocidente.
Embora tenha apoio de parte da população curda na Turquia, o PKK, ou Partido dos Trabalhadores do Curdistão, está na lista de organizações terroristas da União Europeia e dos EUA. A extradição de simpatizantes do grupo é uma das principais exigências turcas para ratificar a adesão da Suécia ao clube.
O processo deve ocorrer dentro de quatro semanas, uma vez que o Ministério da Justiça turco tenha sido informado da decisão, afirmou à agência de notícias AFP Ashraf Ahmed, funcionário da pasta correspondente na Suécia. Tal movimento, que acontece semanas após a reeleição do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, era esperado após a Suprema Corte da Suécia aprovar a extradição.
De acordo com o Ministério de Relações Exteriores sueco, autoridades de ambos os países se reunirão na próxima quarta-feira (14) para falar da candidatura da nação nórdica à aliança militar.
Segundo a decisão do tribunal sueco, o simpatizante foi condenado a mais de quatro anos de prisão em 2014 por levar uma sacola com maconha. Quando obteve liberdade condicional por bom comportamento, em 2018, viajou à Suécia, mas foi preso após um pedido da Procuradoria turca em agosto do ano passado.
Ele afirma que a motivação turca não é o cumprimento da sentença, mas seu trabalho pelos direitos dos curdos. Descendentes da Pérsia antiga, eles são a maior nação apátrida do mundo, com população entre 30 e 40 milhões de pessoas, distribuídas em partes dos territórios de Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia.
O homem que será extraditado pela Suécia faz parte do pró-curdo HDP (Partido Democrático dos Povos). Erdogan acusa a sigla de estar ligada ao PKK, o que o HDP nega. Promotores turcos negaram que o cidadão seria investigado sob leis que têm dado ao governo Erdogan capacidade de prender opositores.
Esse não é o primeiro aceno à Turquia, cujo presidente acusou o país escandinavo de ser um refúgio para "terroristas". No início de março, a Suécia apresentou uma lei para endurecer punições a cidadãos ligados de alguma forma ao terrorismo. A medida propunha que quem participar de atividades de um grupo considerado terrorista, apoiá-lo ou financiá-lo seja responsabilizado judicialmente, com sentenças que vão de dois a 18 anos, a depender do nível de participação.
Na sexta (9), promotores suecos acusaram criminalmente outro cidadão turco que teria arrecadado verba para o PKK. Ilhan Aydin, advogado do acusado, disse que o cliente rejeitou as acusações de tentativa de financiar o terrorismo. "Espero que meu cliente não se torne uma peça no jogo das negociações da Otan."
A Hungria de Viktor Orbán também não aprovou a adesão da Suécia à aliança militar —as duas únicas nações da Otan que não ratificaram a entrada do país, que precisa do consentimento dos 31 membros.
A eventual entrada encerrará mais de 200 anos de neutralidade militar da Suécia. Junto com a Finlândia, a nação pediu para ingressar na aliança após a Rússia invadir a Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Erdogan tem relação conflituosa com a Otan, que abriga sua arquirrival histórica Grécia. Único membro do grupo no Oriente Médio, a Turquia apoia Kiev na guerra, mas é aliada próxima e ambígua de Vladimir Putin. "Não queremos repetir erros. Além disso, os países escandinavos são a casa de organizações terroristas. Não é possível sermos a favor", afirmou o presidente turco à época do pedido dos países nórdicos.
A Finlândia se incorporou à aliança em abril —segundo Erdogan, o país garantiu a bênção da Turquia após tomar medidas para reprimir grupos vistos por Ancara como terroristas, em geral opositores e críticos do próprio presidente. O processo da Suécia ainda esbarra em obstáculos, mas a expectativa é que seja finalizado até a cúpula da Otan, em julho.
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