Descrição de chapéu The New York Times

Duquesa vira podcaster e conta bastidores da vida de traições em castelo britânico

Emma, separada do marido, o duque de Rutland, divide o palácio com ele e diz que os dois estão 'na mesma página'

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Elizabeth Paton
Leicestershire | The New York Times

No mês passado, Emma, a duquesa de Rutland, pesou os prós e os contras de morar no Castelo de Belvoir, uma estrutura imponente situada no alto de uma colina arborizada no interior da Inglaterra, com mais de 356 quartos e altas torres. É ali que fica a sede de sua família desde o século 16.

"É magnífico, é claro, e temos muita sorte, mas você nunca sabe quem está aqui. Não há a privacidade que a maioria das pessoas espera ter em suas casas. E nem me fale sobre os fantasmas."

Um funcionário passou com uma bandeira gigante que precisava de reparos antes que pudesse tremular no telhado de 10 mil m2 da construção. No andar de baixo, o salão de chá fervilhava com turistas degustando bolinhos com geleias produzidas na propriedade de Belvoir. Perto dali, um pelotão de picapes saltava pelo campo, recolhendo obstáculos de um recente evento de corrida. Para a duquesa, cujo nome de batismo é Emma Watkins, era um dia como qualquer outro.

Emma Manners, a Duquesa de Rutland, no Castelo de Belvoir, em Leicestershire, na Inglaterra - Alice Zoo - 27.jun.23/The New York Times

Filha de um fazendeiro e nascida na fronteira com o País de Gales, ela se mudou para Belvoir em 2001, quando seu marido se tornou o 11º duque de Rutland, um dos títulos hereditários mais antigos da Inglaterra. Ele pode ter herdado um castelo de conto de fadas, mas também foi taxado em 12 milhões de libras (R$ 75 milhões) por impostos sobre herança e ganhou "batalhões de ratos e funcionários que preferiam os antigos moradores".

Nos anos seguintes, ela negociou acordos de filmagens e eventos, simplificou as operações da propriedade e investiu uma grande quantia de dinheiro em uma restauração para preservar Belvoir para a próxima geração.

A duquesa tem estampado tabloides em razão de seu arranjo marital pouco convencional —ela e o duque estão legalmente separados e vivem em alas diferentes desde 2012. Construções históricas como Belvoir também têm estado cada vez mais no centro de uma inflamada guerra cultural sobre como o Reino Unido deve lidar com seu passado colonial. Mesmo assim, nos últimos tempos, ela tem demonstrado um gosto crescente pelos holofotes.

Em 2020, Emma iniciou um podcast, "Duchess", ou duquesa, no qual entrevista outras duquesas. Uma loja na propriedade, a Duchess Gallery vende roupas de marca, utensílios domésticos, gins, vinhos e cidra. E no ano passado ela publicou o livro "The Accidental Duchess" (duquesa por acaso), uma autobiografia que inclui relatos dos casos amorosos de seu marido e a série de abortos espontâneos que ela sofreu enquanto criava cinco filhos.

Aos 59 anos, ela surge como um dos rostos mais amáveis da aristocracia britânica num momento em que muitos de seus membros preferem permanecer fora do radar. E ela é mais otimista do que a maioria para lavar a roupa suja.

Uma peculiaridade da paisagem cultural do Reino Unido é que muitas de suas casas senhoriais podem receber visitantes mesmo enquanto as famílias proprietárias continuam a morar no local. Cerca de um terço das casas históricas estão sob os cuidados de instituições de conservação, como o National Trust ou o English Heritage, mas o Castelo de Belvoir, em Leicestershire, permanece em mãos privadas.

"Muitas casas foram abertas pela primeira vez após a Segunda Guerra Mundial, quando as famílias precisavam encontrar novos fluxos de renda para pagar as contas das reformas necessárias. Algumas delas foram demolidas porque os proprietários não conseguiam mantê-las", diz Ben Cowell, diretor-geral da ONG Historic Houses, que ajuda a preservar cerca de 1.500 propriedades privadas.

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Castelo de Belvoir, residência familiar do duque de Rutland desde o século 16, em Leicestershire, na Inglaterra - Alice Zoo - 27.jun.23/The New York Times

A partir da década de 1970, mudanças nas leis de impostos sobre heranças tornaram vantajoso abrir as casas ao público durante alguns dias por ano, gerando fundos para os custos de preservação. "Descobrimos que os visitantes realmente adoram ver casas que permanecem habitadas, em vez de serem peças de museu onde ninguém mora", diz Cowell.

Alguns dos visitantes de Belvoir inclusive passam a noite lá, como hóspedes. O local fez as vezes de Castelo de Windsor na série "The Crown", e apareceu em filmes como "O Código Da Vinci" e "A Jovem Rainha Vitória".

O espaço costuma receber hóspedes para eventos de fim de semana e sessões de fotos. Eles podem dormir em quartos suntuosos, vários dos quais foram recentemente reformados, incluindo um que é forrado de papéis de parede pintados à mão. (Réplicas dos papéis de parede podem, é claro, ser encomendadas no castelo.)

A preservação dos papéis de parede costuma ser uma prioridade para a duquesa, que já foi decoradora de interiores, corretora de imóveis e cantora de ópera. É a pedra angular de sua nova iniciativa beneficente, American Friends of Belvoir Castle, que sediará um baile de gala para arrecadar fundos em Palm Beach, na Flórida, no próximo ano.

A reverência americana pelas grandiosas casas britânicas tem sido fundamental para os cofres do castelo. Afinal, Belvoir custa cerca de 1 milhão de libras (R$ 6,3 milhões) por ano "só para ficar de pé", segundo a duquesa. Ela está sempre em busca de doadores. "Os americanos adoram descobrir suas origens, e também amam o peso histórico das coisas aqui. É maravilhoso ter tantos ouvintes de 'Duchess' lá."

Mas por que a duquesa de Rutland, que disse que nem sabia o que era um podcast até a ideia ter sido apresentada a ela, concordaria em entrevistar outras mulheres que dirigem mansões senhoriais, incluindo "lady" Henrietta Spencer Churchill, do Palácio de Blenheim, a duquesa de Argyll, do Castelo de Inveraray, e a condessa Spencer, de Althorp House? Ela não temia que um projeto de nicho, com foco descaradamente elitista, pudesse dar errado? A duquesa parece chocada com a pergunta.

Uma capela privada dentro do Castelo de Belvoir, residência familiar do Duque de Rutland desde o século 16 - Alice Zoo - 27.jun.23/The New York Times

"As pessoas podem gostar de mim ou me odiar, mas nunca fui de me importar com a negatividade dos outros. Em 'Duchess', queria mostrar às pessoas como é ser uma mulher administrando uma dessas propriedades, um trabalho que pode ser muito árduo. Acho que nunca tomei café da manhã na cama nas duas décadas em que moro aqui."

O podcast foi sugerido pela filha mais velha da duquesa, Violet Manners, que teve a ideia quando estudava na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Entrevistadora hábil, a duquesa se tornou uma "apresentadora de luxo", nas palavras dela, e ficou contente de poder fazer sua parte. "Fui criada numa fazenda. Não nasci com um título de nobreza nem sabia nada sobre os mundos da herança ou classe social, mas farei o que puder para que Belvoir prospere enquanto eu estiver aqui."

Certas complicações

Parte desses esforços foi além do que muitos estariam preparados para enfrentar. Em sua autobiografia, a duquesa descreve como chorava ao amamentar seu filho Charles, o herdeiro de Belvoir, quando percebeu pela primeira vez a infidelidade do duque.

Em sua festa de aniversário de 50 anos, em 2009, que tinha como tema os anos 1920, ela teve uma revelação semelhante, que a deixou "como se tivesse levado um soco, sem conseguir respirar".

Ela se trancou na sala de jantar para fumar cigarros, beber vinho e dançar "I Will Survive". Um advogado disse que ela poderia sair de um divórcio com 30 milhões de libras (cerca de R$ 190 milhões na cotação de hoje), mas ela preferiu continuar vivendo no castelo, mas em alas separadas. "É um arranjo muito moderno, mas ao mesmo tempo com muita cara da França do século 18", escreveu Nicky Haslam, designer de interiores e socialite, em um artigo na Vanity Fair.

O duque, que é um grande fã de Donald Trump e foi a favor do brexit, já morou no castelo com várias parceiras desde a separação. A duquesa, por sua vez, manteve um relacionamento com Phil Burtt, o administrador da propriedade, na última década.

Vista de fora do Castelo de Belvoir, residência familiar do duque de Rutland, em Leicestershire, na Inglaterra - Alice Zoo -27.jun.23/The New York Times

"Há certas complicações, mas quando alguma coisa é perfeita?", questiona a duquesa, que disse que sofreu um colapso em 2017. Ela enfatizou que está "muito melhor", graças à ajuda de cristais, reiki e meditação.

Emma diz que ela e o duque estão "na mesma página" e são amigos, além de manterem um acordo que permite que ela continue morando em Belvoir e ocupe a posição de CEO do castelo até os 65 anos. Eles até jantam juntos às vezes.

"O dinheiro não é meu deus", diz ela. "Mas seria horrível entrar para a história como a pessoa que levou este lugar à falência depois de centenas de anos."

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