Governos Lula 1 e 2 tiveram recorde de visitas diplomáticas ao Brasil

Fator foi puxado por política externa ativa do petista, mas também por contexto internacional favorável à movimentação

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São Paulo

Ponto central no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a diplomacia foi intensa em seus dois governos anteriores, durante os quais o Brasil recebeu o maior número de visitas de líderes internacionais para encontros bilaterais da história.

O período que abarca os governos Lula 1 e 2 (2003 a 2010) registrou ao menos 120 visitas de chefes de Estado e de governo, mais que o dobro dos mandatos do antecessor Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e da sucessora Dilma Rousseff (PT).

O presidente Lula, ao centro, ao lado dos presidentes da Colômbia (Gustavo Petro), da Bolívia (Luis Arce), da Argentina (Alberto Fernández) e do Chile (Gabriel Boric) em Brasília, durante a cúpula de líderes da América do Sul organizada pelo petista
O presidente Lula, ao centro, ao lado dos presidentes da Colômbia (Gustavo Petro), da Bolívia (Luis Arce), da Argentina (Alberto Fernández) e do Chile (Gabriel Boric) em Brasília, durante a cúpula de líderes da América do Sul organizada pelo petista - Ueslei Marcelino - 30.mai.23/Reuters

Levantamento da Folha feito a partir de dados do Itamaraty mostra que o país se consolidou como um destino diplomático do primeiro mandato de FHC até o penúltimo ano de governo de Dilma, alvo de impeachment em 2016. Mas a alta se dá nos governo Lula, puxada por visitas de líderes do Mercosul e da África.

A análise considera apenas a presença de chefes de Estado e de governo de cada país, como presidentes ou primeiros-ministros, para encontros bilaterais —assim, não foram incluídas visitas para cúpulas ou eventos internacionais, como a Rio-92 ou as Olimpíadas.

Nos últimos anos, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Brasil voltou a apresentar os índices baixos de visitas registrados nas gestões de Itamar Franco, Fernando Collor e José Sarney e em alguns anos da ditadura militar. Boa parte do mandato do ex-presidente foi marcada por restrições de viagens impostas pela pandemia de Covid.

E o primeiro semestre de Lula 3 já supera os anos de 2021 e 2022 do governo de Bolsonaro em termos de encontros em território nacional.

Reportagem anterior da Folha mostrou que o petista também foi o presidente que mais viajou ao exterior desde a redemocratização.

O feito não se dá apenas em função do ativismo internacional pelo qual Lula é conhecido, mas pela conjuntura da época —tanto internacional como doméstica—, diz Ítalo Sposito, professor de relações internacionais da Universidade Federal do Tocantins.

A América Latina vivia a chamada "onda rosa", com vários países do continente liderados pela esquerda e, assim, aliados do PT. Além disso, Lula priorizou alianças com países lusófonos da África —o que o petista prometeu repetir neste mandato, ainda que não tenha deslanchado na área—, e o Brasil era a sétima maior economia do mundo.

"Lula aproveitou e incentivou a liderança regional que o Brasil se tornou para a América do Sul, algo que começou a ser gestado com FHC", afirma Sposito. Para ele, Lula deve investir em fórmulas semelhantes neste mandato, mesmo que o patamar econômico interno seja bem diferente do de duas décadas atrás.

"O ambiente para ele se colocar é interessante. Há uma crise na democracia liberal no mundo, o que facilita pautas que questionem as estruturas globais, algo que Lula já fez ao questionar o dólar como moeda principal do comércio internacional, por exemplo."

Apesar do apelo de Lula, foi Dilma quem teve a posse mais popular entre chefes de Estado e de governo, com 23 representantes em Brasília para o início de seu primeiro mandato, mais do que os 15 de Lula 1 e os 11 de FHC em 1995 —as segundas posses de FHC e de Lula não contaram com chefes estrangeiros.

No primeiro ano de mandato, Dilma manteve padrões diplomáticos parecidos aos do antecessor, recebendo até visitas de chefes da Austrália e da Nova Zelândia, incomuns em anos anteriores.

Nos anos seguintes, além da crise financeira interna e de maior dificuldade nas negociações internacionais, ela tirou o protagonismo da Presidência em tarefas de relações exteriores.

Já Michel Temer (MDB) encontrou ao menos 12 líderes no país em seu período de governo, com parceiros tradicionais como os vizinhos Paraguai, Chile e Argentina.

Bolsonaro, por sua vez, reuniu-se com líderes ligados à direita global, como os de Israel —o premiê Binyamin Netanyahu veio para a sua posse— e da Hungria, além de nações vizinhas, como Chile, Argentina e Venezuela. No caso venezuelano, porém, esteve com Juan Guaidó, que havia se proclamado presidente do país, não com o ditador Nicolás Maduro, este um aliado de Lula.

Além do presidente de Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, acusado de uma guinada autoritária em seu país, o ex-presidente também se encontrou com José Maria Neves, presidente de Cabo Verde, os únicos líderes da África que vieram ao Brasil para um encontro do tipo nos anos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Desde o início do século 20, países cujos representantes máximos mais visitaram o Brasil são Paraguai, Argentina, Venezuela e Uruguai. Já os visitantes mais frequentes foram Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela, José Mujica, do Uruguai, e Evo Morales, da Bolívia.

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