Lula é recordista em viagens presidenciais e consolida interesse do Brasil na Ásia

Histórico de agendas no exterior de líderes brasileiros mostra diversificação dos destinos e interesses diplomáticos

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São Paulo e Salvador

Os acenos dados pela política externa do Brasil ao mundo têm sido cada vez mais diversos ao longo das últimas duas décadas. Lar dos dois países mais populosos do mundo —Índia e China—, a Ásia ganhou destaque na rota da diplomacia brasileira.

O movimento transcendeu governos e é expresso nas viagens ao exterior de presidentes desde a redemocratização. Levantamento feito pela Folha mostra que a agenda brasileira, antes concentrada na América do Sul, nos EUA e na Europa, voltou-se ao continente asiático. Os dados consideram as visitas de líderes brasileiros a partir de 1956, data inicial das viagens registradas nos arquivos da Presidência.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do líder da China, Xi Jinping, durante viagem a Pequim
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do líder da China, Xi Jinping, durante viagem a Pequim - Ken Ishii - 14.abr.23/Pool/Reuters

A Ásia não chega a superar os principais destinos de líderes brasileiros, que ficam com Argentina —foram 54 viagens ao país desde a segunda metade dos anos 1950— e EUA —51—, mas ganha importância puxada pelo gigante asiático, a China, e pelo Japão, com 11 viagens a cada país.

A diversificação dos destinos ganhou tração nos governos de Fernando Henrique Cardoso, o primeiro presidente brasileiro a visitar 11 países de forma oficial. Mas foi nos governos Lula 1 e 2 que o movimento deslanchou, com 37 novos destinos —14 deles na Ásia, em especial alguns do Oriente Médio, como Israel, Turquia, Síria e Líbano.

"A ambição de elevar o status internacional do Brasil conduziu o presidente a aumentar a diplomacia face a face como instrumento de conquistar apoio nas instituições globais, promover negócios e aumentar a visibilidade na arena internacional", diz Pedro Feliú, professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Sobre a Ásia, Feliú lista a emergência da China e a relação duradoura Brasil-Japão desde os anos 1970 como importantes, além do IBSA, fórum de diálogo que une Brasil, Índia e África do Sul lançado em 2003. "Mas a criação do Brics é o que sacramenta esse processo", explica, citando o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Lula, aliás, retomou uma agenda de viagens frequentes ao exterior no início de seu terceiro mandato. Apenas nos primeiros cinco meses, o petista foi a nove países, tanto para agendas bilaterais, como ocorreu na China, quanto para encontros amplos, como o do G7 no Japão.

Assim, o petista perde apenas para si próprio em seu segundo mandato, quando, nos cinco primeiros meses, fez 10 viagens ao exterior (bem menos diversas —países da Ásia não entraram na rota, por exemplo).

A África, ligada ao Brasil em especial pelos seis países lusófonos do continente, é outra região que cresceu no interesse brasileiro. Mas, diferentemente do que ocorreu com a Ásia, esse movimento não foi duradouro: após Lula, que ampliou as idas à região, o nível de visitas caiu com Dilma Rousseff e Michel Temer. Com Jair Bolsonaro, foi a zero.

A movimentação no exterior, que teve refluxo durante os governos Dilma e Bolsonaro —este atravessado pela pandemia de Covid—, faz parte da chamada diplomacia presidencial, que no Brasil teve FHC como primeiro protagonista, diz Maria Villarreal, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

"O que está por trás disso é um protagonismo ativo do chefe do Executivo para promover sua agenda externa, claro, mas também a busca pela promoção da própria agenda do governo na opinião pública, como se a diplomacia fosse usada para uma espécie de marketing."

Erramos: o texto foi alterado

Infográfico indicava que nenhum presidente brasileiro havia feito uma viagem oficial à Oceania. Dilma Rousseff, entretanto, visitou a Austrália em 2014. A arte foi corrigida.

 

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