Justiça bloqueia política de Biden para migrantes, e governo contesta

Medida havia sido implementada em tentativa de conter imigração irregular nos EUA; ação vale por 14 dias

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São Paulo

A Justiça dos Estados Unidos anulou nesta terça-feira (25) uma política do governo de Joe Biden que aumentou as restrições a solicitantes de asilo no país. A medida havia sido implementada pelo democrata numa tentativa de conter a entrada de pessoas em situação irregular após o fim do Título 42, que previa expulsões automáticas sob justificativas sanitárias na pandemia.

A regra anulada agora tornava inelegíveis para a concessão de asilo todas as pessoas que entraram nos EUA de forma ilegal. Os migrantes passaram a ser obrigados a solicitar refúgio antes de chegar ao país por meio do CBP One, aplicativo que permite agendar hora e local para se apresentar em um posto de entrada. A política foi divulgada pela Casa Branca em fevereiro e entrou em vigor em maio.

Imigrantes esperam do outro lado da fronteira do Arizona
Imigrantes esperam do outro lado da fronteira do Arizona - Mario Tama - 23.mai.22/Getty Images/AFP

A medida, porém, foi criticada por grupos de direitos humanos, que a compararam com as políticas linha-dura adotadas pelo ex-presidente Donald Trump, crítico ferrenho dos migrantes em situação irregular.

Biden assumiu o cargo em 2021 prometendo reverter algumas das medidas restritivas implementadas no governo do republicano, mas, após números recordes de detenções na fronteira com o México, ele também apertou o cerco contra pessoas que entram nos EUA sem autorização.

Só em 2022, 2,6 milhões de pessoas foram flagradas atravessando para o território americano de maneira irregular, número sem precedentes. O fluxo é formado em grande parte por migrantes que fogem da crise na América Latina após a pandemia, acentuada em regiões que já viviam emergências humanitárias, como Venezuela, Haiti e áreas dominadas por criminosos na América Central.

Ao derrubar a regra, o juiz federal Jon Tigar justificou na sentença de 35 páginas que, segundo a lei americana, atravessar a fronteira de forma irregular não é um impeditivo para o pedido de asilo. Ele também disse ser inviável solicitar refúgio em países que não têm como receber um grande número de pessoas, caso da Colômbia ou do México. A ação vale por 14 dias, mas poderá ser prorrogada.

O governo já recorreu da sentença. A equipe de Biden argumentou que milhares de migrantes podem entrar no país todos os meses recorrendo, por exemplo, a novos programas conduzidos por patrocinadores privados que ajudam refugiados. Mas Tigar rebateu acrescentando que esses projetos não estão abertos a todos e que as medidas são "irrelevantes" para a crise na fronteira.

Tigar disse ainda que as evidências apresentadas "sugerem que os migrantes que aguardam no México correm sério risco de violência". O argumento foi ecoado por organizações que atuam com migrantes.

"A cada dia que o governo Biden prolonga a luta pela proibição [de migrantes em situação irregular], muitas pessoas que fogem da perseguição e buscam um porto seguro para suas famílias são deixadas em grave perigo", disse Katrina Eiland, advogada da American Civil Liberties Union, uma das organizações de direitos humanos que entraram com a ação na Justiça para barrar a política do governo americano.

A agência de notícias Reuters relatou no início do mês que centenas de migrantes, incluindo famílias com crianças pequenas, não conseguiam acessar o aplicativo CBP One enquanto esperavam em cidades mexicanas próximas à fronteira com os EUA consideradas perigosas. Grupos humanitários também alertaram sobre a deterioração das condições sanitárias nos locais onde os migrantes se abrigavam.

Nos dias que antecederam o fim do Título 42, milhares de migrantes se aglomeraram na fronteira dos EUA. Em sentido oposto ao esperado principalmente por republicanos, porém, as autoridades registraram queda na cifra de pessoas flagradas em travessias ilegais —211.575 foram abordadas em junho, segundo menor número do ano, segundo a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.

Com Reuters

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