Descrição de chapéu The New York Times África

Chanceler da Líbia se reúne com ministro de Israel, é suspensa e foge do país

Encontro na Itália foi revelado pelo israelense e provocou protestos em Trípoli e críticas em Tel Aviv

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The New York Times

A ministra das Relações Exteriores da Líbia, Najla al-Mangoush, foi suspensa pelo governo e fugiu para a Turquia, segundo autoridades do país, após críticas devido à revelação de que ela se reuniu com o chanceler de Israel, Eli Cohen, quando os dois estiveram em Roma na semana passada.

O anúncio de que o encontro ocorreu foi feito por Cohen no domingo (27). A divulgação desencadeou protestos em Trípoli e outras cidades líbias, e levou o primeiro-ministro, Abdul Hamid Dbeibah, a "suspender temporariamente" Mangoush, que será, segundo ele, alvo de "investigação administrativa". Como vários outros países árabes, a Líbia não tem relações diplomáticas com Israel.

Chanceler da Líbia, Najla al-Mangoush, durante sessão de encontro de ministros das Relações Exteriores árabes em Tripoli, em janeiro deste ano
Chanceler da Líbia, Najla al-Mangoush, durante sessão de encontro de ministros das Relações Exteriores árabes em Tripoli, em janeiro deste ano - Mahmud Turkia - 22.jan.23/AFP

A agência de segurança interna da Líbia confirmou nesta segunda que a chanceler havia deixado o país —e declarando que não a havia ajudado a escapar. Duas autoridades do Ministério das Relações Exteriores, que pediram para não serem identificadas devido à sensibilidade do assunto, disseram que Mangoush voou para a Turquia por questões de segurança.

O Ministério das Relações Exteriores afirma que a reunião em Roma foi "informal e não planejada" e que Mangoush reafirmou o apoio líbio à causa palestina —um dos principais motivos das relações há décadas rompidas.

Em 2020, quatro países árabes retomaram relações diplomáticas com Israel, sob mediação dos Estados Unidos: Bahrein, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Marrocos. A demissão da chanceler líbia, no entanto, mostra como o fim oficial das hostilidades ainda encontra obstáculos tanto no mundo árabe, como em Israel, onde a reunião também recebeu críticas.

A reunião, organizada pela chancelaria da Itália, foi inicialmente saudada como avanço diplomático em Tel Aviv. O Ministério das Relações Exteriores israelense a descreveu no domingo como "histórica" e "o primeiro passo dos laços entre Israel e Líbia".

De acordo com o ministério, Cohen conversou com Mangoush sobre os benefícios potenciais da expansão das relações e a importância de se preservar a herança judaica na Líbia, o que incluiria a renovação de sinagogas e cemitérios judaicos no país. A declaração afirma também que os dois discutiram os laços históricos dos países, a possibilidade de assistência humanitária israelense e cooperação em agricultura e gerenciamento de água.

Em comunicação posterior, nesta segunda-feira (28), o ministério mudou o tom e sugeriu que havia divulgado a reunião somente depois que a notícia já havia sido vazada. Um alto funcionário do governo israelense disse, também na segunda, que os ministros não discutiram a normalização das relações. O ex-premiê Yair Lapid, da oposição ao governo de ultradireita de Binyamin Netanyahu, classificou a maneira como Cohen lidou com o episódio de "amadora e irresponsável".

Já o comunicado da chancelaria líbia descreve a reunião como um encontro casual, que "não incluiu nenhuma discussão, acordo ou consulta" sobre as relações dos países. A nota também rejeita qualquer descrição do encontro como "uma reunião".

Autoridades israelenses afirmam que o encontro havia sido planejado há muito tempo e de que havia um entendimento de que ele seria tornado público, alimentando suspeitas entre os líbios de que o primeiro-ministro havia autorizado a reunião desde o início. Sob anonimato, elas dizem que o compromisso tinha sido discutido com antecedência e planejado por meses.

A reação negativa aprofunda a sensação de crise política na Líbia, que perdura com altos e baixos desde que o ditador Muammar Gaddafi foi derrubado e morto em levante popular em 2011.

O país vive na prática dividido entre dois governos rivais que controlam porções a leste e a oeste do país. Dbeibah lidera o governo a oeste, com sede em Trípoli, onde tem desafiado crescente pressão para que renuncie. O senhor da guerra Khalifa Haftar, que é apoiado pela Rússia, controla território a leste.

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