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China pronta para invadir Taiwan? Série de TV estatal mostra como seria

Newsletter China, terra do meio explica como documentário eleva tensão na região

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Igor Patrick
Washington

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A CCTV, principal canal estatal de TV da China, começou a exibir uma série de oito episódios que relata como o país está preparando seu Exército para atacar Taiwan.

Intitulada "Perseguindo Sonhos" (逐梦, Zhú Mèng), a produção (disponível no Youtube, sem tradução) faz parte das comemorações do 96º aniversário do Exército de Libertação Popular (ELP) e destaca exercícios militares, principalmente ao redor da ilha que Pequim considera uma província rebelde, com depoimentos dramáticos de dezenas de soldados.

A série apresenta simulações de ataques de precisão, além de exibir o Shandong, um dos três porta-aviões da China, navegando em formação com outros navios de guerra.

  • A embarcação tem sido vista no Estreito de Taiwan desde o início do ano, algo interpretado por autoridades taiwanesas como tentativa de intimidação.

A série traz várias menções a discursos do próprio Xi Jinping que há anos promete "unificar" a ilha com a China continental, usando a força caso seja necessário.

No YouTube, plataforma bloqueada na China, os primeiros episódios atraíram dezenas de comentários, a maioria com tom nacionalista. Um dos mais curtidos dizia:

"Pelo bem da nação e das gerações futuras, estamos dispostos a lutar contra o fogo e contra a água e não hesitaremos em fazê-lo". Outro usuário escreveu: "Não temos medo de lutar e de deferir um golpe preciso. Toda vez que vejo a força do meu país, fico inexplicavelmente emocionado".

Reprodução de trecho de uma série de oito episódios que relata como a China está preparando seu Exército para atacar Taiwan
Trecho do primeiro episódio de 'Perseguindo Sonhos' - CCTV/YouTube

Enquanto a retórica chinesa sobe o tom, os americanos dobram a aposta nas decisões relacionadas à ilha. Nesta semana, o governo Biden anunciou que vai prover um pacote de armas de US$ 345 milhões a Taipé, a primeira parcela de um total de US$ 1 bilhão prometidos pelo Pentágono à ilha, a serem transferidos ainda neste ano.

Trata-se da primeira vez que o Poder Executivo ativa uma autorização concedida pelo Congresso americano para transferir equipamento militar diretamente do Departamento de Defesa para Taiwan, incluindo os poderosos drones MQ-9 Reaper e munições. Washington não revelou a lista com as armas que pretende enviar.

Por que importa: o documentário chinês tem uma audiência em mente, o público doméstico. Incitar a retórica nacionalista é uma das formas mais tradicionais do Partido Comunista para angariar apoio popular. A mesma estratégia já foi usada em outras contendas com Austrália, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão.

Isso não significa, porém, que seu efeito esteja limitado aos chineses. Taiwaneses também têm acesso a esse conteúdo, e a sensação de insegurança pode ter um efeito diferente do desejado por Pequim, empurrando os eleitores da ilha na direção de partidos e candidatos que defendem a independência. As próximas eleições estão previstas para janeiro.

Reprodução de trecho de uma série de oito episódios que relata como a China está preparando seu Exército para atacar Taiwan
Trecho do primeiro episódio de 'Perseguindo Sonhos' - CCTV/Youtube

O que também importa

A China manifestou apoio a uma terceira rodada de negociações para estabelecer um plano de paz na Ucrânia, após uma reunião de altos funcionários de cerca de 40 países na Arábia Saudita. O encontro de dois dias em Jidá, que ocorreu após fórum similar em Copenhague, teve como objetivo elaborar princípios para encerrar a guerra promovida pela Rússia. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, expressou esperança de que a iniciativa leve a uma cúpula de paz mundial no outono no Hemisfério Norte. A Rússia não participou do encontro, mas membros de delegações presentes no encontro demonstraram otimismo com a participação chinesa, vista como interlocutora de Moscou.

O Ministério de Segurança do Estado da China postou no WeChat um chamado incentivando cidadãos chineses a "denunciar atividades suspeitas" de estrangeiros que possam indicar espionagem. Quem o fizer será premiado –caso a denúncia leve a uma ocorrência real. Trata-se de mais um passo na nova lei antiespionagem aprovada no mês passado que despertou preocupação de investidores internacionais, assustados com a possibilidade de sofrerem problemas legais dada ao escopo amplo e vago do texto.

O Exército das Filipinas acusou um navio da Guarda Costeira chinesa de bloquear e disparar canhões de água contra um navio de abastecimento filipino no mar do Sul da China, região cuja soberania é disputada por vários países. O incidente ocorreu no sábado, durante missão rotineira de reabastecimento de tropas. A China, por outro lado, acusou os navios filipinos de invadirem suas águas territoriais e navegar "sem aprovação".

Foto divulgada pela Guarda Costeira das Filipinas mostra um navio da Guarda Costeira da China mirando uma embarcação filipina
Foto divulgada pela Guarda Costeira das Filipinas mostra um navio da Guarda Costeira da China mirando uma embarcação filipina - Guarda Costeira das Filipinas/via AFP

Fique de olho

A China acusou os EUA de terem sequestrado dois cidadãos chineses suspeitos de tráfico de drogas. A dupla foi presa em Fiji e extraditada para o Havaí, acusada de negociar produtos químicos usados na fabricação de fentanil. Pequim afirma que os suspeitos foram rendidos e aprisionados sem que antes tivessem tido acesso a consulados ou advogados chineses, apelando para que eles sejam repatriados.

Por que importa: o fentanil é um opióide quase 50 vezes mais potente que a heroína. A droga mata mais de 70 mil americanos anualmente e é produzida com compostos químicos majoritariamente fabricados na China. Empresas chinesas costumam explorar brechas legais para exportar matéria-prima da droga, produzida no México.

Mãos de um homem branco segura cápsulas com metanfetamina, preparadas pelo Cartel de Sinaloa, em Culiacan, no México. Uma das mãos do homem esta com uma luva de plástico branca e outra está sem. No pulso que não veste a luva o homem usa um relógio preto.
Cápsulas com metanfetamina, preparadas pelo Cartel de Sinaloa, em Culiacan, no México - Alexandre Meneghini/Reuters

Os EUA têm batido nesta tecla há anos, e o governo Biden negocia com Pequim formas de barrar a exportação de matéria-prima. Em junho, o secretário de Estado, Antony Blinken, responsável pela diplomacia americana, chegou a sugerir nos bastidores que Washington estaria disposta a remover sanções contra o Instituto de Ciência Forense do Ministério de Segurança Pública da China em troca de maior colaboração para coibir o fluxo de fentanil.


Para ir a fundo

  • Os pesquisadores Alvaro Mendez e Karin Vazquez organizam uma edição especial do Global Public Policy and Governance, revista da Universidade de Fudan publicada pela Springer Nature, que discutirá alternativas aos acordos de Bretton Woods no Sul Global. Pesquisadores interessados em enviar artigos podem ver as condições aqui. (gratuito, em inglês)
  • O Brics Policy Center e a Rede Brasileira de Integração dos Povos realizam no próximo dia 17 o workshop "Os Brics na África e na América Latina: o que esperar da cúpula na África do Sul?". O evento será híbrido e contará com tradução simultânea. Inscrições aqui. (gratuito, com tradução em português)
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